A boa disposição inundou ontem a sala de espetáculos do Teatro Gil Vicente, em Barcelos. “Uma Família de Malucos” trouxe a história de muitos vaivéns, num enredo que não parou de surpreender. A interpretação da peça ficou a cabo dos jovens atores do Teatro Amador de São Salvador (TAS’S).
A sala estava cheia. As pessoas mantinham-se animadas e tentavam adivinhar o que se seguia. “Espero uma peça com muita comédia, que me faça rir. Afinal é o que precisamos hoje em dia”, afirmou Patrícia Dias, uma espetadora. As luzes baixaram e fez-se silêncio. O espetáculo ia começar.
Cristóvão Pinheiro aparece no palco entusiasmado para anunciar uma novidade à família: a sua promoção a vice-diretor de uma multinacional. A mulher, Anabela, e os filhos, Artur e Marina, ficam entusiasmados e começam a gastar grandes quantias de dinheiro. Esta exaltação, porém, pouco dura, pois o diretor da empresa foge com todo o dinheiro e deixa a cargo do vice-presidente todas as dívidas.
As confusões ainda estavam no início, mas o público já tinha um favorito. Artur era o filho mais velho que tinha sido “novamente expulso da escola e a culpa é da professora”. Marina, que “tem 16 anos e anda no 1º ano”, também não deixou os espetadores indiferentes. Os dois irmãos quase levam o público a lágrimas quando o rapaz lhe disse: “Vai ver se eu estou na esquina”. Minutos depois, Marina voltou e disse: “Vi em todas as esquinas, mas não estavas em nenhuma”.
Aparece ainda a sogra de Cristóvão que diz ficar lá a morar, depois de se ter separado do “12.º marido desde que o pai morreu”. Surge também uma família que alega ter comprado a casa dos Pinheiro, mas, como ninguém se entende, acabam todos por morar juntos.
O público não contém as gargalhadas sempre que os patrões chamam Toyota, Suzuki ou, até mesmo, Chevrolet à empregada Mercedes. A funcionária doméstica decide juntar-se aos Pinheiro com a sua amiga Flora, por não ter recebido o pagamento. A casa não estava completa até Diana, uma amiga de Artur, revelar estar grávida dele, notícia que deixou Cristóvão orgulhoso do filho de 18 anos: “O rapaz sai ao pai”.
Todas as confusões acabam quando o pai confere os números que a filha que “apenas sabe os números até 10” anotou do Euromilhões. Cristóvão julga ter ganho o prémio de 190 milhões de euros. A família Pinheiro, contudo, é única e a trama não estava completa até ser revelada a família secreta de Artur, que parece saída do “Carnaval de Torres Vedras”. Anabela, porém, não se sente incomodada, pois “com 191 milhões até poderia ter duas ou três”.
Os atores exibiram uma dança final animada. Misturava-se o contentamento com o sentimento de dever cumprido. Aplausos prolongados fizeram-se ouvir. No palco, faziam-se agradecimentos. “Venham ver as outras peças porque o teatro é isto”, ouvia-se.
A satisfação era também evidente no público. “Foi uma peça muito divertida, dinâmica”, afirmou Catarina Zeferino. “Não conhecia bem o TAS’S e fiquei surpreendida pelo profissionalismo destes jovens atores”, acrescentou ainda Patrícia Dias.
Com interpretação do grupo de teatro juvenil TAS’S, “Uma Família de Malucos” ocorreu no âmbito da 29.ª edição do Festival de Teatro de Barcelos. Durante este mês e o próximo, vão estar a decorrer vários espetáculos teatrais, workshops e aulas abertas.