Volcano é o segundo álbum de estúdio dos Temples, lançado no início deste mês. Composto e produzido, na íntegra, pelos quatro membros da banda de rock britânica, foi um trabalho muito aguardado pelos fãs. Todos queriam saber o que viria após o marcante Sun Structures, álbum que introduziu o grupo ao mundo, em 2013.
Desta vez, assumem um papel mais próximo do principal, deixando a forte demarcação das influências respirar um pouco. Evoluem para uma textura charmosa, articulada intrinsecamente com melodias envolventes, construtoras de um espaço harmónico viciante. Mestres da técnica, os Temples executam um trabalho de escrita cativante, brindando-nos, mais uma vez, com um som difícil de confundir.
“Certainty” é o primeiro single do álbum: marca o início de uma tremenda combinação do analógico com o sintetizado, que se verifica ao longo de todo o álbum. Uma música que fica no ouvido graças às suas melodias tão bem sucedidas. Não nos traz nada de novo em termos musicais, mas deixa-nos num mood mais bem-disposto, que é o que acontece quando nos deparamos com pop de bom gosto.
A segunda faixa, “All Join In”, caracteriza-se por um ambiente espacial e quase flutuante, o que de um modo interessante, é contradito pela letra (“someday soon there’ll be nothing left for you to laugh about, are we having fun yet?”). Passa por mudanças tonais constantes, peculiaridade típica dos Temples. Segue-se “(I Want to Be Your) Mirror”, analogia a uma reflexão sobre o passado e o futuro. A voz aguda do tenor, James Bagshaw, destaca-se sem exagero, no meio das guitarras psicadélicas.
Num registo mais acústico, sereno, chega-nos “Oh the Saviour”. Mas, como não podia faltar, as teclas sintetizadas cumprem o seu papel no refrão. É a faixa onde surge, pela primeira vez, uma referência ao nome do álbum: “Mr. Sound falls like a mountain, Like a volcano erupting, On a boat on the molten lava”. O single “Born Into the Sunset”, apresenta progressões repetitivas, um pouco cansativas, embora não seja mau por isso. A meio surge uma variação necessária, quase como um suspiro, ou uma respiração: “born of the night ,born of the night, measuring miles, everyone smiles”.
Irrompe uma pergunta introspetiva: “How Would You Like to Go?”. Escuro, com acordes diminutos repentinos e psicadélicos, que nos despertam a atenção. “Where we’re bound to go?”, Bagshaw responde: “Underground, you know”.
A sétima faixa do trabalho intitula-se “Open Air”. Tem uma sonoridade familiar antiga, dos anos 70 ou 80. Com padrões rítmicos mais acelerados, ouvimos, finalmente, harmonia vocal na segunda estrofe. Termina com uma contínua repetição do refrão, em jeito de motivação a quem ouve, e que melhores tempos virão: “say what you will, don’t water down, with the tears, of your old frown, move to see, the open air”.
“Mystery of Pop” é divertido e irreverente. Assemelha-se quase a um género de música tradicional ou popular. A recriação digital de flautas e flautins concedem uma sonoridade estranha de ‘pop medieval’. “Most want to know, that they’ve listened to the best of Bowie, and that’s the way that pop must go”, sublinham os Temples, referindo-se a uma das suas maiores e evidentes influências.
O penúltimo single, “Roman Godlike Man”, é uma das composições mais interessantes de Volcano. Deve-se muito à frase “never a Roman god-like man inside of your museum”, e introduz uma sonoridade atonal, construída por meios tons frásicos.
O álbum termina numa nota positiva com “Strange Or Be Forgotten”. “Abstain from the passing fashion, if fame is really an illusion then, be strange, strange or be forgotten”, declara a banda britânica. Questionam-se acerca da importância da tão valorizada singularidade artística, e se não fará mais sentido celebrar, somente, a nossa própria estranha individualidade. Seja ela qual for, tendo ela valor de unicidade ou não. Parece-me uma boa conclusão, e um símbolo de crescimento dos Temples enquanto criadores.
“Henry’s Cake” é uma faixa bónus da edição japonesa de Volcano. Lançaram ainda outro single bónus destinado à edição especial da Fnac em França, intitulado “Fortune”. Ambas as músicas foram interpretadas ao vivo em diversos concertos da banda.
Volcano é um trabalho interessante, onde os Temples demonstram, mais uma vez, as suas capacidades técnicas exímias. A ordem das faixas é coerente, tem uma lógica construtora de uma ideia clara. Vejo-os como investigadores que analisam o passado do rock psicadélico, com uma grande capacidade de assimilação. Há quem diga que não é essa aptidão que concede autenticidade estética a alguém, mas os Temples fazem o seu trabalho de uma forma tão única que é difícil não gostarmos de uma ou outra música deles.
Charmoso e simpático, Volcano é a prova do sucesso repentino da banda no passado, amostra da sua evolução presente e, esperemos, contínua.