A versão inédita de um poema de Fernando Pessoa foi encontrada num caderno de viagem do escritor José Osório de Castro Oliveira, avançou a Folha de S. Paulo.
A versão final de um poema de Fernando Pessoa foi encontrada pelo advogado brasileiro José Paulo Cavalcanti Filho. O bibliófilo e autor da obra “Fernando Pessoa – Uma quase-autobiografia”, comprou um livro de viagem do escritor e crítico português José Osório Oliveira a um alfarrabista, no ano passado. O manuscrito do poema de Pessoa encontra-se na última página da obra.
A notícia, divulgada no passado sábado pela Folha de S. Paulo, avança que o alfarrabista português queria vender um “livro de autógrafos” com um poema de Fernando Pessoa, e procedeu à venda sem perceber o real valor da obra. “Nem o dono do caderno nem o alfarrabista sabiam que o poema era inédito. Senão, teria custado três vezes mais”, disse Cavalcanti Filho ao jornal brasileiro. A quantia paga não foi revelada.
A obra de José Osório de Castro e Oliveira é datada de 1913 e é composta por mensagens escritas por passageiros que viajavam do Rio de Janeiro em direção a Lisboa, nesse ano. O escritor, com 13 anos na altura, terá pedido aos viajantes que escrevessem o que quisessem no caderno. Em 1918, José Osório Oliveira fez o pedido a Fernando Pessoa, que lhe cedeu a versão final do poema.
“Cada palavra dita é a voz de um morto” é o primeiro verso do poema do qual apenas se conheciam rascunhos. A versão completa também não consta no acervo do escritor, guardado pela Biblioteca Nacional de Portugal.
O poema
Cada palavra dita é a voz de um morto.
Aniquilou-se quem se não velou
Quem na voz, não em si, viveu absorto.
Se ser Homem é pouco, e grande só
Em dar voz ao valor das nossas penas
E ao que de sonho e nosso fica em nós
Do universo que por nós roçou
Se é maior ser um Deus, que diz apenas
Com a vida o que o Homem com a voz:
Maior ainda é ser como o Destino
Que tem o silêncio por seu hino
E cuja face nunca se mostrou.