O single de estreia chama-se "Poesia Má", mas eles querem mostrar que o rock em português é bom e recomenda-se. Contudo, sentem que até em Portugal é difícil cantar rock em português. No meio destas contradições que vão superando, os Patinho Feio acreditam que o que é preciso é falar e apelam a que não estejamos calados. Nasceram em 2013 e começaram por dar o exemplo do lema que defendem, com o lançamento do disco “Para Não Se Estar Calado”. O projeto conta com o vocalista e guitarrista António Justiça, André Imaginário na guitarra, Rui Valentim nas teclas, João Malaquias na bateria e Filipe Pires no baixo.
ComUM: Não querem estar calados. O que querem dizer às pessoas?
Filipe Pires: Queremos dizer exatamente isso: que não fiquem calados, que falem. Em “Porém” referimos isso mesmo, “porém vá-se lá saber às vezes fala-se para não se estar calado”. Em tempos em que a nossa liberdade parece cada vez mais oprimida, é importante continuar a lutar contra isso. Não queremos de forma alguma ficar resignados e a música para nós é também isso – não ficar calado nem ficar à espera que as coisas aconteçam.
“Não queremos de forma alguma ficar resignados.”
ComUM: Em que medida há um ‘patinho feio’ dentro de cada um de nós?
Filipe Pires: O imaginário proporcionado pelo conto de Anderson foi determinante na escolha do nome e o conto leva a isso mesmo. Quantos de nós já se sentiram “patinhos feios” tristes, sós, desprezados? No entanto achamos que a condição humana não é essa e, ainda que todos já tenhamos sentido isso, também é certo que um dia havemos de ser um belo cisne… Ou não! É meio confuso… talvez nem patinho feio nem cisne. Mas, pura e simplesmente, sentirmo-nos bem connosco. Talvez seja por aqui.
“Poesia Má não será de todo a montra da música.”
ComUM: Quanto ao álbum, “Poesia Má” foi escolhido para single de estreia. Podemos ver esta música como uma montra do CD?
Filipe Pires: O CD tem alguma variedade musical entre os temas, sempre na linha de um rock bem vincado e das letras em português. “Poesia Má” não será de todo a montra da música. Quanto muito será a montra das palavras, da restante poesia que o compõe.
ComUM: Como decorreu o processo de composição do álbum?
Filipe Pires: Costumamos dizer o António Justiça é o nosso maestro. A composição dos temas e das letras é dele. Normalmente fazemos um trabalho de casa aproveitando os sistemas de partilha online. Como temos pouco tempo para ensaiar em conjunto, o António faz os temas e coloca no nosso dropbox. Depois cada um faz o seu TPC. Muitas vezes, quando chegamos ao ensaio, parece que já tocámos aquele tema, que é novo, em conjunto. Isso é um processo engraçado.
“Os temas falam de sentimentos um tanto comuns a todos nós humanos.”
ComUM: O que é que inspira a criação das letras?
Filipe Pires: Basicamente os temas falam de sentimentos um tanto comuns a todos nós humanos. Falam de medos, angústias, incoerências, incertezas, amor. Há uma carga emocional que gostamos de transmitir e [gostamos] que cada pessoa sinta um pouquinho daquelas palavras dentro de si mesma. São os tais momentos de “patinhos feios”…
ComUM: Os títulos dos temas são, muitas vezes, palavras isoladas, como são os casos do “Mentira”, “IIusório”, “Porém”, ”Espera”. Esta brevidade foi pensada? O que querem transmitir com esta concisão?
Filipe Pires: Foi pensada de modo a ser incisiva, para que as pessoas identifiquem facilmente a letra do que estão a ouvir com o nome da canção. Em todas as músicas, à exceção de “Ilusório”, o título está bem vincado na canção em partes marcantes: início, fim ou refrão. [Em] “O vício da escuridão”, repetir esta frase seguida quatro vezes no refrão, [mostra que] falamos por certo do tema vício.
ComUM: O trabalho de estreia foi lançado em formato físico, mas também em digital. Por que é que é relevante dar essas opções de escolha ao público?
Filipe Pires: O formato físico hoje em dia é mais um capricho e um mimo para quem gosta mesmo de nos ouvir, deixar o legado do Patinho Feio e o prazer de ter uma obra nas tuas mãos. Faria sentido pintares um quadro e, em vez de venderes a tela a alguém que ama arte, venderes uma fotografia dessa mesma tela? O digital dá-nos uma outra visibilidade e conseguimos chegar a públicos onde não chegaríamos apenas com o físico.
ComUM: Consideram que uma banda que lance um álbum apenas em formato digital será capaz de ter lucro e sucesso?
Filipe Pires: Sim, sem dúvida. Nos dias que correm o digital tem um peso e alcance muito maior.
ComUM: Qual é o espaço que o rock cantado em português ocupa no mundo?
Filipe Pires: Já é difícil em Portugal, quanto mais no resto do mundo…
ComUM: Pensam na internacionalização?
Filipe Pires: Para sermos sinceros, é algo em que nunca pensámos… Se tocar na vizinha Espanha for considerado internacionalização, se calhar simplificamos o processo (risos).
ComUM: No ano passado, fizeram uma série de concertos. Qual foi o feedback no público, nessas interações?
Filipe Pires: O mais giro foi quando começámos a ver pessoas a cantar as nossas músicas nos concertos. Isso é tão bom, é sinal que a mensagem está a passar.
ComUM: Têm alguma estratégia definida para que a vossa música chegue a mais gente nos próximos tempos?
Filipe Pires: A estratégia é continuar a tocar e a fazer música sempre, até “para não se estar calado”.