Este é um dos filmes mais polémicos do ano, desde já pela escolha do título que faz alusão ao filme do mestre do cinema David W. Griffith, realizado em 1915 (considerado o epíteto do cinema de teor supremacista). É baseado na história verídica de Nat Turner, um pastor escravo que liderou uma revolta de negros livres em Virgínia, pagando na mesma moeda os horrores cometidos pela comunidade branca.

O Nascimento de Uma Nação é a primeira longa-metragem do ator e agora realizador Nate Parker, que demonstra o desejo de participar na linhagem de Steve McQueen e Spike Lee.

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O filme fica muito aquém das expectativas. O seu início é marcado pelo heroísmo ao estilo Amistad, mas com o dobro das ambições e realizado de forma algo desleixada. Fragmentos de 12 Anos Escravo vieram também à minha mente, com a diferença de que em Nascimento de Uma Nação, a criação do mito do herói fica incompleta e perde-se a oportunidade de construir algo mais compacto dentro do contexto histórico-social. A história torna-se apenas num misto de ação-reação. O problema maior encontra-se no argumento – é cheio dos clichés de herói e da sua luta pela liberdade do povo. O filme é a construção do sentimento de revolta da personagem principal, mas só vemos verdadeiramente as mudanças na última meia hora do filme. O clímax do filme é a concretização dessa raiva, mas essa sequência foi realizada de uma forma muito apressada e desleixada, que falha ao demonstrar a magnitude do que verdadeiramente aconteceu – parece mais um anticlímax.

Além do mais, não há maneira de nos envolvermos emocionalmente com as personagens secundárias, visto que o seu desenvolvimento é inexistente e elas apenas passam por figurantes na trama. Aliás, o protagonista foi também pobremente desenvolvido.

Mas nem tudo se perde aqui: a trilha sonora é bem interessante – obrigada Henry Jackman –, e a realização é algo consistente, apesar de ser um pouco dura e tropeçar em certas sequências, nomeadamente nas de sonho – não as deixa respirar devidamente. A sequência mais bonita seria a da retaliação contra os ex-escravos após a rebelião de Turner, com Strange Fruit de Nina Simone a tocar em pano de fundo: se eu pudesse escolher apenas uma cena deste filme, seria sem dúvida a dos escravos enforcados na floresta, onde o realizador faz um travelling algo apressado, mas consegue passar a mensagem. A palete de cores é outro dos pontos fortes: vive dos tons escuros e frios.

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O filme recebeu uma ovação longa e emotiva na sua estreia no festival de Sundance, tornando-senum dos filmes favoritos à corrida dos Óscares de 2017. No entanto, o mar de rosas evaporou-se quando trouxeram à tona, no verão deste ano, um processo em que Nate Parker esteve envolvido, juntamente com o coargumentista Jean McGianni Celestin, sobre a agressão e violação de uma rapariga, durante os anos da faculdade. O filme passou a ser alvo de boicote e foi retirado de muitos festivais mundiais. Enfrenta agora a resistência da parte da Academia Americana de Cinema para uma possível nomeação.

Parker pensa que fez o grande filme da sua vida, ainda que este seja bastante irregular, como é natural em todas as primeiras longas-metragens. Mesmo assim, O Nascimento da Nação é o épico da resistência negra e deixará a sua marca pela história lembrada. É um começo razoável para Parker.