Na noite de encerramento da Receção ao Caloiro, Richie Campbell subiu ao palco e ao som dos êxitos “That´s How We Roll” e “Do You No Wrong” encheu o pavilhão de Multiusos de Guimarães. Uma noite que contou também com a atuação da Tun’Obebes, OPUM DEI, “Os quatro e meia”, o DJ Octávio e ainda Steve Rod. O ComUM esteve à conversa com Richie Campbell, que se demostrou grato pela “sorte que [tem] em estar a tocar aqui”.

ComUM: O single “I Feel Amazing” foi levado à letra esta noite neste concerto?

Richie Campbell: Sem dúvida. É sempre. Quando estamos no palco rodeados das pessoas que tocam sempre a teu lado, que são meus amigos e a fazer aquilo que gostamos não há melhor música para descrever a sorte que nós temos em estar a tocar aqui. Sem dúvida que as expetativas para este concerto foram superadas.

ComUM: O que é que distingue o público académico minhoto dos outros públicos?

Richie Campbell: O público académico é todo um bocado parecido. Para já, a estas horas 60% do pessoal já está com os copos. [risos] O que faz com que as pessoas sejam mais atrevidas e que, às vezes, até gerem situações engraçadas. E eu gosto disso, porque os concertos assim acabam por ser diferentes. Há sempre uma coisa diferente a acontecer, há sempre alguém que diz alguma coisa engraçada. Acaba por haver uma maior interação e é por isso que gostamos sempre de tocar em festas de estudantes. É sempre para repetir, porque é este o público que eu quero conquistar.

ComUM: Muitos te intitulam “o maior nome do reggae nacional”. Como é lidar com essa responsabilidade?

Richie Campbell: Lido bem, porque trabalhamos muito para chegar aqui. Não necessariamente só como artista de reggae porque faço muitos mais que isso, e até não gosto muito que me ponham nesse encaixe de ser só um artista de reggae. Embora, obviamente, ter sido por uma música de reggae que eu fiquei mais conhecido. Mas acaba por ser sempre bom ser o representante do reggae quando vou lá fora a festivais, visto que lá é assim que sou recebido. Ainda assim, espero que, cada vez mais, me vejam como um artista de várias coisas e não só de reggae. Ainda quero surpreender as pessoas.

ComUM: Porquê o reggae?

Richie Campbell: Para mim, o reggae contina a ser, e sempre será, o estilo de música que combina as melhores coisas. No reggae temos a melodia e ao mesmo tempo a mensagem. Maior parte das músicas ou têm uma coisa ou têm outra. Por exemplo, no hip hop tuga tens uma mensagem muito forte mas que às vezes não é tão musical e não é tão abrangente, depois tens a música pop que é muito musical mas que às vezes não diz nada de jeito. Por isso, eu acho que o reggae é um bom equilibrio das duas coisas e muito honestamente o reggae, para mim, desde miudo que me ajudou em imensa coisa. Eu cresci imenso e mudei muito a minha perspetiva de ver as coisas com a mensagem do reggae. É uma mensagem muito completa e qualquer pessoa que se apaixone por reggae, como eu me apaixonei, sente-se inclinado para o estudar, ler e saber mais. O reggae é, acima de tudo, uma mensagem de igualdade, paz e amor. É muito fácil seres influenciado por isso, aliás, tu és influenciado pela música que ouves. Por isso, o reggae tem um espaço gigante na minha vida, mais até do que na minha música.

ComUM: E isso é o mais importante: passar uma mensagem?

Richie Campbell: Acho que sim. Há alturas para tudo. Obviamente que não estou a dizer que uma música que não tem mensagem nenhuma não tem sentido, porque há muitas músicas que não têm mensagem mas divertem as pessoas, passam essa emoção. E não há nada melhor do que conseguires afetar uma pessoa possitivamente com uma música. Ainda assim, acho muito importante que com uma música consigas sempre passar uma mensagem e usar a responsabilidade e a facilidade que tens em comunicar com tantas pessoas ao mesmo tempo para passar uma boa mensagem.

ComUM: O reggae ainda é muito descredibilizado em Portugal?

Richie Campbell: Acho que o reggae é um bocado descredibilizado em todo o lado. As pessoas gostam muito de ouvir reggae no verão e depois no inverno parece que já não se ouve porque não é musica de inverno. O reggae tem os seus altos e baixos. De repente, um artista de reggae lança uma boa música e aí o reggae volta a estar na moda, mas de um momento para o outro já deixa de estar. Acho que o reggae tem o seu lugar e a verdade é que ele não desaparece, por mais que as pessoas não o queiram apoiar e continuem a achar que é só música de verão. O reggae volta sempre quando as pessoas não estão à espera. Vai sempre estar aí.

ComUM: O que falta fazer ou alcançar?

Richie Campbell: Tenho um plano de mais 5 anos, onde vou estar dedicado 100% à música. Tocar o máximo possivel, ir a todo o lado e esforçar me para todos os dias conseguir alcançar o meu objetivo: quero ser o melhor. Acho que é a única mentalidade que podes ter se queres alcançar mais. Mas ainda assim, vou chegar a uma idade e não vou querer estar a fazer 50/60 concertos por ano e aí vou acalmar um bocado. Quero constituir uma família, que me vai ocupar mais tempo. E a partir daí, vou me dedicar à nossa agência, à BridgeTown, onde temos muitos artistas novos a começar e que eu, usando o que aprendi durante estes anos todos e que ainda vou aprendendo, tentarei melhorar a carreira deles. Mas, sem dúvida, que os próximos 5 anos para mim serão os mais importantes. Depois vou acabar por desaparecer um bocado.

ComUM: Que mensagem pretendes deixar aos estudantes da academia minhota, principalmente aos recém-chegados?

Richie Campbell: É importante que o pessoal que começou agora a faculdade estude e saiba a sorte que tem em ter a oportunidade de estar a tirar um curso. O mais importante mesmo é aproveitarem o tempo que estão aqui para aprenderem e se prepararem para o que aí vem. Há uns anos atrás já não era fácil, hoje em dia nem com curso é fácil. Ainda assim, não se esqueçam de se divertir com responsabilidade. Mas não percam muito tempo com coisas que não interessam, porque depois chegam à minha idade e não têm a noção da sorte que tiveram e do que perderam pelo caminho.