A minha aventura Erasmus pode-se traduzir numa mudança de berços. No dia 9 de setembro, deixei o berço de Portugal e lancei-me para a maior aventura da minha curta vida, no berço de Johannes Vermeer. Delft, cidade natal da cerâmica holandesa, também conhecida como Delft pottery, é uma cidade típica holandesa: um pouco à semelhança de Amesterdão, o seu centro encontra-se varrido por canais, a arquitetura de tijolo predomina e existe um pouco de história em cada canto. Grande parte da cidade é alimentada pela TU Delft, uma das universidades com mais prestígio mundial nas áreas que aqui são lecionadas. Eu, estudante de Engenharia Biomédica, decidi enfrentar o desafio de fazer investigação e escrever a minha tese de mestrado em Delft, sabendo de antemão tudo aquilo que essa decisão acarretava. Ou talvez não. Mas já lá vamos.
O centro de Delft possui uma riqueza cultural e histórica incomensurável. William the Silent, grande impulsionador da independência holandesa no século XVI foi assassinado em Delft e, ainda hoje, nas paredes do Prinsenhof, se encontram as marcas das balas que o assassinaram. A Oude Kerk, um dos símbolos máximos de Delft, é uma igreja construída no século XIII que, um pouco à semelhança do que sucede em Pisa, se encontra inclinada. São exemplos de outras atrações a Nieuwe Kerk e a Town Hall. A cidade encontra-se envolvida numa tranquilidade constante e é bastante segura, sendo o crime mais comum o roubo de bicicletas.
No que à vida em Delft e, consequentemente, na Holanda diz respeito, e porque Erasmus geralmente é sinónimo de viagens e de party all night, vou começar por abordar estas temáticas. Primeiramente, as viagens: geograficamente, localiza-se entre duas das três cidades mais importantes da Holanda, Rotterdam e Den Haag. A outra encontra-se a pouco menos de uma hora de comboio: Amsterdam. Viajar na Holanda é muito fácil e é, em algumas circunstâncias, bastante acessível. Os comboios são extremamente confortáveis, os horários são cumpridos com precisão e existe Wi-Fi, o que nos dias de hoje é de extrema relevância. Todas as cidades têm personalidade, no entanto há algo que todas têm em comum, o ADN da Holanda. Os moinhos e as tulipas não abundam, contrariamente ao que se possa pensar, estando principalmente localizados em sítios específicos. Relativamente às festas, Delft não é a cidade mais festeira da Europa, mas existe sempre uma festa em todos os fins de semana, seja ela de maiores ou menores proporções. Relativamente ao custo de vida em Delft, arrendar um quarto é substancialmente mais caro do que em Portugal, enquanto que os preços de mercearia e afins são bastante semelhantes, talvez entre 10 a 20% mais caros. Jantar fora é uma experiência cara, comparativamente à realidade portuguesa. O comércio de rua é o mais predominante, não existindo praticamente centros comerciais. No geral, a qualidade de vida em Delft e, consequentemente, na Holanda, encontra-se acima da média europeia.
Em termos culturais, a diferença é grande relativamente a Portugal e à cultura lusa: começando nos meios de transporte, em que as bicicletas e os transportes públicos são os meios mais utilizados pelos holandeses e estrangeiros aqui a residir. Em termos gastronómicos, nem existe comparação: os próprios holandeses admitem que eles são uma nulidade na cozinha. Para se ter uma noção, os pratos típicos da Holanda são croquetes e uma espécie de roupa velha (os restos do jantar de Natal português) sem bacalhau. Mas, a maior diferença são talvez as condições meteorológicas. O frio é constante e a chuva não dá tréguas, sendo que é extremamente instável, o que torna um kit impermeável como a melhor compra que se pode fazer/que se é forçado a fazer na Holanda.
Miguel Braga