Mundo Segundo e Sam the Kid marcaram presença na terceira noite da Receção ao Caloiro da Universidade do Minho. Depois de um concerto marcado pelo constante acompanhamento do público nas músicas, desde as clássicas aos novos temas, o ComUM esteve à conversa com os dois rappers portugueses.
ComUM: De onde surgiu a ideia deste projeto? Com que objetivo?
Sam the Kid: A ideia surgiu naturalmente. Admiramos o trabalho um do outro já há bastante tempo. Já nos conhecemos há muitos anos e desde o princípio houve essa vontade. Em 1990/2000 tentamos fazer um álbum mas, por alguma razão, não continuamos. Seguimos os nossos trajetos. Agora as estrelas alinharam-se e faz sentido fazermos um trabalho. Somos melhores rappers, temos uma melhor noção de construção de tudo e achamos natural fazer agora um álbum. O nosso primeiro objetivo é fazer boas canções e se o pessoal curte, ainda melhor. Não há um objetivo ou uma missão de chegar a algum lugar específico. Queremos fazer o melhor álbum possível. Claro que depois podemos fazer mais mas estamos focados num projeto que vai ser muito bom.
ComUM: Nos últimos anos, tem-se verificado um notável crescimento do hip-hop português. Sentem que tiveram alguma influência, no sentido de serem uma referência, tanto para os ouvintes como para os novos rappers?
Mundo: Sim, acho que fizemos uma parte importante da história e continuámos a fazê-la. Sentimos esse feedback vindo das gerações mais novas que nos procuram ou para pedir conselhos ou para dizer que gostam do nosso trabalho e que, de alguma forma, os influenciamos na adolescência. Vemos isto com bons olhos. Está tudo a crescer. Há cada vez melhores MCs e a produção foi uma das vertentes que mais cresceu nestes anos. Há centenas de produtores a produzirem diferentes estilos, o que é muito bom e vencedor para a cultura. Só temos de nos sentir gratos. Ao mesmo tempo, é um privilégio para nós, ao fim de 20 anos, continuarmos a fazer hip-hop e sentirmo-nos relevantes no meio. Acho que isso é o mais importante: tu, ao fim de muito tempo, continuares a ser relevante, senão não valia pena continuarmos a fazer música. Continuarmos a sentir essa fome de rimar e o feedback das pessoas é um privilégio.
ComUM: “Não deixes que o mundo os transforme, a malícia vos transtorne e o mínimo vos conforme”. É um conselho a dar aos estudantes da Universidade do Minho?
Mundo: Sim, nós temos sempre de ser ambiciosos naquilo que procuramos para nós e nunca desistir à primeira. Não podemos deixar que o medo nos feche dentro de nós próprios. É muito importante ter fé, lutar e procurar uma forma de atingir o nosso objetivo. É isso que nós fazemos com a nossa música. É um conselho que queremos passar às pessoas que não fazem música mas querem ser médicos, engenheiros, advogados, etc… : nunca desistirem à primeira. Durante o percurso, caímos muitas vezes mas levantarmo-nos de novo torna-nos mais fortes.
ComUM: “Juventude, mostrem coragem, façam futuro à vossa imagem porque a censura faz homenagem como quer, quando quer”. É um conselho a deixar esta noite?
Sam the Kid: É um conselho para os jovens em geral. Quando uma pessoa está a decidir o seu caminho é importante estar focado naquilo que deseja. Eu não fui para a universidade mas fui para uma escola profissional de audiovisuais. É aquela fase em que tu estás a decidir aquilo que tu queres fazer. Há pessoas que vão para cursos da universidade que depois vêm que não é aquilo que queriam. Acho que é bom, é um privilégio já saberes aquilo que queres ser e tentares seres melhor na área que tu achas que és apto.