As guitarras arranhadas continuaram lá e a voz áspera também. As sinfonias da Remix Ensemble foram a novidade que se juntou ao som cavernoso dos Mão Morta. De um lado, a banda. Do outro, a orquestra. Um concerto inédito que deu novas roupagens às músicas da banda de culto bracarense, esta sexta-feira, no Theatro Circo. Tudo terminou com uma estrondosa salva de palmas em pé.

Não foi um desfile de “hinos” com uma sobreposição erudita das músicas originais da banda bracarense. Foi antes um revisitar de canções germinadas ao longo dos mais de 30 anos de carreira dos Mão Morta que ganharam nova vida pela mão da orquestra da Casa da Música, Remix Ensemble.

À direita do palco, a banda. À esquerda, a orquestra. De um lado, o maestro Pedro Neves a liderar. Do outro, Adolfo Luxúria Canibal. O cenário estava assim completo. Das pautas, comandadas pelas mãos do maestro, emanaram os primeiros sons de frente para a plateia que ocupava aquela sala centenária. Ainda com as guitarras desligadas, Adolfo soltou as primeiras palavras ao ritmo balançado do seu corpo, que se agitava à volta do tripé. “Facas em Sangue” foi a escolha para o início desta viagem que começou nos anos 90, mas cedo rumou a 2014.

Do mais recente disco – Pelo meu relógio são horas de matar -, seguiu-se “Pássaros a Esvoaçar”. Adolfo voou para longe do tripé que suportava o microfone. De pés assentes no limite do palco, de olhar apático sobre o público, o vocalista contorcia-se ao compasso da composição que soava.

“O tempo não espera por mim (…) o tempo não espera por ninguém”, ouvia-se “AUM”. No final da canção, o frontman da banda lembrava o pretexto daquele concerto: encerramento das celebrações do centenário do Theatro Circo.

A intensidade subia. O arco do contrabaixista começava-se a desfazer, enquanto Adolfo falava do que odeia com o tema “Destilo ódio”.

“Berlim”, “Penso que penso”, “Hipótese de suicídio” e “Vamos fugir” protagonizaram novos momentos de grande densidade na sala. As guitarras graves lideram e as majestosas melodias da Remix Ensemble elevaram a experiência dos presentes na sala. As muitas palmas no final de cada música falaram por si.

Para acabar, foi a vez de um tema “bem conhecido”, um dos mais antigos dos Mão Morta: “1.º de Novembro”. Mais de 01h30 depois, o Theatro Circo levantava-se para uma longa ovação a este casamento.