O centro da cidade recebeu, entre os dias 12 e 20 de novembro, o primeiro Encontro de Ilustração “Braga em Risco”. O mote era “riscar uma Braga culturalmente diferente”. Seis exposições sublinharam-se como o foco de atração dos presentes. No olhar de Lídia Dias, vereadora da Cultura da cidade, o encontro deu mostras da “ascensão cultural” bracarense.

Numa tarde que alternava entre o sol e pequenos chuviscos, o centro da cidade não estava tão movimentado como de costume. Comece-se pela exposição principal, “Braga 22×22”, na Casa dos Crivos. Lá encontravam-se 23 perspetivas da cidade bracarense, resultado de um desafio lançado a 22 ilustradores que aceitaram “ver, sentir e representar” a capital minhota. Entre algumas frases escritas sob as paredes brancas, podia ver-se tanto o património da cidade como as suas práticas e as suas gentes, através de técnicas que iam desde a ilustração à colagem. O tom variava entre o mais sério e o mais humorístico.

“Dança”, de João Fazenda, foi a segunda paragem. Com um traço único, a simplicidade das ilustrações conta a história de um homem “contido e retilíneo” que quer dançar para acompanhar a mulher “leve”, que “voa com ritmo”, por quem se apaixonou. As cores fortes e cativantes ilustram a transformação do personagem quando ele percebe que “há pesos que devem ficar para trás.” De todas, esta é a exposição com mais ritmo, tem um início e um fim e apela à interpretação dos visitantes. Segundo Diana Carvalho, funcionária na exposição, os apreciadores têm comparado o seu dia-a-dia a esta história, onde verificam que precisam de se desligar das preocupações do trabalho para aproveitar a vida.

No posto de turismo, encontra-se “Braga em Cartoon”, de Adão Silva. Através de 25 trabalhos, o famoso cartoonista português satirizou com figuras da política nacional e municipal, como António Costa, atual primeiro-ministro, ou Ricardo Rio, presidente da Câmara Municipal de Braga. Também são alvo de sátira, entre outros, o clube arsenalista, o novo centro comercial, a Noite Branca e até a própria iniciativa em questão. O humor era o destaque desta mostra, que suscitava alguns sorrisos e gargalhadas de pessoas que, ao passar na rua, viam os cartoons na vitrina do edifício.

Na Torre da Menagem, esperava-se uma surpresa. “Rostos da Minha Terra”. Várias ilustrações de personagens icónicas da cidade bracarense surgem: antigos arcebispos e bispos da cidade, a escritora Maria Ondina Braga, o filósofo e médico, Francisco Sanches, e a própria personificação da Bracara Augusta, Tyche Cibele. A autoria foi entregue a alunos de 8 escolas da região, com a recolha de César Figueiredo. As dezenas de trabalhos dos estudantes encheram as paredes do edifício de cor e originalidade, com representações daquilo que foram, ou poderiam ser, hoje em dia, essas personagens. Diversão e originalidade brindavam os visitantes, tendo como cenário uma vista para a cidade.

A tarde ia já longa. É tempo de entrar no Museu da Imagem. Sem chuva, o frio, porém, já se fazia sentir e eram poucas as pessoas que passeavam pela rua. Quando chegamos, o edifício estava completamente deserto. Logo à entrada, estava “JOE”. Trata-se de uma exposição que ilustra o caderno de viagens de um alguém desconhecido a um lugar por identificar. Em alternância entre objetos, paisagens, situações e pequenos discursos, os trabalhos de Paulo Oliveira jogam com a luz e a sombra, as cores e os neutros, quase num instigar de uma “espécie de felicidade”.

Depois de “JOE”, numa pequena sala do museu, assistia-se a “Jardim”, de Vasco Araújo, uma colaboração entre a Fundação Serralves e o Museu de arte contemporânea do Porto. A conversa entre duas mulheres e três homens sobre a condição do estrangeiro, continha excertos dos clássicos a Odisseia e a Ilíada, de Homero mas mostrava-se muito atual. Esta obra é uma representação “do império colonial português na ótica da propaganda e ideologia do Estado Novo” e tinha como personagens várias esculturas de africanos.

“Braga em Risco” pretendia, segundo a vereadora da Cultura, “ajudar a traçar mais um risco na ascensão cultural” da cidade. Com uma antevisão de sucesso sobre esta primeira edição, a vereadora tinha já prometido uma segunda para novembro do próximo ano.

Quanto à adesão, estima-se que tenham passado pelas exposições várias dezenas de pessoas ao longo da semana. As escolas bracarenses também marcaram presença, o que fez com que quinta-feira, dia 17, se tornasse num dos dias mais movimentados do evento. Entre os participantes, estiveram também vários artistas nacionais de renome internacional e algumas promessas do mundo artístico.

As seis exposições fizeram-se acompanhar de colóquios, apresentações de livros, visitas guiadas e oficinas, para além dos concertos, sessões de cinema, teatros e performances diversos. Terminado o prazo destas, ainda é possível visitar as exibições de ilustração presentes na Casa do Crivo, até ao dia 3 de dezembro, e do Museu da Imagem, até ao dia 17.

Fotografia: Diana Silva e Hélio Carvalho (foto de destaque)