As taças são competições imprevisíveis. Nestas provas, nem sempre as formações favoritas conseguem vencer, tombando algumas vezes perante adversários de menor valia. Mas mais do que isso, estas provas podem significar um ponto de viragem no crescimento de uma equipa. Será que os recentes triunfos dos clubes minhotos serão um prenúncio para a conquista de campeonatos? A resposta chega quarta-feira.
Há dias que ficam sempre gravados na nossa memória, sejam por motivos pessoais, profissionais ou simplesmente porque a equipa que apoiamos acabou de ganhar um título importante. Nesses momentos, sentimos o mundo aos nossos pés e passamos a imaginar futuras conquistas, acreditando que aquele triunfo pode catapultar o nosso clube para outro nível.
Num país monopolizado pelos “três grandes”, o espaço fica curto para as outras formações, que são obrigadas a “cerrar os dentes” para conseguirem morder os calcanhares aos maiores clubes portugueses. Esta temporada, as equipas minhotas não se intimidaram, conquistando títulos que, na maior parte das vezes, parecem apenas estar destinados a Benfica, Porto e Sporting. Podem estes sucessos significar uma mudança de paradigma no desporto nacional?
A resposta não é fácil, mas parece inequívoco que as equipas minhotas estão a revelar um crescimento pensado e equilibrado. Prova disso, são as três mais recentes conquistas de OC Barcelos, ABC/UMinho e SC Braga.
Na cidade do “galo”, os jogadores do Óquei foram os primeiros a entrar em festa, depois do triunfo do conjunto barcelense na Taça CERS. A jogar diante do seu público, o OCB bateu os espanhóis do Matera e do Vilafranca, voltando a vencer uma competição europeia que fugia há 21 anos. Depois de várias épocas com prestações longe dos anos dourados do clube minhoto, a turma orientada por Paulo Freitas tem registado uma evolução assinalável, estando de novo presente nas grandes decisões.
Já em Braga, os dias também são de felicidade. Depois da conquista da Taça de Portugal no ano passado, o ABC/UMinho quebrou a malapata das finais europeias perdidas, alcançando a primeira vitória de sempre numa prova a nível internacional. O plantel às ordens de Carlos Resende levou para casa a Taça Challenge, após derrotar o Benfica na eliminatória decisiva da competição.
O triunfo deixou a cidade a suspirar por mais e o SC Braga acabou por seguir o rasto. Um dia depois do triunfo da formação academista, os “Guerreiros do Minho” voltaram a levantar a Taça de Portugal, 50 anos depois da última vitória. Escaldados pela derrota de há um ano diante do Sporting, os jogadores minhotos viram os fantasmas da última final a aparecerem ao de cima, mas desta vez os pupilos de Paulo Fonseca foram mais eficazes, e com a ajuda do novo herói Marafona – defendeu dois penáltis – trouxeram o caneco para Braga.
A qualidade tem andado por cá e os triunfos refletem o bom trabalho realizado na região. Mas apesar das vitórias nas taças, os recentes sucessos dos clubes minhotos ainda não se traduziram em títulos de campeão nacional. O maior investimento promovido pelos “três grandes” nas várias modalidades, nos últimos anos, é um fator que coloca ainda mais dificuldades aos restantes emblemas, obrigando as equipas a reinventarem-se para tentar combater com as mesmas armas.
No entanto, o desporto minhoto pode estar a um pequeno passo de voltar a celebrar um triunfo no campeonato. Nove anos depois da última conquista, o ABC está a uma vitória de vencer o título do escalão máximo do andebol português, necessitando de vencer o Benfica no quinto e decisivo jogo da final.
Alcançar esse objetivo vai ser uma tarefa árdua, mas um eventual êxito da equipa bracarense será também uma vitória para os projetos desportivos do Minho. Tal como vimos com o triunfo do Leicester no campeonato inglês de futebol, se a alma, a ambição e o talento estiverem presentes tudo se pode tornar possível, independentemente de estatutos e orçamentos. Quem sabe se não estará no Minho um dos próximos contos de fadas do desporto português.