Não se “fazem” fotografias assim. Braga recebeu de braços abertos e os Encontros da Imagem encheram a cidade com a beleza de um disparo. De espaço em espaço, por entre as ruas e no meio de uma multidão apressada, irrompe o mundo em imagens estáticas.
De mala às costas e com a câmara na mão, o trânsito matinal da cidade enche as avenidas. O semáforo muda para verde e chega a primeira de muitas paragens: a Casa Rolão. Sem sorte, a exposição estava fechada esta terça-feira.
O percurso continua logo na porta ao lado. O prato principal são os livros, mas um cantinho da livraria Centésima Página acolhe o trabalho fotográfico “Nacional Um” de Bla Bla. Mas continuemos que a viagem é longa.
Na Avenida Central, o plano é ideal para uma fotografia. Uma fonte ao fundo a jorrar água, à frente dela uma sequência coordenada de placares com fotografias que saíram do outro lado do Atlântico. A cidade acorda frenética perante a calma oferecida pela lente. Algumas pessoas param, outras só olham, mas não se deixam ficar indiferentes pela nova paisagem do centro de Braga.
Os locais das exposições são concentrados – excetuando o Mosteiro de Tibães e o Convento de São Francisco de Real – e proporcionam em poucos metros uma série de olhares diferentes sobre o mundo. Viajamos de África às Américas em momentos, passando pela Irlanda ou, inclusive, por Portugal.
A Casa dos Crivos chega rapidamente. Como balada sonora, o barulho das obras na rua destoa do mundo criado pelos próprios fotógrafos. O espaço é redesenhado pela objetiva de Viviane Sassen com um olhar peculiar de “caos ordenado”, como a própria fotógrafa classifica, sobre a humanidade. À saída, volta o ruído do berbequim a perfurar a chapa, enquanto passamos ao próximo ponto.
Num local quase sombrio à entrada, mas iluminado por dezenas de pessoas, a Casa Esperança oferece variadas perspetivas sobre o que se pode fazer com uma câmara na mão. Não é fácil escolher por onde começar, entre as três assoalhadas desta casa. Há trabalhos sobre os contrastes raciais e de género, sobre a homossexualidade e sobre as minorias. No entanto, a felicidade está sempre presente, não fosse esse o tema desta edição dos Encontros da Imagem.
São catorze locais para ver e ouvir – sim, porque nestes espaços também se encontram cartas sonoras e projeções de vídeo. É difícil concluir a rota, as exposições são muitas e os espaços também, só no centro da cidade existem mais seis “casas” preenchidas pela fotografia.
Numa manhã, os 650 metros percorridos não chegaram para visitar nem metade do que os Encontros têm para oferecer. Há mais, muito mais.
Pelo caminho ficam as histórias e as memórias gravadas nas lentes dos que visitam a cidade para conhecer o mundo. E até 5 de novembro o centro do mundo construído pelos pixels é em Braga.
Texto: Pedro Gonçalo Costa e Tiago Ramalho
Imagem: Pedro Gonçalo Costa