Partilhando o gosto pela música e pelo cinema, cinco amigos juntaram-se para aliarem a emoção de histórias à sonoridade da música. Assim nasceu o projeto Coração Noir. Para a banda, cantar em português é uma opção desde cedo assumida, por reconhecerem a língua como uma das melhores “heranças culturais”. A partilha de ideias acabou por dar origem ao primeiro álbum da banda – “Jogo de Sombras” – , que está no mercado desde setembro.

Deram ao primeiro álbum o nome de “Jogo de Sombras”. Qual o significado?

Os fortes contrastes de luminosidade com as respetivas sombras fazem parte da narrativa do “film noir” [subgénero dos filmes policiais], que é uma estética que procuramos associar aos Coração Noir, quer a nível visual, quer nos igualmente fortes contrastes sonoros que percorrem as músicas – o som também pode ser feito de luz e sombra…

Para quem ainda não teve a oportunidade de escutar as músicas deste álbum, o que pode esperar?

O “Jogo de Sombras” leva-nos através de uma viagem de histórias introspetivas. São personagens e narradores que povoam um universo inspirado no imaginário “noir” com romances impossíveis, “femmes fatales”, deambulações e excessos. O formato das canções permite contar histórias que deixam muitas portas por abrir, em que a sugestão musical complementa o texto. Por isso, as histórias podem ter múltiplas facetas e interpretações que gostamos de deixar à consideração de quem nos ouve.

“O formato das canções permite contar histórias que deixam muitas portas por abrir.”

O disco foi lançado há cerca de um mês. Qual tem sido o feedback do público?

Temos tido reações muito positivas, embora nos falte dar o salto para as apresentações ao vivo para chegarmos a mais gente. Uma boa receção dos fãs é o melhor que um artista pode ter. É sinal de reconhecimento pelo trabalho feito, a garantia de estarmos no rumo certo. Essa receção tem que ser retribuída, pois a música é de quem a ouve. Nós fazemos a música que gostamos de fazer, mas queremos que as pessoas gostem tanto de a ouvir como nós de a compor.

“Nós fazemos a música que gostamos de fazer, mas queremos que as pessoas gostem tanto de a ouvir como nós de a compor.”

O vosso primeiro single, intitulado “Coração Noir”, fez parte da banda sonora da telenovela “Coração d’Ouro”. Sentiram que, desta forma, conseguiram chegar a um público mais abrangente, dando a conhecer todo o vosso trabalho?

Sim, sem dúvida que muito mais gente terá ouvido esse tema, e também o “Ficar”, que está a passar noutra telenovela – “A Impostora”. E é para nós uma grande honra participar nessas produções cujo valor é reconhecido nacional e internacionalmente. O facto de serem líderes de audiência dá-nos também uma enorme satisfação por sabermos que muita gente nos ouve todos os dias. Embora muitas vezes os espectadores trauteiem as músicas sem saber quem somos…

Quanto ao projeto: como nasceu a banda?

Acumulamos já alguns anos de “estrada” na música e, embora alguns de nós tenhamos tocado juntos no passado, esta foi a primeira vez que nos reunimos os cinco. A génese e o rascunho das orientações sonoras e estéticas dos Coração Noir fermentaram durante um par de anos na cabeça do Pedro, até que se criaram as condições para avançar com o projeto. Essencialmente foi uma questão de se reunir o conjunto de pessoas certas que estivessem em sintonia com essas orientações. Quando o Pedro [Marques] fundou os Coração Noir, chamou o Jaime [Oliveira] para as teclas que, por sua vez, “recrutou” o Vasco [Corisco] – com quem já tocava. Na altura estávamos ainda com outra vocalista e a Pandora veio mais tarde. O Bruno [Vicente], que já tocava com o Pedro noutros projetos, entrou um pouco antes da Pandora, quando se sentiu a necessidade de enriquecer o som com as guitarras. E assim ficámos os cinco membros atuais da banda.

Por quê o nome “Coração Noir”?

O nome da banda inspira-se, como já dissemos, no “film noir”, onde se assumem ambientes escuros, mas esteticamente muito inspiradores, visual e sonoramente. Penso que falo por todos quando digo que o fascínio pela banda sonora é comum a todos. A forma como a música assume protagonismo nos filmes exerce em nós um fascínio muito forte. É por isso que tentamos dar à nossa música uma qualidade cinematográfica, ampliando os ambientes para onde os temas poderão transportar quem os ouve. O “film noir” tem características que consideramos comuns aos ambientes que procuramos recriar – a cidade, a noite, a “femme fatale”, as relações impossíveis…

Qual é a vossa principal inspiração a nível musical?

A nossa inspiração vem das fontes mais diversas e não podemos dizer que é só uma… Cada um de nós tem as suas. E a mistura dessas fontes dá origem a algo que no fim é muito nosso, em que por vezes nem se percebe logo o que está por trás. Por exemplo, a guitarra do tema “Coração Noir” foi buscar inspiração ao Johnny Cash; o “Amena Vertigem” começou com uma brincadeira à volta das bandas sonoras do John Carpenter; o “Fuga em Mim” respira Nick Cave…

“A nossa inspiração vem das fontes mais diversas e não podemos dizer que é só uma…”

Optam sempre por cantar em português. Sentem que em Portugal há falta de artistas que cantem na nossa língua?

É uma escolha assumida e um desafio. Fala-se muito do facto de o português ser uma língua pouco musical e com uma métrica difícil de ajustar a uma linha melódica e nós tentamos mostrar o inverso – o português pode soar muito bem na música, com a vantagem de assumirmos a nossa herança cultural. Se isso poderá limitar uma eventual projeção no estrangeiro? Logo se verá….

Que projetos têm para o futuro?

Para já, levar o álbum para o palco – tocar ao vivo é um prazer descomunal. Temos agendado o concerto de estreia, que será no dia 4 de fevereiro no Teatro Sá da Bandeira, em Santarém. (Apareçam!) Depois, logo se vê… E claro que já temos o segundo álbum em mente, mais uma aventura para este ano e o próximo.