Jermaine Cole, ou J. Cole, é um dos nomes grandes do rap. Depois de ter conseguido com o seu penúltimo álbum, 2014 Forest Hills Drive, ser o primeiro artista, em mais de 25 anos, a atingir a platina (1 milhão de vendas), sem qualquer participação no seu projeto, parece caminhar para conseguir o mesmo feito com o seu quarto álbum de estúdio, 4 Your Eyez Only, que já ascendeu a disco de ouro, com mais de 500 mil vendas.
Vendas à parte, este último, lançado no final de 2016, é mais um excelente trabalho por uma das grandes referências atuais no hip-hop. Porém, depois de o ouvirmos na íntegra, ficámos com a sensação de incompletude, com uma impressão de “podia ser melhor”. Com J. Cole, a expetativa tem sempre de ser alta, esperando-se uma constante superação artística, e se é injusto classificar este último projeto como um passo atrás relativamente ao 2014 Forest Hills Drive, na verdade não se pode também afirmar que tenha dado um salto qualitativo considerável.
Nele, J. Cole consegue ir do genial ao demasiado simples. De uma sensibilidade notável a alguma lamechice.
Comecemos pelo positivo. A construção do fio condutor é fantástica, personificando um amigo dele falecido, a quem ele presta homenagem neste trabalho, algo que só nos apercebemos para o fim do mesmo. Em músicas como “Immortal”, “Déjà vu”, “Change”, debate-se com lutas interiores de quem viveu nas ruas submergidas em violência e em crime, dando voz a alguém que perdeu a vida nessa luta. Mas dá sempre espaço para contar um pouco da sua perspetiva, alguém que se desviou desse estilo de vida tumultuoso, usando a caneta como arma. É alguém que sofre mas doutra forma, pela fama e o que lhe é inerente, pelo desejo de ser mais valorizado, acreditando precisar de morrer para se imortalizar verdadeiramente.
Em flows articulados, em refrões por si cantados, com uma métrica apuradíssima, cada vez mais afirmando o seu estilo, em beats mais soft e com jazz à mistura (“Ville Mentality”), J. Cole faz ainda revelações e dedicatórias. Para além da homenagem ao amigo falecido, Jermaine revela ter sido pai e dedica à filha e à esposa duas músicas semelhantes, com alto tom emotivo, “She´s Mine Part.1” e “She´s Mine Part 2”.
O ponto alto vem com a música homónima ao álbum “4 Your Eyez Only”. Mais de oito minutos de uma faixa que revela todo o propósito do álbum. Não interessam vendas ou críticas. Interessa deixar um testemunho do falecido amigo para a filha do mesmo, mas também aproveitar para transmitir lições à sua recém-nascida.
Negativamente, ainda que seja pouco comparado com o que de bom traz J. Cole, referir apenas a curta dimensão do álbum. Dez faixas sabem a pouco, o facto de ter promovido o mesmo com dois singles, altamente promissores, mas que viriam a não ser incluídos, “False Prophets” e “Everybody Dies”. Além disso, “Folding Clothes” é algo pirosa e demasiado simplista, sendo a mais limitada do álbum.
Em suma, J. Cole tem um belíssimo álbum, com uma grande ideia conceptual e com tributos a quem lhe é querido, porém o produto final não enche as medidas e este trabalho, ao contrário do que se esperava, não consegue superar o enorme Forrest Hill Drive 2014. Ainda assim, J. Cole mantém-se como um dos melhores, e tão cedo não deixará esse estatuto.
4 Your Eyez Only
J. Cole
Dreamville Records, Roc Nation e Interscope Records
2016