“Ladies and gentleman, we are floating in Space”. Ou melhor, “Senhoras e Senhores, estamos no Semibreve.” A eletrónica, de mão dada com a arte digital, chegou ontem à cidade de Braga, pela sexta vez. Foi o portal de universos distantes para todos os visitantes curiosos.
Inovação. Já há seis anos que é um nome associado a este festival, pelos cartazes sempre arrojados e espetáculos que quase prenunciam o futuro. Ora para “aprendizagem anual”, diz-nos Vitor Barros, de 27 anos, ora para a experimentação do mais denso prazer audiovisual, estrangeiros e portugueses juntam-se à descoberta.
Do Theatro Circo ao GNRation, o primeiro dia do Semibreve foi marcado pela presença feminina em força de Kara-Lis Coverdale, Katilyn Aurelia Smith e, perto do final, Nídia Minaj. Outros nomes, igualmente anisados, rechearam este dia, como Andy Stott, o homem de “Too Many Voices”, o seu mais recente álbum, e Ron Morelli a estrear “FALTAR”.
Estas viagens melódicas não teriam a mesma força noutro lugar senão o Theatro Circo. No conforto dos bancos vermelhos, o público comtemplava a beleza do espaço histórico, que se opunha com a contemporaneidade dos espetáculos. Junta-se a isto a intensidade do som que se propagava por toda a sala.
A norte-americana, de cabelos esvoaçantes, Kara-Lis Coverdale, acompanhada pelas projeções de Marcell Weber, abriu o festival de uma forma caricata: atrás do projetor e sob um canteiro musical. Na sua mesa, estavam uma série de vasos que ajudaram na construção do ambiente que levitava transmitido pelas misturas de sons orientais e contemporâneos. Saídos de nós mesmos, como que numa sessão espiritual, somos esbatidos pelas projeções estimulantes e avultosas de chuvas densas.
Numa vénia com alguma timidez e pressa, Kara-Lis dá lugar a Kaitlyn. Estava à vista de todos e a composta mesa de montagem era filmada e mostrada ao público. Multifacetada, faz transições com delicadeza entre as teclas, os muitos botões e a sua voz, que, quando ecoada, assemelha-se a mil. Os sons sintetizados do seu novo álbum “Ears” tinham como pano de fundo as projeções de formas e cores voláteis que se iam metamorfoseando. Foi numa ovação gloriosa de palmas demoradas que se despede com “Obrigada por terem ouvido”.
Na hora de bater o pé foi Andy Stott que, na Black Box do GNRation, se encarregou de levar algum público ao êxtase total. O suor era muito, a sala era a mais escura e também a que mais tremia. Stott pode ter sido uma desilusão para alguns, mas houve quem, envolvido em loucura, puxasse os seus cabelos no crescendo das pulsações elétricas.
A lascar a atmosfera tensa de Andy, veio a jovem Nídia Minaj mostrar o kuduro e os sons africanos, que contagiavam a plateia. Entre danças múltiplas e sorrisos soltos, ainda houve tempo para a passagem de “E Nós Pimba”, como a relembrar o seu concerto no festival “Milhões de Festa”.
Ainda que breve, o festival não fica por aqui e continua no sábado e domingo, com mais concertos e exposições que entram no interior do público e o projetam para o mundo.
Fotografia: Adriano Ferreira Borges / SEMIBREVE