É muito raro um título e uma capa de um livro me levarem a querer ler o mesmo. Contudo foi o que aconteceu com “As pessoas felizes lêem e bebem café”. Da autoria de Agnès Martin-Lugand, esta obra mostra-nos uma pequena historia sobre a morte, a perda, o amor e a nossa incessante procura pela felicidade.

Diana é uma mulher que perdeu o marido e a filha num acidente de carro, e a esta obra dá-nos a conhecer o processo de recuperação emocional de Diane, o luto e a tentativa de voltar a encontrar a felicidade.

Fonte: parlonsinfo.fr

Fonte: parlonsinfo.fr

O leitor, logo nas primeiras páginas, é confrontado com a morte de Colin e Clara (marido e filha de Diane, respetivamente). O início do livro é como um furacão: a morte do marido e da filha, o funeral ao qual Diane não compareceu, o ano que Diane esteve fechada em casa e a vida de isolamento em que viveu… Tudo isto em 30 páginas. E é talvez das principais coisas negativas que tenho a apontar: a rapidez com que os factos são relatados e, sobretudo, a rapidez com que as personagens mudam o seu comportamento.

Por exemplo, (e sem querer ser spoiler) Edward é uma outra personagem do livro. É-nos apresentado como uma pessoa insensível, bruta, quase violenta, sem coração e absolutamente mal-educada. Num abrir e fechar de olhos torna-se na pessoa mais fofa e adorável do mundo. A autora, claro, apresenta motivos para tal mudança, mas não convencem. E o mesmo acontece com Diane. Num momento está a chorar desalmadamente pela morte do marido e filha, bebe e fuma compulsivamente, não fala com ninguém, limitando-se a sobreviver. São estas, e outras, bipolaridades que descredibilizam um pouco o livro. Não quero dizer que estas mudanças não possam acontecer, podem, claro que podem, mas é preciso mais tempo, mais páginas (muitas mais páginas) para que o leitor possa acompanhar a mudança e o amadurecimento da personagem.

Particularmente, acho que a autora aborda o tema da morte e do luto de uma forma quase insensível. Sendo uma psicóloga clínica, pensei que conseguisse tocar no assunto de uma forma diferente, longe dos habituais clichés mas também sem roçar a indiferença.

Fonte: paris-normandie.fr

Fonte: paris-normandie.fr

Contudo, “As pessoas felizes lêem e bebem café” também tem aspetos positivos. O tema, só por si, é bom. O sofrimento de Diane é comovente, pelo que é impossível ficar indiferente a tudo o que ela pensa e sente na pós-morte do marido e da filha. É também um livro de reflexão: reflexão sobre a efemeridade da vida, que tantas vezes temos como garantida mas que, num ápice, nos pode tirar aqueles que mais amamos. E é por isto que, várias vezes me identifiquei com Diane. Perder as pessoas que consideramos mais importantes na nossa vida. Como se sobrevive a isto?

No fundo, acho que a autora queria transmitir a ideia de que a vida dá-nos segundas oportunidades, que podemos, e devemos, aceitar o que é colocado no nosso caminho; que somos mais fortes do que pensamos e que todos merecemos ser felizes.

As pessoas felizes lêem e bebem café” é um livro q.b.. Não é uma grande obra dramática que nos põe a chorar baba e ranho; não é uma grande obra reflexiva que nos leva a questionar tudo na nossa vida. Contudo, é um livro que nos leva a parar e pensar e é um livro que se lê muito facilmente, pois tem uma escrita muito leve e um tema interessante.