O letreiro leva-nos para os típicos bares nova-iorquinos, onde o melhor do jazz já foi feito e descoberto. No entanto, não foi para lá que nos dirigimos. Foi em Guimarães que se fez o ponto de encontro dos apreciadores deste género musical. Na sua 25.ª edição, o Guimarães Jazz traz, de 5 a 19 de novembro, alguns daqueles que são considerados os melhores artistas contemporâneos, nacionais e internacionais.

Já a meio do festival, este sábado foi marcado pela formalidade do saxofonista Rudresh Maahanthappa e da sua banda, na apresentação do projeto “Bird Calls”. Um pouco antes, ao fim da tarde, o choro brasileiro dos tempos modernos dos Quatro a Zero fez-se ouvir.

O grande auditório do Centro Cultural Vila Flor (CCVF) juntava um apunhado de gente, num espaço quase lotado. Todos estavam a postos para ouvir o legado de Charlie Parker, com o toque característico de Rudresh. O palco achava-se bem composto pelos instrumentos acompanhantes – piano, contrabaixo, bateria e trompete. E, ainda que com reminiscências às raízes indianas do músico, a tradicionalidade do jazz mais remoto estava presente.

Bastou o primeiro sopro de Maahanthappa para dar forma, em palco, à correria citadina que o jazz nos faz lembrar. Quase sem pausas e sem fôlego, os músicos prendiam-se, durante longos minutos, aos seus instrumentos, provocando palmas sucessivas vindas da plateia extasiada. No fim dessas sequências ininterruptas, foram as toalhas pretas que socorreram o estafamento dos artistas.

Em cada solo, os restantes músicos petrificavam, ao mesmo tempo que apreciavam e focavam no que se ouvia. O contrabaixo a dedilhar as cordas loucas, o saxofonista sem respirar ou a percussão enérgica patentearam o amor em concerto, na noite de ontem.

Rudresh Maahanthappa fez questão de lembrar que o espetáculo não se tratava de apenas um tributo a Charlie Parker, mas sim de uma “devoção apaixonante” baseada no “Parker’s mood”.

Bem antes disso, no final da tarde, viajou-se até aos ritmos quentes de bossa nova, misturados com a contemporaneidade do jazz. A questão colocava-se: estamos no elevador de um Hotel em São Paulo? Ou num café-concerto de Curitiba? Não, o local era o pequeno auditório do CCVF. E foram os Quatro a Zero que nos transportaram até esses lugares.

A sala podia não estar preenchida, mas as batidas suaves do quarteto penetravam cada lugar vazio ou ocupado. A plateia era envolvida na leveza e descontração do choro brasileiro, que se transfigura nos vários sabores dos temas com nome de doces. “Papo Jambo”, “Bolacha Queimada”, “Pé de Moleque”, entre outros.

Os artistas estavam tão sintonizados como as notas que faziam. Cada um de olho um no outro. Tornavam-se cúmplices desse jazz com um toque carioca. Nas pausas das melodias, os brasileiros conversavam, em tom tranquilo, com o público. Gerava-se um ambiente muito familiar e descontraído.

No final da noite, como no resto dos dias, o público e os artistas juntaram-se no Bar Convívio para umas Jam Sessions. Até 19 de novembro sucedem-se mais concertos para disfrutar, nesta celebração de 25 anos de jazz em Guimarães.

Fotografia: Inês Paredes