A noite está fria, mas “o efeito das ruas aquece a alma”. Foram as palavras de José Cid acerca da decoração natalícia da vila. O espetáculo do passado sábado, na Casa das Artes de Arcos de Valdevez, não encheu a sala, porém, trespassou gerações. O teclar do piano acompanhou o canto ao longo das duas horas de concerto.
Passavam dez minutos da hora prevista. Faziam-se sentir o entusiasmo e a ansiedade de ver o “Zé Cid” pisar o palco. As luzes apagaram-se, as palmas encheram a sala e José Cid sentou-se ao piano. “Obrigado por me virem ajudar”.
Começou por aquela que foi a primeira música que gravou, “A lenda de El-Rei Sebastião”. Fez uma viagem no tempo do tema mais antigo para o mais recente, “Se Chico Buarque me cantasse um fado”. Tema este, inspirado num poema de António Tavares Teles.
O concerto decorria com muita interação do público, com o piano sempre como melodia de fundo.
José Cid mostrou versatilidade. Levou o público à Galiza com o “Sou galego até ao Mondego”, passou pelo fado cigano com “O fado da nossa senhora” e parou para falar ao coração com “Vem viver a vida, Amor”. O cantor aproveitou ainda para gravar um vídeo a publicar na sua página do Facebook.
Seguiu-se uma coleção de clássicos do artista e a nostalgia conquistou a sala de espetáculos: “No dia em que o Rei fez anos”, “A cabana junto à praia”, “Cai neve em Nova Iorque” e “Não acredito!”.
“Muitas vezes, em Portugal, defendemos muitas coisas estrangeiras e não defendemos as nossas”, interveio o artista português num discurso patriota. Dá o exemplo de Espanha, país onde também trabalha, como defensor da cultura nacional. E é neste idioma que canta “El Toro y La Luna”.
Voltou às baladas e à língua portuguesa com “Mais um dia” e “Um grande, grande amor”. Interpretou também “Amanhã de manhã”, das Doce, onde homenageou Tozé Brito. Cid sonorizou “Amor”, dos Heróis do Mar, num tributo a Pedro Ayres Magalhães.
Os pedidos de canções não pararam. Ouviu-se “Toque a Ontem, hoje e amanhã” e José Cid acedeu ao pedido da audiência calorosa.
“Senti-me útil”. O cantor e compositor relembrou aquele que considera o melhor concerto da sua carreira, um concerto em África para 300 soldados presentes da guerra colonial.
Entre muitas sugestões de temas, o público insistia no “Favas com Chouriço”, o nome mais popular do tema “A pouco e pouco”. E, “a pouco e pouco”, o concerto chegava ao fim. O cantor introduziu um tema de 1983 que, na altura, não foi bem aceite pelo público mais maduro. “Como é que um cantor de baladas escreve uma coisa assim?”, dizia entre risos. “Com o macaco gosta de bananas” soa na sala e o público dança sentado.
Já se ouviam bater os corações na música de Cid. O espetáculo terminaria com “A Minha Música”.
Soa a última nota do tema e a sala levanta-se para aplaudir com fervor o concerto, que já ia quase nas duas horas de duração. Ouviu-se o tradicional pedido “Só mais uma!”, José Cid entrou e disse: “Então, só mais duas”.
“Coração de papelão” e “Moinho” foram os temas que encerraram, de forma definitiva, o concerto de José Cid na vila arcuense.
Fotografia: Norberto Valente