Após cada álbum lançado, os Animal Collective criam um EP, quase como uma breve reflexão depois das longas produções. The Painters é essa reflexão, uma continuação de Painting With, lançado em Fevereiro do ano passado, mas é também um introitus do que há-de vir para os experimentalistas.

pitchfork.com

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Com apenas quatro músicas, e pouco menos de 15 minutos, The Painters não foge muito à confusão de alegria e experimentalismo electrónico que tanto caracterizou o último álbum dos Animal Collective. Tudo o que nos leva a pensar em Painting With, especialmente no que toca à união das vozes de Noah Lennox (“Panda Bear”) e David Portner (“Avey Tare”), está aqui bem presente.

Mas se Painting With demonstra quase sempre um crescendo em cada música, uma alegria contagiante (embora algumas vezes confusa), caracterizada por uma recorrência a sons primitivos, tornados electrónicos num estúdio em Los Angeles, The Painters começa semelhante, mas entriste-se antes do excelente final.

O EP abre com “Kinda Bonkers”, o primeiro single, que imediatamente nos leva a pensar em “FloriDada”, graças à constante troca e complementação de vozes já referida entre “Panda Bear” e “Avey Tare”. Mas se “FloriDada” tinha uma alegria contagiante, e uma palavra “catchy”, dançável e quase viciante, “Kinda Bonkers” acaba por cair numa certa monotonia, e a alegria inicial perde-se rapidamente. Falta uma linha de baixo mais forte (que até existia no início da música) e que dê real profundidade à música, e a repetição do refrão no final não resulta da mesma forma que resultou com “FloriDada”. A mensagem é forte (“Unity of all kind, unity of all kind”), mas acaba por se perder num tema que não acelera o pulso a ninguém.

A segunda faixa traz “Peacemaker”, um crescendo leve e sustentável. O início é típico Animal Collective, com os músicos a intercalarem as suas vozes brilhantemente, e a completarem as frases um do outro. É um tema mais soturno, mas a melodia dos primeiros versos talvez se prolongue mais do que devia. As transições modais nos refrões são muito bem conseguidas, e deixam um certo misticismo no ar até ao final da música, que termina num limbo. Não é bom, nem mau, mas cria alguma ansiedade para a próxima música.

Se tiver que escolher uma música favorita neste EP, tem de ser “Goalkepper”. O início é muito estranho e incoerente, mas quando chegamos ao refrão, apanhamos com uma explosão de energia. É contagiante e energético, e imensamente forte. Se precisasse de músicas para apresentar Animal Collective, usaria esta música, que rivaliza francamente com “Golden Gal”, de Painting With, em brilhante experimentalismo e alegria pura.

O final de “Goalkepper” transita-nos de uma forma muito smooth para “Jimmy Mack”. O órgão de Brian Weitz (“Geologist”) no início da música é genial ao criar antecipação para que a música se desenvolva. Quando finalmente arranca, é um clímax de excelência electrónica. Há finalmente um baixo forte e bem presente a suportar a melodia, e é uma música mexida e bem apelativa, que termina muito bem este The Painters.

Jimmy Mack” é possivelmente o final desta fase dos Animal Collective, que começou depois de Centipede Hz (2012). The Painters é um trabalho que começa de forma acidentada, mas que vai melhorando de forma exponencial. Não é brilhante, nem é genial. É apenas uma boa composição, que se ouve bem por ter apenas um quarto de hora.

The Painters soa a conclusão, depois de tudo que temos ouvido nestes últimos cinco anos por parte do trio de “Panda Bear”, “Avey Tare” e “Geologist”. E se há coisa que temos conseguido prever por parte do já lendário grupo, é que todo o álbum novo consegue ser uma produção completamente nova.