O auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva acolheu no passado dia 28 o escritor Pedro Chagas Freitas no âmbito do programa “Um Escritor Entre Nós”, que procura aproximar os autores literários dos leitores. Num registo informal e que contou com a participação da audiência, o autor de “Prometo Falhar” revelou nunca ter tido a ambição de ser escritor, mas sempre viu a escrita como “o pretexto para mudar o mundo”. “Para mim, um escritor era uma criatura isolada. Nunca quis ser escritor”, confessou.
“O gajo que vai escrevendo umas cenas”, como se autoapelida, reforça a inconformidade com a monotonia e padronização da escrita, pelo que recusa a ideia de “escrever sempre a mesma coisa”. Prefere criar sempre mais e de forma diferente. “Quero inventar outras coisas para fazer. É uma urgência”, exclamou o autor em defesa de uma ode à criatividade permanente em qualquer obra que reflita a necessidade de escrever e que está inerente à sua “existência biológica”.
Com 21 obras publicadas e mais de 150 “espalhadas por casa”, o escritor assume a escrita como a maior certeza que tem na vida e não esconde a frustração nos dias em que não escreve. “Quando não escrevo, sinto-me uma fraude”, admitiu. Acrescentou ainda que “a escrita é um ato natural que não serve para ajudar os outros”, mas admira que as palavras se cruzem com o quotidiano dos leitores. Chagas Freitas não encobre, ainda assim, o desejo de chegar ao maior número de pessoas, pelo que considera “fundamental saber como chegar às pessoas”.
Quando questionado sobre a obra com que mais se identifica, o autor apontou o livro “In Sexus Veritas” e justifica esta “difícil escolha” com o tempo que lhe dedicou para que fosse produzido. “Esse está mais no meu coração porque vivi mais de perto com ele”, afiançou.
Em retrospetiva, o vimaranense relembrou o percurso académico e profissional. Deslocou-se para Lisboa para estudar linguística, criou jogos didáticos, foi barman, operário fabril, porteiro de discotecas, jogador de futebol, escreveu para o jornal “A Bola” e trabalhou em agências de publicidade. Como copywriter, desenvolveu projetos para o Pingo Doce durante dois anos.
A conversa foi moderada por Aida Alves, diretora da biblioteca, que realçou a importância deste contacto entre escritores e leitores, e terminou com uma sessão de autógrafos do autor.
Beatriz Pinto
Ricardo Cardoso