Quando a advocacia criminal e a música se encontraram, nasceu o projeto Brito Ventura & Os Desalinhados. Depois do álbum “Até sempre”, marcado por um registo acústico, chega agora, às plataformas digitais, a sonoridade elétrica de “Outra Vez”. Mas esta etapa não trouxe só o lançamento de um novo trabalho: há a estreia de um tema em inglês e o início da parceria com a editora Farol Música. No meio destas mudanças, o objetivo mantém-se: “fazer músicas simples para pessoas simples”.
ComUM: Em que medida é que o novo trabalho pode ser considerado uma continuidade do disco anterior “Até sempre”?
Brito Ventura: Creio que existe uma ligação de continuidade entre os dois discos, na medida em que, por um lado, há um conjunto de canções simples e diretas, em que a melodia anda a par e passo com a letra. E também na medida em que ambos são discos despidos de pretensões.
ComUM: A componente elétrica que o “Outra vez” nos traz marca um novo registo? Ou foi uma experiência que não perdurará necessariamente?
Brito Ventura: Admito que a existência de uma maior componente da eletrónica e das guitarras elétricas neste segundo álbum – algo que não estava tão presente no primeiro, enquanto álbum mais acústico – marca um novo registo dos Desalinhados. Todavia, creio que este novo registo é apenas mais uma das valências que a música dos Desalinhados pode apresentar, demonstrando que sentimo-nos tão à vontade no modelo mais acústico como no modelo mais elétrico.
ComUM: Como é que o público recebeu o álbum?
Brito Ventura: A recetividade tem sido muito boa, até porque, até ao momento, tenho-me apercebido que as pessoas não se sentem defraudadas com esta linha de continuidade: há um conjunto de canções com as quais se identificam e partilham momentos da sua vida.
ComUM: O disco tem um tema em inglês – o “The Reason”. Esta escolha pode ser vista como uma tentativa de chegar a públicos mais diferenciados? Ou só assim a mensagem específica daquela canção faria sentido?
Brito Ventura: Acima de tudo, foi um desafio a que me propus: compor uma canção em inglês e perceber em que medida as pessoas iriam reagir. Na certeza, porém, de que nos iremos manter fiéis à nossa língua, porquanto nela conseguimos transmitir mais fielmente o que sentimos e como sentimos.
ComUM: Como é que se desenrolou o processo de produção do novo trabalho?
Brito Ventura: O processo de produção deste nosso segundo trabalho foi idêntico ao do primeiro, em que inicialmente surgiram as canções escritas e compostas no meu isolamento e com a minha guitarra. Depois seguiu-se a fase de apresentação das canções ao meu produtor, Paulo Ferro. Em conjunto, analisámos quais as melhores roupagens para essas canções e, finalmente, deu-se o processo de gravação em estúdio com os demais membros dos Desalinhados, até chegarmos ao produto final.
ComUM: Mudou recentemente de editora. Agora trabalha com a Farol Música. Porquê esta mudança?
Brito Ventura: A mudança representou, no fundo, uma nova etapa dos Desalinhados, na medida em que houve uma forte aposta por parte da Ada Rocha e da Cláudia Macara da Farol. Acreditaram no meu trabalho e permitiram-me dar continuidade a este meu gosto muito particular de escrever canções.
ComUM: “A vida são dois dias” já não é apenas um chavão, mas também o single de apresentação do novo álbum. Por que é que a expressão faz sentido para si?
Brito Ventura: “A Vida São Dois Dias” é o tema de apresentação do nosso novo álbum e esta música representa de alguma maneira a minha forma de estar na vida. É o lema que sustenta a minha vontade de continuar a escrever canções e de fazer música.
“A minha principal fonte de inspiração é a própria vida (…) o ser e o nada que nos torna simultaneamente complexos e singulares.”
ComUM: O que é que o inspira?
Brito Ventura: A minha principal fonte de inspiração é a própria vida – a minha e dos que me rodeiam, os seus encontros e desencontros; o ser e o nada que nos torna simultaneamente complexos e singulares. Enfim, nós.
ComUM: Agora, a pergunta que deve estar cansado de ouvir, mas que é um “mal” necessário: como é que um advogado criminal se torna músico?
Brito Ventura: O Brito Ventura é um advogado criminal de profissão, que encontra refúgio na música enquanto espaço e momento de reflexão e libertação. É o momento em que se soltam as amarras e podemos navegar mar adentro sem rumo nem destino, pelo que a advocacia é a minha profissão e a música é a minha paixão.
ComUM: O que é que podemos esperar do Brito Ventura & Os Desalinhados nos próximos tempos?
Brito Ventura: Nos próximos tempos, o que poderemos esperar do Brito Ventura & Os Desalinhados é que, enquanto houver pessoas que gostem de nos ouvir, iremos continuar a compor e a fazer música simples para pessoas simples: porque a vida é assim: “este quadro pintado num poema sem fim”.