A sexta noite do Enterro da Gata’16 ficou marcada pela atuação de Capicua. Antes do concerto a rapper portuguesa esteve à conversa com o ComUm e afirmou estar bastante expectante para o seu primeiro concerto numa festa académica minhota.
ComUM: Como surgiu o nome Capicua?
Capicua: Quando comecei a fazer rap tinha de ter um nome de código porque quase todos os rappers têm um nome de código. Capicua surge porque me chamo Ana – Ana é uma palavra que se lê de trás para a frente da mesma maneira como os nomes capicua. Depois gostei do facto de ser uma palavra composta que vem do catalão e significa cabeça e caudal que é a ideia de pescada com o rabo na boca, aliás a cobra com o rabo na boca foi a capa do meu primeiro disco. Essa espécie de haver um eterno retorno faz com os fins nunca sejam um fim, sejam sempre um recomeço. Acho essa ideia otimista e, portanto, gostei do som da palavra, do significado dela e da sua dimensão gráfica – a circularidade.
ComUM: Como surgiu o hip hop na tua vida?
Capicua: Comecei a fazer graffiti com 15 anos, depois a conhecer muita gente do hip hop nas festas de que existiam na altura no Porto. Comecei a conhecer os rappers, os B-boys, os dj´s, todos os elementos da cultura hip hop. Consumi rap, nomeadamente Dealema, Mind da Gap e ,mais tarde, comecei a querer escrever também as minhas próprias letras.
ComUM: No teu site oficial pode ler-se que és uma MC militante. Qual a tua visão sobre uma Mc militante?
Capicua: Eu acho que o rap, como qualquer outro ato criativo, necessita de uma militância, uma disciplina, uma entrega, uma dedicação, quase como se fosse uma missão a cumprir.
ComUM: Utilizas a tua música também para mudar a opinião da sociedade tem da mulher?
Capicua: Sim, eu acho que os temas femininos, também, estão muito presentes na minha música e, de certa forma, são uma das temáticas mais importantes do meu trabalho nos últimos tempos e isso faz com que nos concertos esse tema também seja muito marcante. Os meus temas também refletem as minhas preocupações sobre os temas que envolvem a mulher, não só em Portugal, mas em todo mundo. Eu tento ser o mais espontânea possível e cultivar também algumas caraterísticas que não são muito estimuladas nas mulheres. Por exemplo estar em cima de um palco a dar a opinião sobre as coisas, afirmando-se como donas do seu percurso. Não estou aqui para ser um elemento “agradavelzinho”, venho para dizer coisas, para ser eu própria. Quero conseguir transmitir isso a outras mulheres e pessoas em geral. Quero que sejam livres desses condicionamentos impostos culturalmente todos os dias.
ComUM: Onde vais buscar a inspiração para as tuas músicas?
Capicua: Em tudo! Nas conversas que tenho com os meus amigos, filmes, livros, na música de outras pessoas, em sonhos. Por exemplo, a Sereia Louca nasceu de um sonho. Tudo pode ser um gatilho para a inspiração.
ComUM: Qual das tuas músicas melhor te descreve?
Capicua: A música que vou dizer não é a minha música favorita do meu reportório, mas as rimas, essas sim, considero que me definem. Essas rimas estão na música “Casa no Campo” que diz: Quero uma horta do outro lado da porta /E quero a sorte de estar /pronta quando a morte me colher/ Quero uma porta do outro lado da morte/ Ter porte, de mulher forte quando a vida me escolher.
ComUM: Também escreves letras para outros artistas. Quem gostarias que te pedisse para lhe escreveres uma letra?
Capicua: Muita gente! Eu já escrevi fado para a Gisela João e gostava de escrever para mais fadistas porque acho que os fadistas têm uma boa relação com as músicas, parecida com a dos rappers, no sentido em que não se limitam a dizer palavras, eles cospem-nas com muita intensidade. Eu acho que esse respeito pelo poema, essa carga emocional que é dada às palavras faz-me identificar muito com isso. Por isso, gostava muito de escrever para os fadistas da nossa praça, António Zambuja, Ana Moura… Tanta gente!
ComUM: Sendo que é a tua primeira vez no Enterro da Gata, que expetativas tens para esta noite?
Capicua: É divertir-me e fazer com que as pessoas se divirtam também. De todas as vezes que vim a Braga gostei muito e espero que hoje também seja como das outras vezes que cá estive, ou seja, ter um público caloroso e que as pessoas se entreguem ao concerto. A expetativa é que seja tão bom ou melhor do que já tem sido a minha experiência em Braga.
ComUM: Sendo que tu também já foste estudante universitária, que conselhos tens para dar aos estudantes que hoje vão estar a assistir ao teu concerto?
Capicua: Que se divirtam o mais possível enquanto estudam. Não estejam a decorar só informação, mas aprendam ferramentas para ajudar na vida futura, para poderem investigar e aprender o que quiserem. Devem encarar a Universidade como um espaço de pensamento, discussão debate, troca de informação.