O regresso a uma casa onde se foi feliz. Esta expressão podia encaixar que nem uma luva a Nuno Pedroso. Depois de passagens pelo Reino Unido e pela Madeira, o base de 37 anos voltou ao Minho e ao BC Barcelos, vestindo novamente as cores do clube da cidade do “galo”.
A ligação à formação barcelense já não é nova, mas a história de Nuno Pedroso começou a 40 km de distância. Guimarães foi o berço do base na modalidade, onde começou a dar os primeiros passos no extinto Basket Clube de Guimarães, equipa que deu origem ao Vitória SC. Inspirado pelos jogos da Liga Portuguesa e da NBA, admite que ganhou na televisão “a motivação e a inspiração para iniciar a prática do basquetebol”, acabando por experimentar com 13 anos de idade.
“Fui ganhando um pouco aquele gostinho e depois na escola, com os amigos, desenvolvi a paixão, até que fui convidado para um treino do Basket Clube de Guimarães”. Desde esse ponto, embarcou numa carreira em que a primeira paragem fora de Portugal, foi em Espanha, ao serviço do Vigo.
“Foi uma experiência totalmente nova, muito diferente do que estava habituado, mas foi muito gratificante. Eu tinha os meus sonhos quando iniciei a minha carreira e sem dúvida a minha ida para Espanha foi um daqueles objetivos que eu consegui atingir”, conta. Apesar de nunca ter atuado no escalão máximo do país vizinho, considera que a qualidade de divisões secundárias, como a extinta LEB Bronze (quarta divisão), era, naquela altura, “equivalente ou até talvez superior à Liga Portuguesa”.
No entanto, acabou por voltar a Portugal, passando pela Madeira e pouco depois chegando ao BC Barcelos, que atuava na Proliga. Um projeto que o agradou e através do qual viria a ajudar a equipa barcelense a subir à principal divisão portuguesa. “Na altura, apresentaram-me um projeto muito interessante, que era o de subir à Liga só com jogadores portugueses. Correu bem e esse objetivo foi conseguido, o que foi algo que se calhar ninguém estava à espera.”
As memórias da subida de divisão acabaram por ser um fator importante para o regresso a Barcelos, quatro anos depois. O experiente base destaca “o carinho” pelas pessoas e pelo clube, como um dos motivos que o convenceram a voltar.
Mas antes do regresso, o estrangeiro voltou a ser uma realidade. O destino foi o Reino Unido, onde defendeu as cores do London Lions. O jogador minhoto confessa que “ficou surpreendido pela positiva” com a qualidade da liga, destacando a aposta num jogo com “muito um contra um, contra-ataque e muito show”.
Apesar das experiências a nível internacional, acabou por nunca ser chamado à seleção portuguesa, considerando ser o único objetivo traçado, que não conseguiu realizar. Ainda assim, o jogador minhoto não revela qualquer mágoa, reconhecendo todo “o valor aos colegas que representaram a seleção”
Após a saída de Nuno Pedroso do BC Barcelos, a formação minhota não mais desceu de divisão e alcançou, no ano passado, a melhor classificação de sempre no principal escalão: o terceiro lugar. Para o base, a evolução da turma minhota deve-se “ao trabalho que é feito por quem está a frente do clube” e pela consciência de “não dar um passo maior que a perna”.
Aliado a isso, realça o “trabalho rigoroso nas escolhas”, pois se a equipa não tiver “os jogadores certos e o treinador certo não há milagres.”
Escolhas essas que o BC Barcelos se viu obrigado a fazer, depois de uma temporada em que apenas dois jogadores permaneceram no plantel. A aposta em jogadores jovens foi o caminho a seguir e os resultados começaram aparecer, com a turma barcelense a marcar presença no grupo dos primeiros da Liga Portuguesa de Basquetebol.
O momento atual é algo que o jogador português “não esperava” no início da temporada, mas constata que a “evolução da equipa é notória”. “Nós começámos de uma forma e fomos, semana a semana, evoluindo e conseguindo, aos poucos, os nossos pontinhos, as nossas vitórias, reformulando os objetivos constantemente, até chegarmos ao lugar em que estamos”, atira.
Se o clube parece crescer de forma sustentada, o mesmo não se pode dizer do basquetebol português. Para Nuno Pedroso a “dinamização é uma das lacunas” da modalidade e dá os exemplos de Espanha e Reino Unido, onde a visibilidade é maior e os pavilhões estão “cheios”, aspetos que contribuem para que haja “mais gente a praticar e mais gente a querer praticar”.
A época ainda está longe de conhecer o seu fim e o BC Barcelos ainda tem difíceis compromissos em perspetiva. O basquetebolista minhoto tem consciência disso e alerta que a equipa vai competir com equipas “mais completas, com outras condições e habituadas a todos estes confrontos”, mas deixa um aviso: “vamos até onde nos deixarem”.
Texto: Daniel Costa e Nuno Leite
Imagem: João Pereira e Norberto Valente