A Galeria Emergentes DST foi o palco da conversa e teve plateia cheia, a ponto de não haver lugares sentados suficientes. Valter Hugo Mãe apresentou ontem, em Braga, o seu novo romance “Homens imprudentemente poéticos”. A apresentação ficou a cargo do professor Cândido Oliveira Martins, da Universidade Católica Portuguesa (UCP). A conversa foi pautada pelo humor do autor e a curiosidade dos seus leitores.
Depois de “A Desumanização”, narrativa que tem lugar na Islândia, Valter Hugo Mãe afastou-se mais uns quilómetros da “portugalidade”. Desta vez, trouxe a história de dois vizinhos inimigos, o artesão Itaro e o oleiro Saburo, que se passa em Quioto, num Japão antigo.
O professor Cândido Oliveira Martins apresentou as suas impressões da leitura deste romance e exaltou a sua riqueza, tanto no que toca à estética como ao conteúdo. “Este livro impressionou-me desde logo pela dimensão alegórica”, revelou. O docente comparou o tom desta narrativa ao de uma lenda ancestral ou parábola, apesar de não ter as mesmas “pretensões pedagógicas ou moralizantes”.
Esta obra propõe-se, segundo o autor, desconstruir os ódios que marcam a nossa realidade atual. “Estarmos em polos opostos de uma determinada questão ou sensibilidade não nos deve transformar imediatamente em grotescos, não nos deve radicalizar”, defendeu Valter Hugo Mãe. Por esta razão, o livro tem como cenário histórico um país marcado pelo conflito, que conseguiu atingir a harmonia, o que sugere a possibilidade de se viver como “inimigos que são educados uns com os outros”.
O afastamento de Valter Hugo Mãe da pouco exótica realidade portuguesa foi tema recorrente de conversa. “Nós somos muito obstinadamente portugueses”, declarou o autor, a defender a opinião de que tal diminui a nossa capacidade de pensar de forma crítica o mundo.
O autor não demonstrou vontade de voltar, pelo menos num futuro próximo, à “portugalidade”. O romance que seguirá a “Homens imprudentemente poéticos” também estará marcado pelo nomadismo e por uma “mundividência” muito própria. Resta saber onde ficará o destino desta viagem, em concreto, no mapa.
O evento encerrou com o entusiasmo dos seguidores de Valter Hugo Mãe. Foram muitos os que se alinharam, numa longa fila, para ver os seus exemplares de “Homens imprudentemente poéticos” assinados, onde esperavam também trocar palavras com o escritor, que celebra os 20 anos de percurso literário.
A Livraria Centésima Página, em colaboração com a Rádio Universitária da Universidade do Minho (RUM) e a Porto Editora, tomou conta da organização.
Fotografia: Mariana Pires Mendes