Guimarães voltou, pela sexta vez, aos tempos em que ainda era o berço de Portucale. Desde a passada quinta-feira até domingo que a cidade esteve revestida de peles, ferro e palha daqueles que outrora viveram na época medieval.
Este ano, a temática da Afonsina foi o Reencontro de Valdevez. O ano de 1141 data um momento competitivo entre os primos D. Afonso Henriques e D. Afonso VII de Leão, na disputa de terras para os seus condados. A recriação da batalha foi espetáculo para todos os visitantes da cidade que tiveram lugar privilegiado, no Campo de S. Mamede, em frente ao Castelo de Guimarães.
Mas a feira não se fez só de batalhas. Representou-se de forma “autêntica e genuína” os tempos do primeiro Rei de Portugal, diz-nos o presidente da Câmara Municipal, Domingos Bragança. Para além da singularidade de ter “este ato fundador da nacionalidade”, Guimarães apresenta, através do seu centro histórico, “um cenário único no país”, explicou o presidente.
Em cada canto do centro histórico, os visíveis vestígios ancestrais lá estavam representados por entre os guardas que vigiavam a cidade, por entre as barracas dos mercadores ou mesmo nas meretrizes e nos pedintes que não tiravam os olhos de quem por estes e por estas passava.
Vários locais recuperam o espírito de há cerca de 900 anos atrás. O Arraial era o lugar onde os militares treinavam. O Jardim dos Infantes serviu para os mais pequenos se distraírem. O Largo do Oculto continha diversas especiarias. Os pequenos cavaleiros tinham o seu espaço de treino: o Largo dos Duques. Num ambiente sombrio, o Quelho das Desgraças amedrontava o público e a Praça Mercar juntou os mercadores para apregoarem os seus produtos. Os tempos medievais invadiram Guimarães.
Para além das atividades, serigrafias e figurinos, também os típicos espetáculos teatrais com bobos da corte ocuparam a programação da feira. Para além da música característica da época medieval, uma presença constante desde 23 a 26 de junho, os medievais e os modernos interagiram e juntaram Portucale ao Portugal de hoje.
De Portucale a Portugal
A recriação tão fidedigna fez o público se esquecer que por trás daquelas vestimentas de outros tempos se encontrava alguém do século XXI. “Grande parte do público interage, outros fogem de medo e outros, curiosos, ficam de longe a ver”, disse Beatriz Miranda, integrante da Praça Mercar.
Também da Praça Mercar, Maria João Catumba referiu que a Feira Afonsina se distingue das outras feiras pela interação com os visitantes. “O que mais me marca aqui é quando abordamos e nos envolvemos com o público, essa é a parte mais engraçada”, afirmou.
Ainda na praça dos mercadores, encontrava-se o ferreiro e Mestre Jeromelo, do projeto Oficina do Velho Ofício. Há três anos que faz parte da Feira Afonsina. Agora afirma que “o que começou por ser só uma semente e brotou algumas folhas, este ano já dá frutos”. A valorização dos antepassados e do seu contributo para os dias de hoje é levada a cabo por este projeto. “Não vendemos nada, oferecemos cultura”, reforça Jeromelo.
À medida que os anos passam e a Feira Afonsina se expande, o número de voluntários também aumenta. Beatriz Miranda e Maria Catumba são exemplos de voluntários que fizeram destes ofícios medievais o seu ofício atual.
Arrumam-se os alforges
Depois do público se deliciar com o pão com chouriço e o seu copo de sangria, subiu a noite e foi tempo de arrumar os alforges. Às 22h00, assistiu-se ao Folguedo Final. O povo reuniu-se em excursão, entre cantoria e bailado, para festejar o término de mais um dia de trabalho.
Quem seguiu pelas ruas estreitas da cidade viu uma festa feita de sons provindos dos tambores, gaitas, flautas e cornetas. Os gritos exultantes fizeram-se ouvir: “Viva o Rei!”, “Viva Guimarães!”, “Viva Portucale!”. A Feira Afonsina chegou, assim, ao fim.
Reportagem de: Carolina Ribeiro & Pedro Ribeiro