Coube ao pai do rock português a honra de fechar as Monumentais Festas do Enterro da Gata. Antes do concerto, Rui Veloso esteve à conversa com o ComUM, onde falou do que pretende fazer no futuro e deixou uma mensagem de inconformismo aos estudantes.
ComUM: A última vez que esteve aqui connosco foi no Enterro da Gata em 2011. Como se sente em voltar à academia minhota?
Rui Veloso: Sinto-me bem, um bocadinho mais velho [risos]. Muito bom, o som estava bom hoje à tarde, vamos fazer hoje uma coisa nova que normalmente não fazemos… Vai correr bem, está aí muita malta…
ComUM: Uma boa parte do público que hoje o vai aqui ver ainda não era nascida quando começou a sua carreira. Qual é a sensação? Isso motiva-o?
Rui Veloso: Uma coisa é certa: eu há 35 anos quando comecei não contava estar aqui hoje, aqui, em Braga, em lado nenhum… É muito curioso eu estar aqui, 35 anos depois ainda vir pessoal assistir aos concertos, acho incrível… É bom, é o meu trabalho, ainda bem! Tenho sorte de continuar a fazer aquilo que gosto ainda durante uns anitos e tal… Agora toco menos, vou aproveitar o resto da minha vida para viajar mais… Aqueles planos que a gente tem de fazer…
ComUM: Como é que é cantar para um público de Enterro da Gata? Quais são as maiores diferenças?
Rui Veloso: Isso depende muito da hora destas coisas, não é? Se for às nove da noite é uma coisa, se for à uma da manhã a coisa já muda. A malta é sempre porreira, está sempre bem animada, o pessoal gosta das músicas, canta as músicas… O que interessa para nós em cima do palco é cumprirmos com a nossa função, fazermos o melhor que pudermos e tocarmos bem, isso é que é fundamental: cantar bem e tocar bem.
ComUM: Nos seus últimos concertos tem homenageado Prince. Por alguma razão em especial?
Rui Veloso: Porque eu adorava o Prince, eu sou muito fã do Prince, tenho quase tudo de Prince e o Prince é uma inspiração para mim. Portanto, eu vou ouvindo os discos do Prince e ele era fora de série, um artista para mim completamente fora de série. Em todos os aspetos: desde o cenário, até aos filmes, até à música, ele tocava tudo, todos os instrumentos, som, produção, ele era um artista muito completo. A voz, que era extraordinária, não é? Ainda por cima, foi a minha casa! Isso é que foi giro. Esteve lá em minha casa e não deu para tirar fotografias, foi uma pena, senão eu tinha hoje uma fotografia dele à porta do meu estúdio. Eu adoro as músicas dele e, outro dia, como nunca tinha tocado, toquei e provavelmente hoje, se calhar, também toco aí uma coisita de Prince.
ComUM: Após 10 anos, lançou no ano passado dois inéditos. Como é que acha que está a ser a reação do público às novas músicas?
Rui Veloso: Não sei, nós vamos tocar aqui o Romeu e Juliana, que é a música do Gil e do Monge… O pessoal está a gostar e nós estamos a gostar de tocar isso em cima do palco. Mas eu, este ano, provavelmente depois do verão, vou-me pôr a gravar mais duas musiquinhas novas… Para ir introduzindo uma outra música nova, porque o pessoal quer ouvir as músicas antigas e depois é difícil tocar músicas novas, não é? É uma coisa que pessoas como eu, já mais velhas e com carreiras longas, sofrem, não é? Não sou só eu, o Elton John, o Paul McCartney, aquela malta toda… Eu próprio vou ver o Paul McCartney e quero ouvir aquelas músicas dos Beatles. Portanto, nós temos de agradar a nós, mas também agradar aos outros, tenho de fazer ali uma mistura de coisas.
ComUM: Que diferença há entre o Rui Veloso dos tempos do “Chico Fininho” e o Rui Veloso dos dias de hoje?
Rui Veloso: Ui! É só ver as fotografias! [risos] Muito mais magrinho, a minha barba branca, pronto, os anos vão passando, é uma chatice… Ir para velho é uma chatice, tenho muito mais dores do que tinha, antigamente não tinha dores, agora… Tinha dores de alma e dores do coração, agora já não tenho tanto, felizmente. Essas agora são para vocês, bem feito! [risos]
ComUM: Ao fim de 35 anos de carreira, o que é que ainda lhe falta fazer?
Rui Veloso: Viajar, é o que eu quero. Ver coisas, ver concertos, há muito poucas coisas cá que me interessam… E aqui não há muita coisa, há muitos festivais. Viajar e ver coisas, ver músicos bons, ver jazz, ver blues, ver outras coisas… Cá, pelos vistos, os festivais estão a secar tudo, não é? Mas, aqui as queimas agora converteram-se em quase últimos redutos de concertos em que não há 100 bandas, há quatro, pronto, ótimo, à moda antiga, isso é muito fixe…
ComUM: O Enterro da Gata, numa palavra.
Rui Veloso: É uma coisa fantástica, vir a Braga, eu adoro vir a Braga. Eu já vim tantas vezes a Braga, toquei no outro estádio não sei quantas vezes, eu adorava o outro estádio, o 1º de maio… Eu fartei-me de tocar em Braga, sempre adorei.
ComUM: Qual é a mensagem que gostaria de deixar aos estudantes da academia minhota?
Rui Veloso: Façam barulho, batam com os tachos e com as panelas! Este ano estamos numa situação muito má, os bancos e esta gente toda a fazer offshores, a pôr o dinheiro lá fora e a malta toda a pagar. Está mal, o pessoal novo tem de se revoltar contra isso, tem que mandar vir contra esta gente. Alguém tem que acordar isto, não é? Vocês são o futuro, batam com os tachos e com as panelas, pelo menos!