Em plena Avenida Central bracarense, as pessoas cruzam-se como flechas, céleres e obstinadas no seu trajeto. Ao passar pela fachada do Museu Nogueira da Silva, há quem abrande apenas o suficiente para olhar de relance, através da parede envidraçada da galeria da Universidade do Minho. Outros chegam mesmo a travar o passo e entrar no Museu. “É possível ver a exposição?”, perguntam na receção. A resposta é sempre afirmativa: as exposições temporárias nesta unidade cultural da instituição universitária minhota são de ingresso livre. A exposição do momento intitula-se “de futuro” e é da autoria de Rui Horta Pereira.
O sol de fevereiro ilumina o interior da galeria. As paredes brancas estão forradas de folhas de papel com 100×70 cm, onde foram desenhados formas e padrões intrincados. Contam-se 85 desenhos no total.
As obras retratam figuras de traços grotescos e ameaçadores, que evocam em simultâneo órgãos e engrenagens. Estas figuras parecem escapar à bidimensionalidade, extravasar o papel, interagir umas com as outras e interpelar o observador. Uma nota de contextualização sobre a exposição refere: “São vestígio e fruto do progresso, da evolução e da velocidade que imprimimos à nossa existência e, talvez, uma forma de pensar sobre o que ela já é e o que será de futuro.”
O artista tem vindo a defender de forma pública que criação e ação são indissociáveis, o que se reflete em opções tais como a do material de desenho. Todos os trabalhos que compõem “de futuro” foram executados com recurso a óleo de motor queimado, símbolo dos tempos de azáfama e combustão acelerada que se vivem na atualidade.
Segundo Miguel Duarte, diretor do Museu Nogueira da Silva, esta exposição reúne “um conjunto de trabalhos enredados em Rui Horta Pereira, na sua reflexão e síntese expressiva que pressupõe um trabalho profundo”. O dirigente atribui ao conjunto de obras “um caráter fortemente simpatomimético”, que despoleta reações intensas por parte do público, mas ressalva que “as exposições não se realizam para obter uma repercussão imediata no pensamento ou ação do visitante”.
O balanço da afluência do público à exposição, aberta desde o dia 7 de janeiro, é positivo. “Tem sido bem recebida, com um bom índice de visitantes”, afirma Miguel Duarte.
A ligação entre a arte e a consciência social, ética e ambiental, alinha-se com a missão do Museu Nogueira da Silva. Trata-se de “realizar um trabalho de educação e sensibilização pelo contacto com a Arte do passado e do presente, de forma a levar à compreensão da Arte como um todo”, nas palavras do diretor.
“De futuro” corresponde à primeira exposição de Rui Horta Pereira acolhida por Braga. Este artista, nascido em 1975 e natural de Évora, é formado em Escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Desde 2000, tem vindo a desenvolver projetos artísticos sobretudo nos âmbitos do desenho e escultura.
A exposição estará presente no Museu Nogueira da Silva até amanhã, aberta a visitantes dispostos a parar por uns segundos e questionar o seu rumo. Os estudantes da Universidade do Minho têm a oportunidade de visitar não só as galerias de exposição temporária, como também o Museu e jardim, de forma gratuita.