Disponível nas lojas digitais desde outubro, Pirate Route é o primeiro álbum a solo de Colton Benjamin. Após dois anos de viagem entre Lisboa, Londres e Estocolmo, o cantor luso-angolano aliou essa experiência cultural à música e o resultado é um “mapa do tesouro”, que conta histórias de aproximações e afastamentos a pessoas e lugares. Num registo próximo do jazz e dos blues, várias formas de amar marcam as letras do disco. Sail Away é o single de estreia.
ComUM: Fez parte dos projetos Legião Vermelha e Bambs Cooper. No ano passado, lançou o primeiro álbum a solo. Como foi assumir esse novo desafio?
Colton Benjamin: Sem dúvida que esse caminho inicial contribui para a forma como me fui descobrindo. Começou um pouco por brincadeira com a Legião Vermelha e a influência do movimento hip hop nacional no final dos anos 90. Acho que só depois com os Bambs Cooper e as participações noutros projetos comecei a encontrar a minha sonoridade e as relações com a música negra. Era algo de que precisava pela liberdade criativa que acarreta. Acabou por ser um processo natural que resulta neste álbum (que, naturalmente, tem essas diferentes influências).
ComUM: Nos últimos dois anos, passou por Lisboa, Londres e Estocolmo. O Pirate Route é resultado deste percurso?
Colton Benjamin: Costuma dizer-se que viajar é a única coisa que se compra e nos deixa mais ricos. É importante conhecer outras culturas e ter esse contacto com elas de uma forma mais próxima do que aquela que temos num ecrã de televisão ou do computador. Não só pela oportunidade que tive de viajar na construção, como pela minha formação académica de Artes e Culturas Comparadas, vejo nestas relações uma fonte importante tanto ao nível criativo como pessoal.
ComUM: Agora, a pergunta-chave para compreendermos o disco: em que medida se sente um pirata?
Colton Benjamin: A ideia foi traçar este “mapa do tesouro” (Londres, Estocolmo, Lisboa) e utilizar estas experiências para contar a história. Pirate Route acaba por ser o resultado natural do meu amadurecimento a nível artístico e da oportunidade cultural que andou de mão dada com estas viagens. Foi essa “apropriação” de chegar e absorver, de ver essas cidades quase de uma perspetiva dadaísta. Trata ainda algumas das experiências que tive direta ou indiretamente, assim como as aproximações e afastamentos pessoais de quem segue num “roteiro pirata”.
ComUM: Diz-se que foi influenciado pela coleção de vinis jazz e bossa nova que pertencem à sua família. Mas quando é que se apercebeu que queria ser músico?
Colton Benjamin: É curioso que quando tive o primeiro contacto com algumas dessas influências não houve grande ligação. Só quando as revisitei mais tarde me apaixonei. Na adolescência, por volta dos 14/15 anos, quando criei as primeiras letras e com o início da Legião Vermelha, comecei a pesquisar e ouvir com maior regularidade essas sonoridades.
ComUM: O que é preciso para escrever uma canção?
Colton Benjamin: Tanto a arte literária como musical têm as suas regras que é importante conhecer, para as podermos seguir ou refutar. Como autor, acabei por criar algumas rotinas nesse processo que gosto de seguir, mas sem dúvida que existem muitos caminhos para uma obra final. Acho que o mais importante é que o que se queira transmitir seja verdade, isso sente-se quando se ouve.
“O mais importante é que o que se queira transmitir seja verdade.”
ComUM: Nas suas canções, o romance está sempre muito presente. Por que razão nos parece que há sempre algo mais a dizer sobre o amor?
Colton Benjamin: O primeiro tema que foi escrito (que acaba por ser o último tema do álbum) talvez tenha dado o mote para a forma como foi construído. Não foi um objetivo, mas a verdade é que 80% do álbum fala de diferentes formas de amor. Foi algo que esteve presente neste processo, houve afastamentos e aproximações no plano físico pelos locais onde me encontrava e achei interessante tocar nesses sentimentos em relação às pessoas que ficavam em Lisboa e às que ia conhecendo por Londres e Estocolmo, e contá-los na primeira pessoa.
ComUM: Qual é o seu maior desejo profissional?
Colton Benjamin: Os desejos são poder continuar a contar estas histórias ao maior número possível de pessoas (partilhar esses momentos em palco dá-me imenso prazer). E [também quero] continuar escrever e a fazer música de uma forma natural e muito pessoal como tenho feito ao longo dos últimos anos noutros projetos. Entretanto já se vão criando coisas novas, mas o foco principal neste momento é o Pirate Route.