Depois de dois EP's, Courtney Barnett lançou no final de 2015 o seu primeiro álbum: "Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit"

Courtney Barnett, cantora, compositora e guitarrista, leva-nos para um lugarzinho entre o folk e o indie rock, uma vertente mais alternativa destes estilos musicais, com um toquezinho de grunge e psicadélica. “Sometimes I Sit And Think, And Sometimes I Just Sit” veio em 2015, e poderemos escutá-lo no Palco Heineken, no NOS Alive ’16.

Fonte: fluxpresents.com

Fonte: fluxpresents.com

Começo com “Depreston”. Clico no play e entro num estado de nostalgia, de volta a um local que não conheci, que não senti, mas que soa familiar. Oiço um estilo minimalista onde se nota, não uma poesia comum, mas um talento para transformar o estranho no morbidamente alegre aleatório.

 

A voz de Barnett pode fazer-nos viajar pelo tempo, um pouco falada, arrastada, preguiçosa, talvez, mas cativante. É intrigante a morbidez que se nota nas letras que a australiana canta… não fosse ela mesma a escrevê-las. E há muito que se diga acerca de quem sabe, não só escrever, mas escrever bem. Aos versos ganhamos uma empatia, por serem uma representação da realidade mais objetiva, como podemos ouvir em “Elevator Operator”, ou por serem algo mais pessoal (como em “Pedestrian at Best”, quando canta “put me on a pedestal and I’ll only disappoint you”) que eleva o ordinário ao extraordinário, a olhos vistos.

 

 

Inspirando-se muito em Nirvana, capta num disco só a essência daquilo que é mundano e banal, enquanto faz um duelo entre expectativa e desilusão.

 

Watermarks on the ceiling / I can see Jesus and he’s frowning at me/ I see a dead seal on the beach / The old man says he’s already saved it three times this week” é o que podemos ouvir em “Kim’s Caravan”. É apenas um dos muitos exemplos dos retratos que a artista faz, tendo afirmado ao The Sydney Morning Herald: “Tudo o que canto é acerca de algo que já aconteceu”. E, ainda nas palavras da mesma, a sua música “ajuda a pintar um ambiente” à volta de quem a ouve.

Junta palavras simples, tal e qual como num puzzle, porém ignorando se a combinação é perfeita ou não. Canta-as com uma voz meio desafinada, no entanto mágica. Não o considero um disco de arrebatar qualquer um, mas antes o retrato especial que chega apenas aos ouvidos de alguns. E confesso que tive de o ouvir imensas vezes para descobrir a simplicidade da sua beleza… Mas cheguei lá e conquistou-me.

 

Lançou “I’ve Got A Friend Called Emily Ferris”, em 2012. No ano seguinte saiu “How to Carve a Carrot into a Rose”. Os dois EP’s foram reunidos na compilação “The Double EP: A Sea of Split Peas”, que teve o seu lançamento internacional em 2013. E veio, em 2015, este “Sometimes I Sit And Think And Sometimes I Just Sit”.

 

O Público acha que a Courtney Barnett é adorável. E eu também.