Em 2014, Olsen brindou-nos com o seu Burn Your Fire For No Witness, álbum assombroso que ficou marcado como um dos melhores desse ano. Este ano, assina o seu novo trabalho – My Woman – em que, apesar de manter a sua identidade imaculada, assume uma nova roupagem.
O álbum divide-se em duas partes, sem grandes complicações: cinco canções para um lado e cinco para o outro.
Na primeira, Olsen não perde tempo com rodeios, diz o que tem a dizer com urgência. Exemplo disso é quando ordena em “Shut Up Kiss Me”: “shut up kiss me hold me tight” (assim mesmo, sem vírgulas ou pausas para não dar tempo nem hesitações), ou quando murmura, palavra a palavra, em “Give It Up”, “why.is.it.you. think.i.need.everything.it’s.not.true”, (assim mesmo, com pontos finais para dar mais peso à pergunta). Olsen faz de tudo para não deixar ninguém com dúvidas – “Where you are is where I want to be“, reitera ela na mesma música.
A segunda parte faz-se de temas mais arrastados, de maior duração. Angel mantém-se confiante, na medida em que sabe o que quer dizer e não tem medo de o fazer, mas assume uma postura mais reflexiva e até mais terna. Esta parte é-nos mais familiar mas, ainda assim, está longe de ser só a sua voz acompanhada pelos acordes tímidos da guitarra.
Apesar destas duas partes bem distintas, são vários os momentos diferentes que podemos destacar neste disco. Temos direito a uma canção com sintetizadores e coros, logo a abrir o disco; temos direito a um lado mais cru, com os acordes rasgados da guitarra e Olsen com uma atitude determinada, quase a roçar o punk; ouvimo-la segredar-nos uma canção ao ouvido; temos uma balada com apenas voz e piano, como nunca a tínhamos ouvido antes; e até temos direito a um susto, quando uma das canções começa com uma sucessão de acordes a lembrar Nirvana – mas felizmente corre tudo bem, com Olsen a dar-lhe o seu toque e fugindo do desastre.
Este trabalho demarca-se dos anteriores, como podemos concluir. Antes de mais, pela sua sonoridade – com a banda a ter um papel mais preponderante, a bateria e o baixo a terem um papel fundamental na dinâmica das canções. Aliás, em entrevista à Face Culture, a própria Olsen diz, em relação à produção do disco: “Teve mais a ver com a maneira como mais instrumentos e sons conseguem construir algo, sem dizer nada, e ainda assim passar a mesma ideia”.
E para além disso, o álbum distingue-se também pela sua temática. Enquanto Burn Your Fire era um trabalho mais introspectivo, mais virado para dentro, este é de dentro para fora, com uma vontade, sem reservas ou vergonha, de destilar nas suas canções o seu coração partido.
Ainda que não restassem já grandes dúvidas, My Woman serve para consolidar o estatuto de Olsen como uma das melhores escritoras de canções da sua geração, a par de ser portadora de uma voz exímia – combinação rara que devemos sentir sorte em presenciar. Posto isto, ficamos com uma esperança irracional de que faça um desvio na sua tour para fazer uma visita a Portugal, apesar de tudo indicar o contrário (cruzemos os dedos). Volta, Angel, prometemos que te recebemos bem.
“My Woman”
Angel Olsen
Jagjaguwar
2016