Contando com 30 anos de ensino na Universidade do Minho, a docente Zara Pinto-Coelho reforça a necessidade do curso de Ciências da Comunicação de manter o seu dinamismo, combinando o domínio do fazer com o domínio do saber.

Em jeito de comemoração dos 25 anos da licenciatura do curso, as professoras Zara Pinto-Coelho e Helena Pires desenvolveram uma exposição de nome “Intermezzo e o ComUM esteve à conversa com a primeira organizadora para perceber mais sobre este evento.

ComUM: Porque é que a exposição tem o nome “Intermezzo”? Podia ter outro nome?

ZPC: Não podia ser outro nome no quadro da lógica que governou na conceção da exposição. Uma vez que construímos a realidade com palavras, com imagens e com som pegamos no som e nas metáforas musicais. Daí a ideia de intermezzo porque é a ideia de intervalo, que há, por exemplo, se se for a um concerto de música clássica, existe este tipo de designação. Pareceu-nos [com a professora Helena Pires, coorganizadora da exposição] uma designação que dava conta da ideia geral.

ComUM: Relativamente à exposição em si, esta contém obras de arte. Comunicar é uma arte. Portanto, esta exposição também foi feita com o intuito de mostrar que é possível comunicar através da arte…

ZPC: Não sei se partilho da mesma opinião… É arte no sentido em que tivemos que ser criativas porque tínhamos poucos meios, procurando tornar o espaço do ICS diferente. A ideia era criar o crescendo até lá cima; depois, temos o tutti, lá em cima, ou seja, todos os alunos e restante comunidade educativa. A exposição começa no rés-do-chão e acaba no segundo andar, com o despacho da criação do curso, que é, na verdade, o início. Aí, também houve um jogo. De facto, nem há início nem fim. Há todo um processo, toda uma continuidade. Mesmo que a gente não queira, está sempre a comunicar…

ComUM: E os alunos de mestrado em Comunicação, Arte e Cultura também tiveram um papel importante?

ZPC: Muito importante. Tanto na parte da performance como na parte da montagem, no sábado, que foi muito duro… Estive com um estudante a erguer um tubo. Está a ver como eu sou uma pessoa poderosa? (risos) A chover, com vento e com amor à camisola! Foi uma aventura!

ComUM: No geral, crê que a exposição resultou?

ZPC: Acho que sim, pela reação que temos tido, sobretudo do ICS, que é o público prioritário. Entretanto, ainda hoje [dia 1 de junho], disseram-me que esteve aí alguém de Educação “a espreitar”. Estas coisas acabam por circular “boca-a-boca”. Pode ser um bom exemplo para que outras licenciaturas, com todo o carinho que temos pela escola secundária, em vez de algo mais clássico, típico de escola de secundária, façam algo diferente.

ComUM: Com todos os artefactos que foram reunidos para a exposição, consegue chamar-se à atenção das pessoas de que ela existe e que pode ser visitada?

ZPC: Estranhamente pode falhar-se. Há casos de pessoas que passaram pelo contentor e não o viram. (risos) Portanto, tudo acontece. Na comunicação, tudo é imprevisível, não se controla e há provas disso. Por outro lado, também parece evidente; é quase inacreditável que os tubos não se vejam…

ComUM: Enquanto docente deste curso, desde há 30 anos, como é que se sentiu a preparar tudo?

ZPC: Senti-me muito bem, adoro organizar eventos. Embora não seja a minha área, acho que tenho jeito para isso. Pelo menos, já são muitos e normalmente correm bem. Este foi diferente porque não tinha uma natureza científica; tinha mais uma natureza artística. Por isso, deu para andar mais pelas margens e ser mais criativa.

ComUM: De que forma olha para o ensino da Comunicação? E em que medida este tipo de eventos também alerta para esse tipo de questões?

ZPC: É verdade que [o evento] também tem uma intenção pedagógica. Aquela ideia da comunicação como construção, como processo e a necessidade de desconstruir tem a ver com a filosofia central do curso. Penso que isso nos distingue dos outros cursos de Comunicação, mais virados para a prática e para o saber fazer, o que, obviamente, é fundamental, mas também é preciso saber pensar de uma forma crítica sobre aquilo que se faz.

ComUM: Quer deixar alguma mensagem aos alunos, aos professores, aos funcionários e a todos aqueles que queiram visitar este trabalho expositivo e, em especial, ao instituto?

ZPC: Hoje um colega de História saudou-nos e deu-nos os parabéns por termos modificado o Instituto e estava a sentir-se melhor nesta casa. E eu disse-lhe: “Mi casa es tu casa”. (risos) É isso que eu posso dizer: são todos bem-vindos. Estamos aqui a trabalhar, comunicar é partilhar, é pôr em comum.