A BalconyTV Lisboa considerou-os “Banda do ano 2015”. A “New In Town” colocou-os no grupo dos “8 artistas musicais desconhecidos que tem mesmo de conhecer”. São três e são surfistas. Compõem ao som do rebentar das ondas do mar da Ericeira, mas o nome é escocês. À amizade que une os INSCH, junta-se a vontade de fuga da incerteza, das frustrações, dos amores, dos desamores e da saudade. Com reminiscências de Deftones, o álbum de estreia, “Safe Heaven”, já está disponível nas plataformas digitais e “sem medo de carregar forte na distorção ou de ter uma música praticamente acústica”. O ComUM esteve à conversa com o vocalista e guitarrista Tiago Duarte.

ComUM: A 12 de maio os INSCH apresentaram o novo álbum no Estúdio Time Out em Lisboa. Como viveu esse evento?

Tiago Duarte: Foi o concretizar de um sonho, daqueles recônditos e profundos que evitamos falar por não saber se alguma vez se vai realizar. Amigos e desconhecidos aderiram em massa e foi um momento muito bonito, sentimo-nos muito acarinhados, com uma grande ligação das pessoas às músicas (apesar de só estarem disponíveis há uma semana).

ComUM: O que é que nos traz este “Safe Haven”?

Tiago Duarte: Traz-nos (ou leva-nos) numa viagem muito honesta e crua. Pode soar mal mas, antes de mais, compomos para nós mesmos, sobre as nossas alegrias e cicatrizes muito pessoais. Portanto o que ali está é uma viagem às nossas vidas, tem muito dos três, sem medo de carregar forte na distorção ou de ter uma música praticamente acústica.

ComUM: O álbum contou com o contributo de António Côrte-Real dos UHF e Wilson Silva dos More Than A Thousand na produção. Pedro Lousada dos Blasted Mechanism também participou. Como é que avalia estas colaborações?

Tiago Duarte: No caso do António e do Wilson, o álbum tem naturalmente muito deles também, pelo que nos ajudaram e fizeram evoluir ao longo dos seis meses de pré-produção e captação. Passámos muito tempo com eles a trabalhar as músicas e mesmo já em estúdio desafiaram-nos a experimentar muitas coisas novas, em todos os instrumentos que se ouvem. O papel deles foi muito de trazer desconforto com uma visão de fora, ajudando o som a chegar onde tinha de chegar. No caso do Pedro, aceitou o desafio de gravar uma introdução ao álbum e foi fantástico trabalhar com ele: é daqueles músicos que em 15 minutos saca um som com uma intensidade que não deixa ninguém indiferente.

ComUM: Os INSCH compõem as músicas na Ericeira. Todos os elementos da banda já foram surfistas. A presença do mar ali ao lado é sempre uma inspiração ou já se tornou banal?

Tiago Duarte: Não acreditamos que pudéssemos ter escrito ou criado estas músicas em qualquer outro lugar. Não que tenhamos todos lá nascido ou que as músicas falem diretamente da Ericeira, mas há sempre uma “vibe” muito forte de ondas e mar que traz aquela calmaria, aquela sensação que só tens quando estás perto do oceano. A praia e o mar nunca serão banais.

ComUM: Mesmo sendo difícil colocar-se no lugar de ouvinte e esquecer que está envolvido na produção das músicas, o que é que sente ao ouvir os temas dos INSCH?

Tiago Duarte: Ganhar distanciamento face à nossa música é um exercício muito difícil, mas se tal fosse efetivamente possível com sucesso [risos], pensamos que as sensações predominantes seriam “intensidade” (nos riffs, nas explosões dos arranjos), honestidade (nas letras, na composição) e aspereza (nas distorções e na presença do baixo).

“A banda e a música acabam por ser território sagrado (…)”

ComUM: Em gaélico escocês, “insch” significa “abrigo”. Do que é que os elementos da banda se refugiam?

Tiago Duarte: Da vida, com tudo o que ela representa. Das nossas incertezas, frustrações, amores e desamores, das amizades, crescimento e saudades. A banda e a música acabam por ser território sagrado em que falamos e compomos sobre tudo, mas de uma forma que nos torna mais fortes.

ComUM: Como é que tiveram conhecimento da existência dessa palavra?

Tiago Duarte: Queríamos um nome acima de tudo com significado, pelo que não tivemos pressa e deixámos a coisa rolar, quase como se o nome viesse ter connosco. A ideia de tentar o gaélico escocês foi do Manel (baixista), que tinha ouvido dizer que é uma língua cheia de significados. Literalmente começou a ver uma lista de localidades e palavras escocesas e, quando nos sugeriu “insch”, a aceitação foi imediata.

ComUM: Em entrevistas anteriores, reconheceram que o público associa as vossas músicas aos sons de outras bandas. De que grupos musicais estamos a falar? Essa identificação com outras bandas é incomodativa ou é aceite como algo natural?

Tiago Duarte: A associação a outras bandas orgulha-nos muito, mas não é algo que procuremos, isto é, é natural que se sintam as nossas referências na música que compomos, não somos estéreis ao que nos rodeia, não queremos é soar demasiado como esta ou aquela banda. As referências mais habituais são bandas de grunge dos 90s… Silverchair, Bush, Alice In Chains, com um cheiro de Deftones.

ComUM: O que é que os INSCH gostariam de dizer e que nunca lhes perguntaram?

Tiago Duarte: Gostaríamos muito, talvez já depois de velhinhos e da banda ter acabado, de explicar exatamente o episódio, cicatriz ou pessoa em que cada canção se inspira. A maior parte das personagens das nossas músicas não sabe que o é e um dia era giro poder agradecer o facto de nos terem tocado ao ponto de nos levarem a escrever sobre isso.

“Continuamos a ter tudo por fazer, palcos por tocar, cicatrizes para expiar.”

ComUM: O que podemos esperar dos INSCH nos próximos tempos?

Tiago Duarte: Exatamente o mesmo que podiam esperar até aqui. Gravar o álbum e estar nas lojas não nos mudou individualmente nem mudou nada na banda, continuamos a ter tudo por fazer, palcos por tocar, cicatrizes para expiar. Agora temos um bocadinho mais de experiência e de responsabilidade, mas encaramos cada concerto com a mesma atitude.