Os ataques foram muitos, a tensão evidente. O primeiro debate da campanha eleitoral – promovido pela Comissão Eleitoral e pela Rádio Universitária do Minho (RUM) – viu pouca oposição de ideias, mas muita rivalidade entre os candidatos.

Durante hora e meia, Bruno Alcaide (Lista A), Diogo Cunha (Lista B) e Ana Ramôa (Lista C) debateram as suas ideias para a Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM) no ano de 2017. Entre “peditórios” e disputas de factos, os temas que afetam a vida dos estudantes saíram a perder.

Mais Ação Social, menos diferenças

O assunto que ganhou maior relevância ao longo do debate foi o da ação social, com Ana Ramôa a trazer o tema à discussão para alfinetar as listas A e B. “Sendo a ação social escolar o mecanismo que permite a frequência e o ingresso de vários estudantes que não têm condições económicas para frequentar o ensino superior e prosseguir os estudos, eu fico escandalizada como é que nenhum deles fala disto”, disse a estudante do mestrado de Comunicação, Arte e Cultura.

Após este alerta de Ana Ramôa, os três candidatos pareciam estar praticamente de acordo sobre esta matéria. Alcaide, Cunha e Ramôa concordam que é necessário um maior financiamento no Ensino Superior; querem ver aumentada a abrangência das bolsas; e evitar subidas no valor das propinas e no preço das senhas de cantina – as listas A e B concordam até que este deve manter-se em 0,55% do Indexante de Apoios Sociais (IAS), o equivalente a 2,30 euros.

As questões de cariz social tiveram mesmo como grande promotora a candidata da Lista C, que aproveitou a oportunidade para atirar culpas ao regime de fundação. Uma das medidas apresentadas por Ramôa foi mesmo “iniciar o processo de reversão” do regime fundacional, que culpabiliza pelos aumentos das taxas e emolumentos como o custo de frequência de unidades extracurriculares e a taxa de 300 euros para apresentar os doutoramentos diante de um júri.

Também sobre as bolsas de estudo as distâncias entre as candidaturas se mostraram mínimas. Diogo Cunha mostrou vontade em agir de forma a que os atrasos fossem “cada vez menores”; Ramôa acrescentou que a AAUM deve apoiar os estudantes que não têm possibilidades económicas até receberem a bolsa; já Bruno Alcaide garantiu que a AAUM tem denunciado os atrasos na entrega de bolsas de estudo, que diz que se devem à “complementaridade dos documentos que os alunos têm que enviar”.

Mas o que está mais fresco na memória dos estudantes e dos candidatos é mesmo o aumento do preço das senhas da cantina. Diogo Cunha acusou a atual direção de não se bater contra este aumento em Maio, e de em Novembro já se ter mostrado do lado da oposição, sendo que Bruno Alcaide prontamente desmentiu essa reviravolta de opinião. “Nas atas estão pormenorizadas as tomadas de decisão, e não a intervenção de cada um dos elementos. Nós apresentámos a nossa oposição, e junto do Governo tentámos garantir o congelamento da subida do preço da cantina.”

Um “peditório” muito peculiar

A discussão sobre a posição da AAUM quanto ao aumento do preço das senhas causou desde logo acusações mútuas de populismo entre Diogo Cunha e Bruno Alcaide. Mas já antes disso o debate tinha adquirido um tom acrimonioso.

Ainda não passavam dos 10 minutos de debate e logo surgiram as primeiras acusações. Bruno Alcaide foi quem abriu as hostilidades, na sua segunda intervenção. Numa questão sobre as prioridades de cada lista, após apresentar algumas das medidas previstas no seu manifesto, o candidato da Lista A acusou “outras listas” de apresentar, no seu projeto, propostas de candidatura a campeonatos nacionais e europeus universitários já atribuídos a outras universidades.

“Não vou comprar esta guerra, isto é algo que lhes diz respeito a eles os dois, não vou dar para este peditório.” – Ana Ramôa

Diogo Cunha, o candidato da Lista B, declarou, após apresentar também as suas prioridades, que todas as propostas são “para ser cumpridas no próximo mandato e não para serem deixadas consecutivamente de um mandato para outro”.

Prioridades para trás, o debate sobre a ação social também foi pautado por provocações e acusações entre os candidatos. Ana Ramôa acusou Bruno Alcaide de não dizer “uma única palavra” sobre os variados problemas da universidade. O candidato da Lista A respondeu já durante o debate sobre as saídas profissionais e desemprego, dando a entender que nenhum dos outros candidatos tinha estado presente em reuniões com alunos e presidências de escolas na procura de resolução para os problemas dos estudantes.

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Os minutos seguintes não terão sido agradáveis para Diogo Cunha. Após ter declarado que se revê em algumas das políticas da atual direção no que toca às saídas profissionais e emprego dos estudantes, o debate aqueceu instantaneamente com o tema dos prejuízos no Enterro da Gata de 2016. É que, enquanto Cunha falava da importância de “um clima de rigor e transparência” que considera necessário, Bruno Alcaide olhava fixamente para ele.

Mas não ficou por aí. O atual presidente da AAUM não perdeu tempo e, quando questionado sobre o mesmo tema, disse que quando alguém assume “um compromisso com a Associação Académica, assume cumpri-lo inteiramente durante um ano, e certamente que o Diogo teve a oportunidade de estar – teve oportunidade porque não esteve – em reuniões de direcção importantes para saber exactamente aquela que foi a realidade do Enterro da Gata”, acusando ainda Diogo Cunha de faltar a atividades da AAUM e de não apresentar a sua discordância em reuniões de direção.

“Não estaremos até ao fim da campanha a lavar roupa suja.” – Diogo Cunha

Entretanto Bruno Alcaide defendeu-se também de denúncias por Ana Ramôa da falta de disponibilidade dos documentos administrativos da associação, lembrando que tanto Ana Ramôa como Diogo Cunha não terão comparecido na Reunião Geral de Alunos (RGA) em que o relatório de contas foi discutido e aprovado. O candidato da Lista B, esse, preferiu salientar, quando questionado sobre o porquê da rutura com o “atual projeto”, a presença “positiva” da campanha. Disse que não estará “até ao fim da campanha a lavar roupa suja” e recusou com um simples “não” que houvesse ausência de si próprio e de elementos da sua lista nas atividades da AAUM.

No meio deste ping-pong, onde ficava Ana Ramôa? Também aponta o dedo a Diogo Cunha como o faz a Bruno Alcaide? “Sendo que o Diogo faz parte da actual direcção, tenho de as fazer [as críticas] também. Mas não vou comprar esta guerra, isto é algo que lhes diz respeito a eles os dois, não vou dar para este peditório”.

“Uma pessoa, quando assume um compromisso com a Associação Académica, assume cumpri-lo inteiramente durante um ano” – Bruno Alcaide

Foi nesta altura que os candidatos puderam colocar diretamente questões entre si, e a pergunta de Bruno Alcaide a Diogo Cunha não podia ter sido mais direta: quais são as dez medidas de alteração ao regime jurídico das instituições de ensino superior que a Lista B “pretenderá defender” relativamente às propinas e ao regulamento académica? O líder da Lista B respondeu: “Como é óbvio, na altura em que apresentarmos um plano de actividades, depois de ganharmos as eleições, iremos apresentá-las todas elas.”

Apesar de tudo, os pontos comuns existem

O tom ríspido do debate não impediu, no entanto, que os três candidatos estivessem de acordo em algum tema. Esse tema foi o da nova sede da AAUM, uma ideia já antiga que não tem sido concretizada. E todos concordam que é necessário diálogo com a Câmara Municipal de Braga e que estar mais perto do campus de Gualtar é uma prioridade, assim como dar mais e melhores condições aos grupos culturais.

Já sobre uma possível revisão dos estatutos da associação, apenas Diogo Cunha e Bruno Alcaide respondem positivamente. O candidato da Lista A aponta para o campo de ação da AAUM e o capítulo dos processos eleitorais como partes dos estatutos que necessitam de revisão. O candidato da Lista B diz que há “imensos pontos” onde alterações são possíveis.

O debate não terminaria, no entanto, sem mais picardia entre os dois membros da atual direção. “Sem folha” foi a pequena frase que Bruno Alcaide proferiu quando Diogo Cunha iniciava a sua declaração final; e, no final, quanto às senhas, disse que “alguém não pegou no documento atualizado”.

Bruno Alcaide, Diogo Cunha e Ana Ramôa têm novo encontro para debate marcado para quinta-feira, dia 8 de dezembro, na Sala de Atos do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho. O debate é organizado pelo ComUM.

Texto: João Pedro Quesado, Hélio Carvalho