É comum dizermos que os santos da casa não fazem milagres. Gonçalo Suissas não é bem um filho da terra, mas a relação com a Juventude de Viana é familiar. Formado no Paço d’Arcos, o internacional português voltou a Viana cinco anos depois, após passagens por FC Porto, Candelária, Oliveirense e Valongo.

Dois treinos, um braço partido. Começar a praticar um desporto desta forma não é grande motivação, mas foi assim que Gonçalo Suissas embarcou na viagem pelo mundo do hóquei. Entre os treinos de karaté do pai no pavilhão do Paço d’Arcos, o avançado ganhou o “bichinho” pela modalidade ao ver os jogadores da equipa do concelho de Oeiras treinarem.

No Paço d’Arcos, chegou até à equipa sénior, onde envergou a braçadeira de capitão. Em 2007, acabou por sair. Viana do Castelo foi o destino que se seguiu. “Na altura, tinham uma equipa fantástica e quando surgiu o convite quase nem hesitei”, assegura o hoquista.

Durante as três temporadas que marcaram a primeira passagem pelo Alto Minho, a Juventude contava com nomes como Luís Viana, Pedro Alves ou Paulo Almeida, mas nunca conseguiu conquistar o título de campeã nacional. Gonçalo Suissas garante que faltou “experiência” e “uma pontinha de sorte”, pois acredita que “se fosse por regularidade”, se calhar o clube merecia ter sido campeão nesses anos.

Mas já diz o ditado que se a montanha não vai até Maomé, Maomé vai até à montanha. A expressão podia descrever a saída da Juventude para o FC Porto, em 2010. A ambição de “jogar num grande” foi um dos motivos para a saída, mas garante que a passagem para os azuis e brancos não foi do “oito para o oitenta”.

O salto veio a revelar-se uma aposta ganha, pois o hoquista sagrou-se campeão na equipa que garantiu o decacampeonato consecutivo dos dragões. No entanto, o jogador minhoto saiu do conjunto azul e branco dois anos depois, rumo ao Candelária. “O Tó Neves [treinador do FC Porto] disse que eu não ia ter muitas oportunidades para jogar no ano a seguir e eu optei por querer jogar”, atira.

Depois dos Açores, o internacional português somou ainda passagens por Oliveirense e Valongo, antes do regresso a Viana. A vontade de dar um novo impulso à carreira foi o mote para o retorno ao Minho, depois de “dois anos não tão bons”.

Esta temporada, a Juventude de Viana terminou no sétimo posto pelo segundo ano consecutivo, uma classificação distante das obtidas pelo jogador durante a primeira passagem. Gonçalo Suissas lembra o exemplo dos dez campeonatos conquistados pelo FC Porto, e acredita que se a Juventude mantiver “uma base sólida” ao longo dos anos, pode voltar achegar lá acima e discutir algum título.”

A procura por títulos é algo que não é apenas comum à formação minhota, mas também à seleção nacional. 13 anos depois da conquista do último mundial e 18 desde o último europeu, a equipa das “quinas” não mais voltou a erguer um destes títulos. O avançado minhoto marcou presença no europeu disputado em Paredes, em 2012, num ano em que Portugal esteve muito próximo de conquistar a prova.

O empate no último jogo diante da Espanha bastava para garantir a vitória na prova, mas a turma portuguesa não concretizou o objetivo. “Eles [Espanha] têm jogadores fantásticos e é por isso que ganham há tantos anos seguidos, mas acho que nesse ano nós merecíamos o título porque estávamos mesmo muito bem”, assegura. Contudo, o hoquista acredita que Portugal tem “todas as condições para voltar a ganhar”, aproveitando a “boa geração” de novos valores no hóquei português.

Apesar da fome de títulos, a modalidade é um dos desportos coletivos com maior palmarés. Mas este fator parece não ser suficiente para atrair maior visibilidade nos meios de comunicação. Gonçalo Suissas aponta o futsal como um exemplo a seguir, e reitera: “Faz falta a Portugal começar a procurar novas economias que ajudem o hóquei a dar o salto que o futsal deu”

O regresso a Viana reconciliou a relação de Gonçalo Suissas com os golos – marcou 23 tentos – depois de uma temporada em que só anotou nove. O maior fulgor ofensivo não foi suficiente para o regresso à seleção, já que ficou de fora dos eleitos para o europeu deste ano. Espera “com este relançar de carreira” voltar à equipa das “quinas”, mas até lá o caminho continuará a fazer-se no Minho.

Texto: Nuno Leite e Fábio Moreira

Imagem: João Pereira e Pedro Gonçalo Costa