Começava o outono e Bon Iver presentaram o público com 22, A Million. O mais recente álbum da banda norte-americana tem estado nas bocas do mundo pelo seu carácter expressionista e complexo. Uns vêem na produção de 22, A Million uma confusão de sons aleatórios. Já eu, a conjugação perfeita de harmonias.

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A produção do álbum rompe com a de For Emma, Forever Ago e Bon Iver, Bon Iver. Os pormenores eletrónicos, as back voices, os elementos abstratos e as melodias tão distintas, que tão bem se complementam, elevam 22, A Million e formam um álbum mais ambicioso, complexo, intenso e introspetivo. As vozes do álbum parecem celestiais e feitas de vidro. Acordes, teclas e ritmos unem-se, criando músicas inacreditavelmente únicas, singulares e francamente boas.

Da excentricidade do álbum resultou a nomeação para o Grammy de Melhor Álbum de Música Alternativa, ao lado de nomes como Iggy Pop, PJ Harvey, David Bowie e Radiohead.

22, A Million acaba por afirmar Justin Vernon como o extraordinário compositor e cantor que é, com maior capacidade criativa, mais maturidade e que vai com certeza marcar a atual geração de músicos. Assim, Vernon deixa de ser mais um músico agarrado a uma guitarra e passa a ser um verdadeiro artista. Depois de três álbuns, o músico norte-americano tem garantido o seu lugar na música indie, no folk e, agora com 22, A Million, no indie-eletrónico.

As letras e as vozes são também a expressão de um álbum maior. Mais profundo e complexo, mais transparente e genuíno. Em todas as músicas é percetível a força, emoção e um pouco de sim mesmo que Justin Veron coloca na interpretação de cada música, tornando-as realmente extraordinárias. 33 “GOD”, 00000 Million, 8 (circle) e 666 ʇ são apenas exemplos de músicas belíssimas e ímpares, todas extraordinariamente enquadradas num álbum marcado pela emoção e pela constante pele de galinha.

São uns simples acordes de uma guitarra que dão o mote para “29 #Strafford,”. A seguir, entra Vernon com “Sharing smoke / In the stair up off the hot car lot” e é assim que começa mais uma intensa letra de 22, A Million. Depois começam as teclas e Vernon avança para o refrão “A womb, an empty robe, enough / You’re rolling up, you’re holding it, you’re fabric now / Para-mind, para-mind.” A parte final é carregada de encanto e magia, muito pela energia com que é cantada: “I hold the note, you wrote and know /You’ve buried all your alimony butterflies”.

Na letra de “715 – CR∑∑KS”, ouve-se repetidamente “I remember something”, como se a música fosse o trazer à memória fragmentos de uma história ou realidade passada. No final,And I see you Turn around, you’re my A teame, depois, com mais força e alguma raiva (God damn, turn around now You’re my a-team). Estes últimos segundos são, talvez, o ponto alto de todo o álbum: é um momento intenso e carregado de emoção, como não se encontra em mais parte alguma. A particularidade desta música é parecer não ser acompanhada por nenhum instrumento. A voz de Vernon, modificada por elementos eletrónicos, torna a música igualmente ritmada e bela.

Nos últimos segundos de “21 M◊◊N WATER”, ouvem-se beeps, sons que lembram o caos de uma urbanização e qualquer coisa que se sintoniza. Os últimos momentos de “21 M◊◊N WATER” são o auge da peculiaridade do álbum e a representação pura do futurismo em forma de música.

Alguns críticos de música vêm em 22, A Million o resultado desastroso da conjugação de sons estranhos e aleatórios, e uma forma mal conseguida de fazer indie eletrónico. Se a meu ver este último trabalho de Bon Iver é o clímax de algo maior, para outros é demasiado próprio e confuso. 22, A Million é um correr de risco que a ver de muitos correu mal, mas que para tantos outros correu soberbamente bem.