A arte de representar é uma forma de expressão luminosa por si só, mesmo que o seu cenário seja o mais sombrio. Há quem procure acender as luzes de um palco que, muitas vezes, deixa uma plateia às escuras à espera da história que vai chegar. Desde 2009 que o número de espectadores de peças de teatro tem aumentado.

“Quero ser atriz.” Este é o desejo de Diana Silva, estudante da licenciatura em Teatro, na Universidade do Minho. “O que me desperta no teatro é o facto de eu gostar tanto daquilo que faço e que vejo os outros a fazer”, confessa. Mas admite que esta via artística “é uma área difícil e que não tem muita saída. Só os que trabalham muito é que conseguem mesmo.”

De acordo com os dados da Pordata, em 2014, 165 em cada mil portugueses assistiram a um espetáculo teatral. Este valor revela-se superior aos cerca de 150 em cada mil portugueses que se registou em 2013. E, desde 2009, a tendência tem sido para crescer.

Os últimos anos apontam para ganhos graduais. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), quase 11 milhões de euros foram faturados com os espetáculos teatrais, no ano de 2014. Rui Madeira, diretor da Companhia de Teatro de Braga (CTB), reconhece, contudo, que “ainda não temos hábitos culturais.”

Atualmente, Portugal dispõe de dois grandes teatros nacionais: o Teatro D.ª Maria II, em Lisboa, e o Teatro de S. Carlos, no Porto. Existem, também, dez companhias de teatro de maior dimensão, entre as quais a Companhia de Teatro de Braga, e outras iniciativas de menor dimensão.

Rui Madeira afirma convictamente que a CTB é “ uma companhia estável”. O truque para o sucesso da instituição bracarense passa por ser “talvez a única companhia de repertório”. O dirigente explica que a CTB tem “sempre em cena oito ou nove espetáculos diferentes” e que isso permite “rentabilizar melhor os dinheiros públicos”. O diretor faz questão de deixar claro que “as companhias não se resumem a agregados de indivíduos que bebem uns copos e se divertem”. Ficam-se pelo beber a arte e deixar num palco histórias escritas por outros e contadas por atores.

E como se formam novos profissionais de teatro? Diana Silva fala do olhar plural da sua licenciatura: “O curso abrange áreas como a dramaturgia, a encenação e a cenografia”. A estudante de Teatro explica que não se trata de uma graduação “para quem quer ser apenas ator ou atriz, mas sim para quem quer seguir outra profissão além desta, dentro do teatro.” A sua visão pessoal é dúbia: “Por um lado, é bom, mas, por outro, não porque não aprofundamos aquilo que queremos mesmo seguir.”

“Há cada vez mais jovens com essa paranóia de querer ir para teatro”, afirma, de forma assertiva, o diretor da CTB. Posicionando Portugal “no artesanato” e enquanto “país desestruturado do ponto de vista dos financiamentos para a cultura”, o dirigente demonstra admiração sobre como, “a cada ano que passa, uma universidade abre um curso de teatro”. O objetivo, entende Rui Madeira, é “manter a corporação [docente] ativa”. “Há muita gente não para fazer teatro, mas para fazer telenovelas”, remata.

E o que dizer do teatro hoje? As palavras do dramaturgo, encenador e escritor Abel Neves são diretas: “Numa aventura teatral, o trabalho é eficaz desde que haja boa disponibilidade.” Há ainda uma perspetiva que o  lança sobre esta realidade artística: “Lá atrás, o teatro antigo tem olho em nós. E o teatro antigo é o teatro do futuro.”

“O teatro é uma arte de ‘re-humanização’.” O dirigente da CTB explica que se vive numa “sociedade de espetáculo”, pelo que a visão da conceção e produção teatral da companhia é “reorganizar a gestão do tempo”, de forma a “fazer com as pessoas se vejam”. Acima de tudo, “abrir perspetivas”, reforça.

Sobre esta arte em geral, Diana Silva sugere uma maior divulgação do que se faz em torno do teatro. “O facto de não ser tão divulgado faz com que as pessoas possam até perder um pouco o interesse porque não sabem do que se trata especificamente”, refere a estudante.

Hoje, as grandes instituições culturais e as pequenas iniciativas artísticas procuram, muitas vezes, luzes ao fundo de um túnel que parece interminável. A verdade é uma: nem todas as luzes são da ribalta para o mundo da representação teatral. E poucas são as que se ligam.