“Portugal-Velho” é o nome do álbum que Rui Rodrigues, formado em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho, acaba de lançar. O tema de avanço deste disco a solo, “Zé Pereira”, conta com a participação dos Galandum Galundaina e pretende homenagear todos os percussionistas tradicionais.
“É um disco que não representa a maioria a produção musical que conhecemos”, revela o percussionista ao ComUM. Uma produção musical totalmente liderada por um baterista foi, para Rui Rodrigues, “uma aventura criativa”. “Homem muito honesto, franco e leal” é o significado da expressão “Portugal-Velho” e o baterista, formador e compositor de 36 anos, vê nela o espelho da sociedade portuguesa. “Achei que era, de facto, uma expressão que caracterizava muito bem os portugueses, para o bem e para o mal. O povo português é extremamente hospitaleiro, simpático mas, por vezes, não consegue ser assertivo, revelando uma espécie de “imaturidade” social e cultural”, esclarece.
Num álbum onde a percussão é o foco e as melodias, harmonias e letras são secundárias, nomes de peso como Adolfo Luxúria Canibal, dos Mão Morta, Ronaldo Fonseca, dos peixe:avião, Alessandra Liberalli, dos Monstro Mau, entre muitos outros, colaboraram nos arranjos e acompanhamentos, tarefa que, geralmente, cabe aos percussionistas.
“Zé Pereira” foi o primeiro tema lançado, em parceria com os Galandum Galundaina. Segundo Rui Rodrigues, o termo português “Zé Pereira” está “estritamente ligado às festividades do Carnaval no Brasil”, o que demonstra a dimensão internacional da influência da cultura portuguesa mas o seu “fraco reconhecimento dentro do nosso país”. “Esta foi a forma que eu encontrei de, por um lado, prestar homenagem aos tocadores, e, por outro, trazer alguma visibilidade à necessidade de reconhecimento nacional sobre este fenómeno tão enraizado na nossa cultura”, explica o autor.
O cofundador da associação “Bombos com Alma” e autor dos livros “Manual de Percussão Tradicional” e “A Toque de Caixa” considera que “ser músico é sempre um desafio”. Na opinião de Rui Rodrigues, o desafio de ser percussionista no mundo não se cinge ao facto de se conseguir viver exclusivamente da música mas prende-se com a definição do próprio baterista acerca da profissão. “Quem se vislumbrar como um executante de acompanhamento muito certamente nunca irá produzir obra e, dessa maneira, será até difícil assumir-se enquanto artista”, acrescenta.