O auditório ficou às escuras. “O nome dele é Salvador, mas nunca salvou ninguém”, anunciou uma voz. Para surpresa de muitos, a afirmação deu início ao espetáculo de Salvador Martinha, na passada quarta-feira, no Theatro Circo, em Braga. Salvador afirma-se um “Tipo Anti-Herói”, cujo espetáculo é em torno do seu nome e de muitos outros temas, que surgiram em palco, numa conversa informal com a interação do público.
Olhares curiosos. Sorriso no rosto. Foi assim que se recebeu Salvador Martinha. Ligaram-se as luzes. O pano subiu. O Tipo Anti-Herói apareceu com a máscara de Herói. As gargalhadas fizeram-se ouvir. “Como é que é? ‘Tá tudo fixe? Está tudo bem na primeira fila?”, pergunta, admitindo que gosta “de interagir com o público”. Aqueles que chegavam tarde ao espetáculo foram tema de conversa. “Ui… Casaco de pelo… Muito bem”, disse. Uns ficavam envergonhados, outros respondiam aos comentários. Cada vez que chegavam pessoas, interrompia o espetáculo para serem alvo de conversa.
Salvador Martinha admite que não gosta de anedotas, pois “não têm muita graça” e “têm de ser explicadas”. Revela que sempre teve problemas com o seu nome. “Então, Salvador Dalí?!”, por exemplo. Quanto ao seu apelido, diz que não gosta mesmo: “Martinha… Martinha?! É nome de boneca de pano”. Nesse momento, uma criança riu-se. “Veem? Uma criança, que estava sossegada este tempo todo, até se riu do meu nome”. Enquanto Salvador, disse que sentia “a necessidade de ser um herói”, sendo “uma espécie de criminoso que quer fazer o bem”.
Os temas foram desenvolvidos numa conversa informal com o público. Falou-se das relações homem-mulher e pai-filho. “Os homens são magros ou gordos. As mulheres são gordas ou têm retenção”, brincou. “Os homens não sabem fazer massagens” e, “quando ficam doentes, parece que estão a morrer”. Elogiou as mulheres e seguiram-se aplausos. Por outro lado, as mulheres também foram alvo de brincadeira: “Elas insistem para vermos um filme com elas”, mas “quando olhamos para o lado, está um cadáver a desenvolver uma cascata de água”. Quanto à relação pai-filho, revelou que gozou muito com o seu pai, mas ele “também não ajudava para evitar isso”. Contou diversos acontecimentos, o que encheu a sala de gargalhadas.
O Anti-Herói relevou que se inspira nos seus amigos, quando vai ao café com eles. “Tenho um amigo que anda com várias raparigas, mas nunca sabe o nome delas. Sabe as profissões”, logo, “ele anda com profissões”. “Quando quer engatar uma mulher não vai para o Tinder, vai para o LinkedIn”.
Falou sobre os amigos que combinam um ponto de encontro, mas não aparecem. Pediu para imaginar como seria o reencontro, e assim o público acompanhou-o, cantando a música “I Believe I Can Fly”. Colocou à prova o sentido de humor negro do público com a atualidade: “é o mesmo tempo de reação como um camião em Nice”. Foram poucos os que se riram. “Isto era só para perceber o vosso sentido de humor negro”, disse.
Finalizou o espetáculo com um episódio ocorrido com um espanhol. Depois de diversos confrontos, foi suficiente recorrer ao futebol para terminar a discussão: “Sou Campeão da Europa”. Aplausos fizeram-se ouvir.
Atuar em Braga fez-lhe sentir que tinha de saber informação sobre a cidade. Descobriu que “há uma Junta de Freguesia de Santa Tecla” e pediu, em tom de brincadeira, para repararem “no poder que as tecnologias têm”. “Adoro esta cidade. Obrigado, Braga. Obrigado.”
No final, aplaudiu-se de pé, ouviram-se assobios e subiram os sorrisos à cara dos presentes. As pessoas não saíram de imediato dos seus lugares. No público comentava-se ter sido um evento “muito bom” e “melhor do que se esperava”.