Os The Radio Dept dão o verdadeiro sentido ao shoegazing e ao dream pop. É-me impossível continuar no mesmo mundo a partir do momento em que ouço Lesser Matters (2003), Pet Grief (2006) ou Clinging to a Scheme (2010), os três últimos álbuns da banda. A voz sonolenta de Johan Duncanson faz com que me pareça que todas as horas do dia são o amanhecer. Mas, seis anos depois, no dia 21 de outubro, é lançado Running Out of Love, onde todo o mundo para que sou transportada é diferente.
“An album about life in Sweden in 2016 and how our society seems to be in regression on so many levels. Politically, intellectually, morally…It’s an album about all the things that are moving in the wrong direction. It’s about the impatience that turns into anger, hate and ultimately withdrawal and apathy when love for the world and our existence begins to falter.”
O álbum começa com uma das músicas de que mais gostei. O grito revolucionário “Sloboda Narodu”, serve de título ao tema e significa “Morte ao fascismo, liberdade para o povo”, slogan do movimento de resistência da Jugoslávia, no pós-guerra. Toda a música, apesar da sua sonoridade simpática, é uma demonstração de descontentamento e apelo à mudança. “There’s nothing gracious about our kind”. No final, pode-se ouvir a gravação em loop de uma mulher a dizer a frase revolucionária.
“Swedish Guns” foi outra música que me chamou à atenção pelo instrumental intenso e uma letra que apela à força do povo. “If you want something done/ Get Swedish guns”. Frase que ilustra a capa do álbum, ao estilo da Revolução Francesa.
“Thieves of State” não tem letra, mas o título fala por si, acusando os responsáveis pela direcção errada que as coisas estão a tomar na Suécia. É uma música curta e melancólica com algum ruído, embora suave ao ouvido. “Running Out Of Love” dá o título ao álbum e é a sua ideia base. Cada vez mais vivemos num mundo com valores que contrariam e afastam algo importante para o bem da sociedade: o amor. A ganância e a corrupção são os valores de quem detém o poder e nos controla.
Achei interessante como as músicas se dispõem num “degradé de emoções”. Começa com uma atitude revolucionária e desejo de mudança, até ao tema final, “Teach Me To Forget”, que revela uma postura derrotista onde é preferível ser ignorante e esquecer tudo o que há de errado.
A temática e a própria forma como a música soa é mais madura e arriscada, os acordes de “Pulling Our Weight” são substituídos pelo teclado de um computador, predominando o som da música eletrónica e techno. Facto que não deixo de apreciar, e acho que conseguiram fazer um trabalho excelente, apesar de terem saído da zona de conforto.
Apesar de apreciar este trabalho mais ligado à electrónica e ao instrumental, prefiro ainda assim o antigo som da guitarra, em conjunto com a voz sussurrante do vocalista, mais ligado ao indie e dream pop.
“Running Out of Love”
The Radio Dept
Labrador Records
2016