Os ataques voltaram à mesa entre os três candidatos à presidência da Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM), mas a concordância continua a ser muita. O debate, promovido pela primeira vez pelo ComUM, deixou de forma mais explícita as ideias das listas.

No entanto, uns candidatos mostraram melhor o seu lado que outros. Bruno Alcaide (Lista A), Diogo Cunha (Lista B) e Ana Ramôa (Lista C) trocaram comentários acesos, mas foi mesmo Diogo Cunha que acabou por acarretar com grande parte das críticas.

Todos querem o fim das propinas

Com o congelamento da subida do preço das propinas a ser chumbado no Parlamento, há ainda a possibilidade de subirem 30 euros na Universidade do Minho (UM). Algo que não agrada a nenhum dos candidatos que, pelo contrário, preferem ver o valor das propinas complemente eliminado.

Diogo Cunha considera que o facto da UM ter passado a fundação deveria abrir portas a um valor mais baixo de propinas, para que mais tarde “o valor tendesse para a gratuitidade”. Bruno Alcaide concordou com o candidato da Lista B, mas não sem “picar” o adversário: “Alguém andou a ler a minha entrevista ao ComUM”. O actual presidente da AAUM assegura que o valor de propinas para licenciaturas e mestrados integrados poderia ter aumentado nos últimos 4 anos, mas a actual direcção trabalhou contra isso. E quanto à proposta de Diogo Cunha em definir um tecto máximo para as propinas de 2.º ciclo, Alcaide afirma que a Associação Académica “não é competente” neste aspecto, mas pode sensibilizar a Reitoria sobre o actual contexto económico.

Já Ana Ramôa não deixa dúvidas nas suas declarações: “Está no momento de se iniciar uma luta pela descida das propinas, mas tendo em vista a sua extinção”. A candidata pela Lista C alertou que se deve deixar de acreditar que a fundação pode baixar o valor das propinas, e acusa Bruno Alcaide Bruno de andar “distraído por ter votado a favor da passagem a fundação”.


No balanço à Fundação, há união contra Cunha

Num dos assuntos mais controversos, relativamente à avaliação do primeiro ano de regime fundacional na UM, houve concordâncias estranhas. Diogo Cunha é direto e rápido a responder, afirmando que “não há nenhuma vantagem, até hoje, da passagem a fundação”. Ana Ramôa concordou no assunto, com a mesma proposta que já tinha feito em momentos anteriores: “somos contra a fundação, vamos abrir esta discussão, e vamos auscultar os estudantes”. “Deixem de mentir aos alunos [dizendo] que há benefícios, porque não há. Isto é privatizar, é elitizar. É a visão economicista do Ensino Superior”.

Mas a “aliança” mais peculiar do dia, foi entre Ana Ramôa e Bruno Alcaide, contra o candidato da Lista B. Cunha repetidamente afirmou que não votou a favor da passagem a fundação, enquanto esteve na direcção da AAUM. Como resposta, Bruno Alcaide desmentiu e disse que Diogo Cunha tinha, de facto, votado a favor, e ameaçou trazer as atas a público (algo que Ana Ramôa já tinha pedido).  Ramôa não deixou o assunto morrer sem atirar um último dardo ao alvo. “És da atual direcção e, mesmo dentro da tua lista, agora, há divergências, uns são a favor, outros são contra, portanto só aí não sei como é que arrumam todos para o mesmo lado”.

Ainda avaliando o aniversário do regime fundacional, Bruno Alcaide mostrou-se mais cauteloso, com uma resposta muito semelhante à que foi dada na entrevista ao ComUM. “Aquilo que se esperava de uma universidade que passa para um sistema de maior liberdade da gestão dos seus próprios recursos, e está capacitada com outro tipo de mecanismos, no contacto que faz com o tecido empresarial e no investimento externo, é de não tomar decisões como a das senhas de cantina ou de não tomar decisões num futuro próximo de aumentar propinas”.

A luta contra o aumento do preço das senhas é comum a todos os candidatos

O aumento do preço das senhas da cantina é um tema que se discute bastante entre os alunos da UM. Com a previsão da subida do salário mínimo para 557€, os candidatos à AAUM apresentaram as medidas que pretendem tomar para contrariar o previsível aumento do valor das senhas.

Relativamente a este aumento, Diogo Cunha afirma que a Lista B se compromete a tentar reverter o valor dessa mesma subida. No entanto, caso não seja possível cumprir o objetivo proposto, compromete-se “enquanto candidatura, a que esses custos sejam assumidos pela Associação Académica”.

Bruno Alcaide reforçou que a associação fez, de facto, pressão para que esse aumento fosse congelado. Afirmou ainda que “a proposta da Lista B em acarretar os custos levaria a um enorme encargo financeiro”, e a um consequente endividamento da AAUM. “É preciso ter muito cuidado”, aconselhou.

Já Ana Ramôa fez duras críticas ao atual presidente, acusando-o de comodismo, apatia e falta de luta. “Há 20% de alunos que não compram o pack, e ainda estão a suportar esse aumento” explicou. E criticou a proposta da Lista B, defendendo que “não tem de ser a Associação a acarretar esses custos. Isso é que é uma medida populista, isso é que é comprar votos”.

Os candidatos fizeram alusão às medidas que pretendem tomar para que o aumento do custo das senhas seja evitado, caso o salário mínimo suba. As opiniões divergiram e o debate intensificou-se.

Diogo Cunha afirmou que uma medida a tomar seria o enquadramento das senhas da cantina na ação social indireta. Bruno Alcaide aproveitou para corrigir Cunha, dizendo que caso o salário aumente, os 0,55% – do Indexante de Apoios Sociais (IAS) – não seriam os mesmos, pelo que a senha não seria a 2,30 euros, mas sim de um custo mais elevado. Terminou, dizendo que pretende ”fazer pressão junto do governo para se encontrar um programa estrutural de fundos e de financiamento para que os Serviços da Ação Social possam cumprir aquela que é a sua missão social”.

Ana Ramôa apoia a desanexação do preço das senhas do IAS, e acrescenta que se isso não for possível, tentará “apelar junto da Reitoria para que tenha a sensibilidade de entender o contexto económico presente, e que seja a Reitoria e os Serviços de Ação Social a suportar estes mesmos aumentos, e não o Fundo Social de Emergência ou a direção da Associação”.

Consenso e culpabilidade marcam tema das praxes

Questionados sobre qual será a posição da AAUM caso “o assunto praxe vier a ser discutido no Parlamento com o objetivo de a ilegalizar”, os três candidatos mostraram opiniões distintas, mas ainda assim consensuais.

Bruno Alcaide e Ana Ramôa declaram que não se revêem nas declarações  do ministro do Ensino Superior, Manuel Heitor, e ambos dizem que as práticas excessivas devem ser “combatidas”.

Diogo Cunha, que foi o primeiro a falar, também seguiu esta linha de pensamento, dizendo que caso o assunto fosse discutido na Assembleia da República deveria ser convocada uma Reunião Geral de Alunos para sondar os estudantes sobre o tema das praxes e sua possível ilegalização.

Os três candidatos em sintonia relativamente a uma coisa: defendem que, no caso de a praxe não interferir com o normal funcionamento das aulas, a mesma deve voltar a funcionar dentro dos campi da Universidade do Minho.

De onde vem o financiamento das campanhas?

Diogo Cunha é categórico na resposta: “O financiamento vem de cada um de nós [elementos da lista] e não de nenhuma entidade externa.” Tal como a lista B, também Bruno Alcaide garante que os fundos usados para a campanha da lista A provêm “do próprio financiamento dos membros da lista e, certamente, também de algumas entidades ou pessoas que se revêem no projeto”. Ana Ramôa admite também que o financiamento da campanha da lista C surge dos “donativos” pedidos a todos os elementos da equipa. “A nossa campanha está à medida daquela que é a realidade dos estudantes do ensino superior. Não temos brindes para oferecer, mas também não temos empresas para nos ajudar”, esclarece Ana Ramôa.

Os três candidatos estão também de acordo quanto à inclusão, nos Estatutos da Associação, de um financiamento às campanhas por parte da AAUM. “Deveria garantir-se o mínimo indispensável a cada uma delas”, refere Bruno Alcaide. No entanto, Ramôa alerta para que, caso seja estabelecido esse financiamento por parte da AAUM, este não pode “nunca condicionar as campanhas”.

Unanimidade quanto à revisão dos Estatutos da AAUM

Todos os candidatos afirmam ter a intenção de rever os Estatutos da AAUM, caso vençam as eleições. Diogo defende que os estatutos “não são muito claros” e refere-se à “passagem de Sandra Vaz a presidente da comissão eleitoral” como exemplo dessa falta de clareza. Afirma ainda que o regulamento eleitoral precisa também de se tornar mais claro e que deve ser feita uma mudança na localização das urnas de voto.

Contudo, Bruno Alcaide reage com alguma hostilidade face às propostas de mudança de Diogo Cunha. “É estranho que no último debate [Diogo Cunha] não tenha apresentado rigorosamente nada e que agora o que apresenta aqui sejam exatamente as mesmas ideias que eu apresentei no debate anterior”, aponta.

Quanto à revisão dos Estatutos da AAUM, Bruno assume que os estatutos se encontram “descontextualizados” e que “deve ser feita uma revisão, que, sobretudo, permita um enquadramento maior da participação dos estudantes na realidade da AAUM”.

Por outro lado, Ana Ramôa admite que a revisão dos estatutos “não é prioridade” para a lista C. No entanto, reconhece a existência de “lacunas” e que a mudança dos estatutos deve ser primeiro “discutida com todos os alunos”.

O apelo ao voto

“Não se deixem instrumentalizar por power banks, canetas ou isqueiros. Leiam os programas eleitorais”, refere Ana Ramôa. Também Bruno Alcaide incita a leitura dos manifestos eleitorais e alerta para que os alunos estejam atentos à existência de incoerências, nomeadamente quanto a “propostas de defesa dos direitos dos estudantes em órgãos que já não existem” e ainda “candidaturas a provas ou organização de atividades que não têm o mínimo enquadramento nacional ou europeu por já estarem atribuídas”.

Diogo Cunha também apela à leitura dos manifestos e ataca a atual direção da AAUM pelo incumprimento de algumas propostas do ano passado, referindo-se à criação da nova sede da AAUM e à construção de uma reprografia no pólo de Medicina. Mas Bruno Alcaide responde: “Podias ser sério com o compromisso que assumiste com a AAUM no início do ano”.

O debate terminou, assim, com o apelo dos três candidatos para que todos os alunos votem na próxima terça-feira, dia 13, e para que combatam, dessa forma, os elevados números de abstenção dos últimos anos.

 

Texto: Hélio Carvalho, Inês Moreira, João Pedro Quesado e Sofia Moreira
Imagem: João Pereira e David Rodrigues
Edição: Tiago Ramalho