“Muito mecanizado e confuso” surgem como os principais argumentos dos mais céticos. “Facilita a vida ao árbitro e traz transparência à modalidade” são as razões apresentadas pelos pró-tecnologia no futebol. Falamos de modernização, quando -a não ser para a transmissão através dos média – o futebol nunca precisou dela.

O vídeo-árbitro já é dado adquirido no râguebi, por exemplo, e agora é tema de conversa no futebol, nos média e no café. É costume, aos domingos de manhã, ler o jornal fora de casa e, entre galões, torradas e “favaios”, apreciar as conversas, normalmente, sobre futebol.  Um diálogo entre o proprietário e um dos clientes do costume despertou-me interesse pela análise esmiuçada da última jornada da Liga NOS. Juntos faziam uma espécie de rescaldo. Lances polémicos sempre existem e eis que um possível vídeo de auxílio ao árbitro surge na conversa. O proprietário defendia a implementação do vídeo-árbitro no futebol, lá está, a favor da transparência do futebol. “Tudo para o árbitro se safar, não?”, solta a pergunta em jeito de resposta.

Se em 2018, o executivo de Gianni Infantino decidir a favor do vídeo-árbitro, quem sai a perder são as conversas domingueiras no Café Teixeira. O vídeo-árbitro começa a ser assunto no café, no futebol e nos média a partir do momento em que os árbitros servem de “bodes expiatórios” para os erros dos jogadores, dirigentes e treinadores.  Carlos Xistra, João Capela e Bruno Paixão são alguns dos nomes que já serviram de desculpa para as derrotas, para a complicação nas contas do título e até como remédio para atenuar a azia – sim, azia -. Isto serve para Benfica, Porto e Sporting, como para o Paços de Ferreira, Tondela e Belenenses. Serve para todos.

A ideia é melhorar o jogo, não o prejudicando. Não sei se a tecnologia oferecerá o melhor dos dois mundos. Parece-me óbvio que para sua proteção, na mais ínfima dúvida, os árbitros recorrerão ao vídeo-árbitro para, como é costume, não verem o seu trabalho posto em causa nas conferências de imprensa e para os jornais desportivos não se servirem dos seus erros para fazerem manchete. Cada paragem, entre explicação aos jogadores, análise do lance, decisão e conversão requer uma interrupção de, sensivelmente, dois minutos. É necessário ver o lance de vários ângulos e em câmara lenta. É demasiado tempo de pausa, mas curto para um árbitro avaliar com precisão. De parte está colocada a hipótese de mostrar as imagens às duas equipas em campo.

Portugal é um dos muitos países que têm feito experiências com o vídeo-árbitro. Na cidade do futebol vão-se fazendo ensaios e os jogos ente Benfica e Real Massamá, Vitória SC e Vilafranquense foram cobaias do vídeo-árbitro, mas tudo em modo “offline”. Mas o que acham os principais protagonistas do vídeo-árbitro?

Era suposto isto ser um editorial, mas chamemos-lhe antes um artigo de opiniões. Durante sete dias formei uma equipa. A pergunta era simples: “qual a tua opinião sobre o vídeo-árbitro?”. De teorias bem fundamentadas, a preocupações incertas sobre onde e como a tecnologia pode beneficiar o futebol, não chegamos a um consenso. São 12, quatro jogadoras, sete jogadores e um dirigente que já foi treinador.

A opinião de José Viterbo, coordenador de formação da União da Madeira

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“No futebol existe uma tendência generalizada para todos falarem sobre tudo, porque dar opinião não tem preço. É de borla! Quero deixar bem claro que tudo o que seja para beneficiar a transparência do futebol, aplaudo. Contudo, parece-me pouco oportuno ter uma opinião de algo que ainda não vi, não ‘vivi’. Se me falarem de algo objetivo como a tecnologia da linha de baliza, é tão óbvia que só os menos sérios a podem rejeitar.

Quanto ao vídeo-árbitro, vamos ver em que circunstâncias. Tudo o que seja quebrar o ritmo ao jogo é maléfico. Por exemplo: nos casos concretos e factuais como o fora de jogo, totalmente de acordo, porque é uma ação instantânea. Nos casos de decisão subjetiva como as grandes penalidades, já coloco as minhas dúvidas. Por isso, devemos dar algum tempo para a implementação desta tecnologia e só depois dela estar consolidada, dar uma opinião concreta”.

Não valeu. Repete!

Penáltis, golos, identidade trocada e cartões vermelhos são as quatro situações que podem ser revistas pelo árbitro. Discute-se que outros lances – foras de jogo mal tirados, por exemplo – também deveriam de ser incluídos nesta lista.

Cabe à FIFA a decisão, mas dirigentes, árbitros e jogadores têm uma palavra a dizer sobre o assunto. Não nos esqueçamos das palavras proferidas por Zidane aquando do jogo entre Real Madrid e Atlético Nacional no Mundial de Clubes. O galáctico, Luka Modric espera que o vídeo-árbitro “não vá para a frente” e em Barcelona, Rafinha fez uma analogia com o futebol americano.

Ecos chegam da Alemanha de que o vídeo-árbitro será implementado na Bundesliga já no arranque da temporada 2017/18. O diretor de arbitragem da competição, Helmut Krug referiu que o “vídeo-árbitro vem ajudar em todo o tipo de decisões, seja na marcação de grandes penalidades, faltas ou foras de jogo”.

A tecnologia tem sido testada na presente temporada na liga alemã, mas ainda em sem qualquer influência nos jogos. Os árbitros alemães têm tido formações para se habituarem a um software – Portugal tem feito o mesmo – que na próxima época já estará online.

Não me agrada a ideia de um futebol em modo web 2.0, mas talvez as pausas -como agora os erros -, passem a fazer parte do espetáculo. Porventura será como diz o outro: “é uma questão de hábito”. A minha opinião, enquanto adepto, de pouco vale. Apesar de os verdadeiros entusiastas do futebol também saírem afetados.