Há algo que uma das vozes e guitarrista dos The Codfish Band não se cansa de frisar: este projeto musical não faz o percurso comercial que é norma para as outras bandas. Mas nem por isso tem passado despercebido – prova disso foi ter alcançado o primeiro lugar no top Super FM. Produzido por amigos que nunca tinham atuado juntos,“Devil’s Tongue” é o nome do primeiro álbum e já está disponível nas plataformas digitais. Ainda que cantado totalmente em inglês, Miguel Ros Rio afiança que a portugalidade está presente no projeto como um todo. Um novo álbum deverá ser lançado ainda neste ano.

“Tenhas a idade que tiveres, estás sempre a tempo de realizares o teu sonho.”

ComUM: Qual é a mensagem que querem passar com o primeiro álbum?

Miguel Ros Rio: Para ser sincero, não existiu essa preocupação na composição dos temas. Nos temas novos foram abordados assuntos do nosso dia-a-dia, da nossa vivência. Há um ou dois temas um pouco mais políticos (casos do “Mud” e do “1000 lies”). Mais importante do que enviar uma mensagem, é a nossa perspetiva da sociedade. Mas, no final, o que este disco realmente transmite é o seguinte: tenhas a idade que tiveres, estás sempre a tempo de realizares o teu sonho.

ComUM: Dizem que criaram o “Devil’s Tongue” para o oferecerem à família no Natal. Quando é que este projeto se tornou mais do que uma prenda?

Miguel Ros Rio: O sonho de estar em estúdio a compor e a gravar um CD. Um CD de originais, um CD nosso com músicas nossas, que agora também são vossas. O concretizar desse sonho foi tão bom que decidimos continuar. Foi neste momento que “Devil’s Tongue” deixou de ser apenas uma prenda e passou a ser um projeto. O nosso projeto!

ComUM: O álbum foi lançado quase há um mês. Qual tem sido o feedback do público?

Miguel Ros Rio: Mais uma vez, lá estamos nós ao contrário da maioria. O álbum tem quase um mês de vida digitalmente (porque já tem perto de oito meses de vida efetiva). Saiu primeiro de forma física, esteve e está à venda nas lojas Fnac e El Corte Inglés e o feedback foi muito bom. Para um banda que surgiu do nada, sem membros influentes no panorama musical português, aparecer a fazer rock em inglês nesta altura do campeonato e ser recebida como fomos foi muito gratificante. Estar presente, por exemplo, cerca de quatro meses seguidos no top da Super FM, chegando ao primeiro lugar, foi algo com que nunca sonhámos.

ComUM: Como aconteceu o processo de composição dos temas?

Miguel Ros Rio: Sem pressões. O repertório foi nascendo à medida que os dias em estúdio passavam. A ideia era gravar uns temas existentes que nunca tinham visto a luz do dia. Portanto, não existia pressão nenhuma. Aliás, hoje em dia é mais fácil gravar e quem anda por aí a gravar não necessita da venda dos CD’s para comer ou pagar contas. Por isso, as bandas gravam pura e simplesmente o que gostam, como gostam e nada mais. E foi assim, com o passar dos dias, que temas novos iam surgindo e ao mesmo tempo íamos abandonando os temas que deram ideia à gravação deste álbum. Mas ainda ficaram alguns.

“Pressão estamos a sentir agora com a composição do novo trabalho.”

ComUM: Os elementos da banda trabalharam na produção do álbum sem nunca terem atuado juntos. Como é que souberam que o risco ia resultar? O receio é maior quando as coisas acontecem assim?

Miguel Ros Rio: A questão é que não existiu risco, pressão ou sequer receio. O que existiu foi uma vontade enorme de criar algo para nós, por nós, empregando todos os nossos conhecimentos e – repito – o álbum era para nós. Pressão estamos a sentir agora com a composição do novo trabalho que queremos ter cá fora ainda este ano.

ComUM: Apresentam-se como uma banda 100% portuguesa. Onde é que os traços desse nacionalismo são mais evidentes?

Miguel Ros Rio: Não é uma questão de nacionalismo. Somos portugueses e ponto final. Não há volta a dar. Não é por sermos portugueses que temos ou não de compor temas em português. O nome da banda foi escolhido com muita dificuldade. É mais fácil dar um nome a um filho ou a uma empresa. Tivemos a preocupação de escolher um nome que, sendo em inglês, tivesse ligações com Portugal. The Codfish Band não é a banda do bacalhau, é um cumprimento muito português já fora de uso – “toma lá um bacalhau”. Entre músicos, as guitarras são bacalhaus e “bacalhau”, além do dito peixe, dá para muita coisa, se quisermos entrar nos refrões da música popular portuguesa…

ComUM: Por que é que o vosso rock só faz sentido cantado em inglês? Afirmaram em entrevistas anteriores que é na língua inglesa que o rock “sabe a rock”. Mas os UHF foram os responsáveis pelo surgimento do boom do rock em Portugal, nos anos 80, e cantavam em português. Para os Táxi poderem gravar um disco, a editora impôs-lhes a condição de gravarem em português. Os Xutos & Pontapés cantam em português…

Miguel Ros Rio: A essa pergunta apetece responder com outra. E por que é que o fado só faz sentido cantado em português? Agora se me disserem que, como sempre e agora mais do que nunca, as editoras sediadas em Portugal exigem bandas a cantar em Português… Sempre foi assim. Já vem do tempo dos Táxi. E porquê? Por que é que nestes últimos anos em que se conseguiu exportar quase tudo o que era feito em Portugal, com grande aceitação por parte dos outros países em todos os outros setores de produção, aí ninguém se preocupou se era em português ou inglês? Por que razão só no produto música é que é exigido que seja em português? Nunca exportarão rock cantado em português. Já muitas bandas o tentaram e nenhuma o conseguiu. Mesmo junto dos países de língua portuguesa. E, em relação ao rock, falo concretamente do Brasil… Porquê? Deixo a pergunta.

ComUM: Qual é o espaço que o rock ocupa em Portugal?

Miguel Ros Rio: Acho que nunca em Portugal existiram tantas bandas de rock e com tanta qualidade como agora.  É engraçado: quanto mais dizem que o rock não vende, mais bandas de rock aparecem. O rock em Portugal nunca foi líder de vendas, nem de playlists. Não o é hoje nem nunca foi, tirando casos pontuais ao longo dos anos. Quanto a isso, mantém-se tudo na mesma.

“Gente com garra a sair de buracos há às centenas todos os dias.”

ComUM: Se este não fosse um projeto lisboeta, teria sido mais difícil chegar ao público?

Miguel Ros Rio: Creio que hoje em dia essa questão não se coloca. Podes estar a compor num buraco longe de tudo e todos, mas desde que tenhas internet estás no centro do mundo. Agora é preciso é que o mundo repare em ti porque talento, musicalidade, gente com garra a sair de buracos há às centenas todos os dias.

ComUM: Onde é que poderemos encontrar os The Codfish Band nos próximos tempos?

Miguel Ros Rio: Os The Codfish Band, e mais uma vez ao contrário da maioria, ao invés de irem para a estrada no verão, vão estar fechados em estúdio a acabar o sucessor de “Devil’s Tongue”.