Uma casa de banho sórdida. Um homem a lamber um martelo. Mais as batidas do noise experimental. É a equação sinistra que resultou das misturas densas de Vessel e das projeções analógicas de Pedro Maia, ontem, no GNRation. Braga já havia recebido, noutros tempos, este dueto do som e vídeo experimental. Desta vez, e de tronco vestido, Vessel torna a encher a Blackbox de famintos pelo transcendente.

Vessel, ou Sebastian Gainsborough, chega à sala com a lanterna do telemóvel ligada, a apontar para os imensos cabos e fios do seu sintetizador. O português Pedro Maia senta-se no canto direito do palco, de computador aberto. Ouvem-se os primeiros ruídos a combinarem-se, enquanto imagens de interferências fazem de pano de fundo.

O insólito das imagens aumenta ao mesmo tempo que o peso do som. Mais do que a fazer tremer as paredes da Blackbox, estavam as projeções de Maia, a inquietar o subconsciente da plateia. Corpos nus, sangue, martelos, sacos plásticos sufocantes passam atrás de Vessel. O sexual e o perturbador unidos à eletrónica assemelharam-se àquilo que poderiam ser os pesadelos mais intrínsecos do ser humano.

Vessel e Pedro Maia estão ligados ao antigo e quase natural. Vessel faz as suas montagens, em direto, de captações de sons do ambiente. Maia usa o vídeo analógico, de fitas de 16 e 8 mm, sobrepondo, em digital, as cenas desconcertantes filmadas. A junção destas duas formas resulta na criação de um mundo profundo.

Um espetáculo que desperta múltiplas sensações, com uma intensidade elevada, mas que desperta nos apreciadores uma necessidade de viver, de sentir, de querer mais. Alberto Dias, de 24 anos, refere, contudo, que estes 50 minutos “souberam a pouco”. O desejo era de permanecer mais algumas horas naquela estranha viagem.