Entre 2008 e 2015, passaram pelo “Gatódromo” bandas como The Hives, Kaiser Chiefs, James e La Roux. Além destes nomes internacionais, também passaram Wraygunn, os barcelenses Glockenwise, os Peixe:Avião de Braga, Paus, e Bed Legs. Black Mamba é uma presença constante na semana académica do Minho. No entanto, e depois de anos de excelentes bandas, o Enterro da Gata’16 esqueceu-se de dar música aos seus estudantes.
Todos os anos, vários nomes bem conhecidos da música portuguesa repetem a sua presença de Norte a Sul em queimas e enterros, e verdade seja dita, nunca nos cansamos de os ver. Antes de entrarmos na universidade, muitos estudantes achavam impossível gostar de Quim Barreiros; hoje, ficamos arrasados se não vemos o “Tio Quim” fazer comentários sexuais subliminares. Isso e anunciar que Medicina ganhou o cortejo na UMinho.
Mas tenho visto um padrão nos cartazes dos últimos anos. A abrir os primeiros dias, deixaram de estar artistas que consolidaram o seu crescimento nos grandes palcos, e são agora cabeças-de-cartaz em muitas festividades. Agora, os cartazes do Enterro da Gata adaptaram-se aos novos consumos musicais. E quando digo “novos consumos”, quero dizer aqueles músicos que têm a “música do momento”, “o single do verão”, o “top nacional”. E isto vale-lhes uma entrada gratuita no recinto.
O problema não é o Enterro da Gata dar espaço aos artistas que ouvimos na rádio durante o ano. O problema é que, este ano, a música da moda encheu o cartaz. Monumentalmente.
Não há um único nome internacional (tirando o brasileiro Gabriel, o Pensador). O hip-hop reina no cartaz, com os nomes de Agir, Dengaz, DJ Ride, e Gabriel, o Pensador. A música industrial está demasiado presente neste cartaz. É frustrante ver este alinhamento – é o culminar de uma visão musical em Portugal que despreza a boa música por parte de pequenas bandas, e que prefere encher as festas académicas com cantores “do momento”. Com o patrocínio de: Mega Hits.
Ver este processo acontecer no coração do Minho é ainda mais angustiante. Algumas das melhores bandas regionais do país estão mesmo ao lado, em Barcelos, Guimarães, Famalicão e Braga. Numa altura em que os Glockenwise vão a Lisboa para actuar no Rock in Rio, e bandas como os Paraguaii e Grandfather’s House crescem cada vez mais, é impossível não ficar descontente por estas bandas não terem um lugar no cartaz.
É verdade que a AAUM tem feito um bom trabalho com o concurso UMplugged, dando oportunidades a bandas de garagem de actuar no palco do Gatódromo. E a habitual presença dos Black Mamba é uma lufada de ar fresco para quem quer ouvir boa música durante a semana. Mas não chega uns portugueses alternativos.
O que mais me perturba é a ausência de qualquer valor internacional. Esta é uma semana em que é necessário cativar estudantes e público fora da Universidade do Minho, e para uma semana académica por onde já passaram Kaiser Chiefs e The Hives, bandas de rock com uma reputação internacional bem consistente, é francamente insuficiente não haver uma banda estrangeira no cartaz.
Se o Minho quer competir com as outras festas académica, precisa de fazer bem melhor. A Queima das Fitas do Porto é mesmo ao lado, trazendo consistentemente bons nomes internacionais (apesar de ter um cartaz muito semelhante à UMinho). Este ano, apresenta os veteranos Skunk Anansie, e antes, já nos tinha presenteado com James Arthur, MGMT, e Franz Ferdinand, que passaram memoravelmente pelo Queimódromo em 2010.
Sabemos que a AAUM tem um orçamento de 4,5 milhões de euros; sabemos que houve lucro no ano passado de 80 mil euros; e é dito e sabido que o Enterro é uma enorme fonte de receitas. Mas talvez por isso, ficamos ainda mais irrequietos com um cartaz que não demonstra um grande esforço financeiro. Sim, haverá uma nova sede para a AAUM, e isso será dispendioso, mas a elevada protecção em torno de todos os patrocinadores da semana académica, tanto no recinto como no cortejo, deveria demonstrar que estes asseguram uma grossa fatia financeira, capaz de dar aos estudantes da universidade algo mais atractivo.
Quando olhei para o cartaz deste ano, fiquei tudo menos aos saltos. Pior, fiquei indiferente. Fora a minha participação no comboio humano pedido pelo “Tio Quim”, passarei o Enterro da Gata nas barracas. E se não tivesse que ajudar na barraca, não sei se daria 35 euros por este cartaz.
Mas que isto não motive o leitor a não ir. Apesar de tudo, Enterro é Enterro. E haverá sempre cerveja fresca no cortejo. Monumentalmente fresca.