Fez este mês de Março um ano, desde o lançamento de "To Pimp a Butterfly", o terceiro álbum de Kendrick Lamar. O rapper americano vai estar em Portugal, no festival Super Bock Super Rock 2016.
Numa altura em que o movimento “Black Lives Matter” assume contornos importantes, com temas como Ferguson e Mike Brown a serem falados frequentemente nos noticiários de todo o mundo, Kendrick vem dar a sua voz a essa luta com “To Pimp a Butterfly“.
O álbum, lançado em março de 2015, conta-nos a história do rapper, nascido e criado em Compton, uma cidade com uma comunidade predominantemente negra, até ao presente momento, em que dá uso ao seu estatuto e poder para falar sobre as injustiças praticadas sobre essa mesma comunidade nos Estados Unidos.
O álbum inicia com “Wesley’s Theory“, onde, nos primeiros segundos, um excerto da música “Every Nigger Is a Star“, de Boris Gardiner, se faz ouvir, música essa lançada nos anos 70 com o objetivo de mudar a reputação da comunidade negra.
Consequentemente, todas as músicas do álbum contam uma história ou fazem referência a alguma personalidade da comunidade negra, desde Martin Luther King, não esquecendo Tupac e continuando com Michael Jackson.
A influência do jazz neste álbum é visível em “For Free“, onde se sente uma grande presença do saxofone. É neste registo que Kendrick Lamar volta aos tempos da escravatura para lançar uma crítica ao regime que então vigorava (“Oh America, you bad bitch, I picked cotton that made you rich“).
Falhanço e melancolia são as temáticas abordadas em “u”, uma das canções mais sombrias do álbum, contrastando, assim, com “i”, o primeiro single do álbum, que retrata a falta de confiança e de amor-próprio vivida em Compton, porém num tom mais alegre e “dançável”.
O tom positivo do artista continua em “Alright”, o “hino” do álbum, onde pretende transmitir uma mensagem de esperança dirigida aos defensores do movimento “Black Lives Matter”. “We gon’ be alright”, para além de ser cantado no refrão da música, é também um grito utilizado pelos manifestantes que protestavam contra a quantidade de negros mortos pela polícia em 2015.
Tudo neste álbum é polémico, desde a capa que mostra, à frente da Casa Branca, um juiz branco no chão com os olhos tapados por um ‘x’ no meio de um grupo de pessoas a festejar, até à última de todas as músicas. Kendrick usa este álbum para dar voz a uma comunidade que se sente ignorada e injustiçada, tornando-se num dos artistas mais importantes do mundo do hip–hop: assim “To Pimp a Buttefly” é, sendo também o melhor álbum de 2015.
“To Pimp a Butterfly”
Kendrick Lamar
Top Dawg Enternainment; Aftermath Entertainment; Interscope Records
2015