O Paredes de Coura passou e acabou, e muitos ficaram um pouco desiludidos com um final que devia ter sido bem mais especial. Apesar disso, Coura teve a magia de sempre, e mais uns “pózinhos”. Sem a exuberância de anos anteriores, o cartaz foi bastante competente (salvo raras excepções), e levaram o festival a um bom porto.
Esperamos, ansiosamente, pelo dia 16 de Agosto de 2017.
É sempre difícil nomear o melhor concerto do festival. Unknown Mortal Orchestra deixaram todos aos saltos com “Multi-Love”, e cada membro da banda de Ruban Nielson protagonizou solos entre músicas que, embora por vezes longos, foram muito aplaudidos, e a proeza individual dos músicos é enorme. Os Cage The Elephant voltaram dois anos depois a Paredes de Coura para serem os cabeças-de-cartaz do terceiro dia, e o seu novo álbum sobreviveu às expectativas, com cada tema a ser bem acompanhado pelo público. E os Thee Oh Sees levantaram todo o pó que havia no anfiteatro natural (literalmente) com a sua energia. Mas se tivermos de coroar um “vencedor”, o prémio vai para LCD Soundsystem.
A banda americana continua a provar que a paragem de cinco anos não lhes fez nada mal. Mal houve tempo para respirar, desde o ritmo rápido de “Us v Them“, passando por “Daft Punk Is Playing In My House” e “New York, I Love You But You’re Bringing Me Down“, fechando com “Losing My Edge“. Todas clássicos da banda, e da música que revolucionaram durante a última década.
Pode-se argumentar que Cage The Elephant ou The Vaccines fizeram espectáculos muito bons, mas toda a produção de LCD Soundsystem (com a característica bola de espelhos gigante), e a energia que extraíram do público durante todo o concerto justifica a afirmação de João Carvalho, da organização do festival, que colocou o concerto como “um dos mais inesquecíveis da história do festival”.
Se Tallest Man On Earth teve o concerto mais bonito (para alguns foi lamechas), se Portugal. The Man teve o mais dividido entre críticos, e se CHVRCHES deixou um sabor amargo na multidão que ficou para o último dia do festival, LCD Soundsystem foi o melhor do Vodafone Paredes de Coura
Palco Vodafone FM
Boa música e grandes bandas não passaram só pelo palco principal. A partir do segundo dia, o palco secundário começou a encher-se de excelente música, muita dela portuguesa. Sean Riley & The Slowriders voltaram a ser um destaque num palco secundário este ano (já tinham passado pelo Palco Heineken do NOS Alive); os First Breath After Coma estrearam-se no festival, e deixaram água na boca para mais presenças; os Bed Legs animaram bem o público, num segundo dia cheio de rock e energia; e GrandFather’s House (que já tinham estado em Paredes de Coura em 2013, mas nos concertos à beira do rio) mostraram muito bem do que são capazes no pouco tempo que tiveram, e o ligeiro nervosismo inicial não estragou uma forte exibição, especialmente do guitarrista Tiago Sampaio.
Além dos portugueses, o grande destaque do Palco Vodafone FM vai para Algiers. Os norte-americanos surgiram antes de Thee Oh Sees e LCD Soundsystem, mas ninguém queria que eles se despachassem. Pelo contrário. Depois de um concerto de Sleaford Mods que deixou muita gente aborrecida e descontente com o conceito do grupo britânico, Algiers conseguiu agarrar de novo a multidão do segundo dia, antecipando muito bem os restantes concertos.
Cigarettes After Sex também deram um bom tom de acalmia no último dia, embora talvez tivessem sido calmos demais. Depois de The Tallest Man On Earth e antes de Portugal. The Man, o público precisava muito de despertar. Cigarettes After Sex deixaram todos ainda mais calmos, mas a sua música não deixou de ser contagiante.
Festas na vila e o Palco Jazz
Quatro dias antes do festival começar, os campistas tiveram a oportunidade de subir à vila, e assim ter um pequeno vislumbre da música que se houve no Paredes de Coura. Os primeiros dois dias não foram muito bons: com as festas do concelho de Paredes de Coura ainda a decorrer, a organização decidiu colocar os concertos dos dias 13 e 14 no Centro Cultural e na Caixa da Música, respectivamente. Os dois espaços (fechados) sofreram pela limitação do público, e muitos festivaleiros acabaram por não ver os concertos de bandas como Pega Monstro e os vimaranenses Paraguaii. E mesmo para quem os viu, os concertos simplesmente não souberam tão bem dentro das salas, e muito do espírito ficou lá fora.
Felizmente, nos dias 15 e 16, tudo foi emendado, e as restantes bandas e DJ’s puderam então tocar para todos os campistas nas ruas de Paredes de Coura.
Já no campismo, como é tradicional, voltou-se a ouvir poesia e jazz na praia fluvial do Taboão. Samuel Úria e Gisela João inauguraram o Vodafone Vozes da Escrita com uma fantástica e divertida sessão de leitura, e Gileno Santana e Tuniko Goulart trouxeram aquele jazz perfeito para uma boa tarde à beira do rio. A guitarra com ritmo brasileiro de Goulart e o trompete de Santana foram uma excelente combinação para o último dia, e o jazz carioca mandou todos bem contentes para os concertos.
Campismo em Paredes de Coura. What else?
Já muito foi dito sobre o ambiente do Paredes de Coura. Nenhum festivaleiro, seja de onde for, como é, ou o género de música que prefere, fica indiferente dentro do campismo do festival. O trânsito de barcos insufláveis no rio já é uma característica do festival, e a água gélida é ideal num dia quente de Verão. As próprias condições do festival foram aumentadas pela organização este ano, e tudo contribuiu para mais um óptimo ano nas margens da praia fluvial do Taboão.
Apesar de tudo isto ter ficado, subitamente, debaixo da sombra da crise de gastroentrite que levou entre 130 a 150 pessoas para o hospital, este incidente não foi mais que uma nódoa num festival que cumpriu as expectativas.
E para 2017?
No dia 16 de Agosto de 2017, começa a próxima edição do Paredes de Coura, a edição que marcará o 25º. aniversário do festival português. Paredes de Coura é um festival diferente: muitas das bandas que se ouviram em anos anteriores a meio da noite, tornaram-se grandes nomes da música mundial. Veja-se o exemplo de Coldplay que passaram pelo Minho em 2000, LCD Soundsystem em 2004 ou Arcade Fire em 2005.
Em entrevista ao Observador, João Carvalho, responsável da Ritmos e um dos fundadores originais do Paredes de Coura, afirmou no entanto que a edição que marcará os 25 anos de um dos festivais que mais contribuiu para a história da música nacional (e do mundo, olhando para as bandas que passaram por lá enquanto foram jovens) precisa de algo especial. Queens Of The Stone Age e Nick Cave já passaram pelo festival, e deixaram em Paredes de Coura os concertos mais memoráveis da sua história, mas voltam a ser desejos declarados do promotor para a edição de 2017.
Entretanto, teremos que esperar um ano. Esperemos, ansiosamente, pelo regresso ao “Couraíso“.