Depois de anos a compor sob o nome Cão da Morte, eis que surge "Cara d'Anjo", o primeiro álbum assinado por Luís Severo.

Faço da minha primeira crítica de 2016 uma retrospectiva do que melhor se fez em 2015. Falo do “Cara d’Anjo”, de Luís Severo – um dos melhores trabalhos nacionais do ano que há pouco se despediu.

Metade dos Flamingos, e outrora “Cão da Morte”, pseudónimo escolhido aos seus 15 anos, Luís Gravito decide agora fazer um upgrade ao nome. No entanto, não foi só no nome que se notou a evolução. A música, também ela, amadureceu. Está mais polida, mais definitiva.

O primeiro álbum na pele do pseudónimo Severo, mas já o quarto de Luís Gravito, “Cara d’Anjo” é um disco que não precisa de muitas explicações. Basta pô-lo a tocar. Por essa mesma razão, não vale a pena alongarmo-nos muito.

Fonte: maquinadeescrever.org

Fonte: maquinadeescrever.org

Voz cativante, coros contagiantes, e sintetizadores a colorir as faixas – são estas as diferentes camadas que nos são apresentados no decorrer do álbum e que contribuem para a atmosfera convidativa deste disco. Para além disso, todos estes elementos estão envoltos ainda num certo charme.

A cereja no topo do bolo, no entanto, são as letras – que elevam as canções a outro patamar. Prestando a devida atenção, podemos sentir-lhe a influência (e, por vezes, semelhança) de músicos como Leonard Cohen e até de Elliott Smith.

O disco guia-nos por momentos diferentes, desde o gingão “Ainda é Cedo” – que é o primeiro single do disco – ao introspectivo “Vida de Escorpião”, passando ainda por reflexões sobre o envelhecimento (“nos vintes que te sabem a velho/ se ainda és adolescente/ o espelho ainda não trouxe a paz”) e por dúvidas que assolam qualquer um (“e se o meu destino é não ver quem eu goste?”, canta-nos em “Lábios de Vinho”).

Fica-se, assim, com a sensação de que, com tempo, nada impedirá Severo de se juntar aos lugares cimeiros do campeonato português de cantautores, a par do Úria, do Fachada e do senhor Cruz, se ele assim o desejar.

Quanto a nós, ficamos com um punhado de canções para adicionar à nossa playlist, e a sentir que ‘nita’ é um elogio completamente válido quando quisermos cortejar alguém.