“Deus não gosta de nós”. Quem o lê está numa inception de ficções. Hank Moddy, a personagem irreverente da série “Californication” escreve-o, e nós, leitores do “mundo real”, lemos e acompanhamos a história da criação de Hank.
À capa, cola-se o rótulo de “bestseller internacional”, tal como acontece na série. Hank Moody é um escritor – atraente para muitos, insuportável para outros tantos – que educa a sua filha, sendo ela o “produto” de uma relação com mais inícios e fins dos que possamos imaginar.
Nesta obra, as semelhanças à vida de Hank são incontestáveis. Temos, portanto, a paisagem citadina de Nova Iorque e nela, um jovem-adulto que desiste da universidade, tendo de lidar com as idiossincrasias do seu quotidiano. E mais o quê? Uma relação amorosa destrutiva. A adaptação ao trabalho de drugdealer. Uma família disfuncional, protagonizada pelo seu pai bêbedo e infiel, e pela mãe doméstica e doente. Muito sexo. Muitas pernas de supermodelos. Umas quantas F words. Muita droga. E muito rock n roll.
E não se estende a mais do que essa lembrança do quão espontâneo e caótico foi o percurso da personagem principal de “Californication”. A descrição é tão “a galope” e drástica, que chega a roçar aquilo que poderá ser o ridiculamente improvável.
Sim, já percebemos, o mundo está contra ti e a culpa é de Deus. Então, que fazer, se não torná-lo ainda mais “bagunçado”, acrescentando personagens sem sentido, vindas do nada. A verdade é esta, vemos personagens que avançam na história, e são conotadas com sentimentos que surgem sabemos lá de onde.
Calma, não é assim tão mau. Se assim fosse eu teria logo parado e não estaria para aqui a escrevinhar. As típicas referências enquadram o leitor naquilo que é o estilo de vida do séc. XXI, e a ficção não se distancia assim tanto da realidade. Ouvimos Rolling Stones, Ramones e imaginamos a derradeira cena de Sid e Nancy na varanda do “Chelsea Hotel”.
Este é um tipo de leituras para aqueles dias em que a preguiça fala alto e, para não carregarmos o seu peso, lemos histórias de Hoje. Sem grande conteúdo, mas que, sem sombra de duvida, entretêm.
Digamos de passagem que, também não é a assistir “Californication” que se aprende as mais diversas lições de vida. A não ser, recorrendo ao espirito Moody, que “ninguém é virgem e a vida f***-nos a todos”. Obrigada Kurt Cobain.
“Deus não gosta de nós”
Hank Moody
Clube do Autor
2014