Trata-se de um olhar sobre a sociedade e os costumes do século XIX. Numa noite onde o teatro reinou, festejou-se o Dia Mundial do Teatro, com a peça teatral “Justiça”, escrita por Camilo Castelo Branco. A encenação ficou a cargo da Companhia de Teatro de Braga (CTB).

À porta recebia-se a “Gazeta da CTB”. Enquanto se aguardava para entrar, muitos estavam focados na leitura do jornal. As pessoas entravam e sentavam-se de forma gradual.

Antes de começar o espetáculo, deu-se um tempo de reflexão. Rui Madeira, encenador e diretor da CTB, surgiu em palco acompanhado de uma senhora ligada à companhia. Ambos apresentaram passagens sobre “o poder do teatro” de vários autores, como da francesa Isabelle Huppert. “O teatro protege-nos, abriga-nos. Creio mesmo que o teatro nos ama, tanto como o amamos a ele”, leem.

As luzes apagaram-se. O pano subiu. Deu-se início ao espetáculo. “O meu amor foi para o Brasil”, tema de Ana Moura, fez-se ouvir. O HP Hotel era o espaço principal da peça. Inês, a um canto, ouvia o que, os dois amigos, Luiz d’Abreu e Pedro da Nóbrega conversavam. “Tu tratas muito mal as mulheres…”, dizia Pedro. Inês, ao longo de toda a peça, revela-se intensamente apaixonada por Luiz. Este, que a tirou de casa “há dois meses”, não mostra compaixão por ela. “O que te falta?”, pergunta Luiz. “Falta o teu amor”, grita Inês.

D. Maria, proprietária da pensão, entra em palco. Ao rir-se de todas as situações a que assiste, gargalhadas fizeram-se ouvir. Chega com um jornal na mão e lê a notícia a Inês. Esta fica a saber que sua mãe talvez “se tenha suicidado”. Ao longo de toda a peça, Inês vive numa agonia e tristeza imensa. Maria, contudo, despertou várias gargalhadas cada vez que contracenava.

Fernando Soares, o brasileiro rico, apresentado por Pedro a Luiz, aparece em cena. Outrora um “fidalgo muito pobre”, agora um “brasileiro rico”. É nesta personagem que, na obra camiliana, é revelada a apologia do safe-made man: com o seu trabalho e mérito conquista o poder. Luiz tentava passar uma boa impressão.

A mãe de Inês, Miquelina de Campos, aparece em cena, vestida de preto. Inês fica feliz pelo reencontro. “Fez ontem dois meses que a deixei”, diz a filha. “Senti arrefecer o coração do homem que amei”, acrescenta. Miquelina fica incrédula quando vê um homem com quem teve uma história: Fernando. Noutros tempos, desejou fugir com Miquelina, mas esta optou por não fugir de seu pai, que era contra a relação devido às diferentes classes sociais. Inês é a filha que Fernando pegara ao colo “com três meses”. A cumplicidade entre Miquelina e Fernando ainda existe. “Como esta mulher foi bela… Passaram-se só vinte anos…”, diz o homem.

Foi Luiz, “o sedutor de virgens”, que raptou Inês de sua mãe e, depois de Fernando descobrir, fala com Luiz. Neste diálogo há a crítica à sociedade que “está corrompida”. “Os franceses é que sabem viver. Aqui é necessário educar a sociedade”, acrescenta Luiz. “Justiça” é feita, no fim, quando Luiz paga pelos erros que cometeu. O Administrador tem ordens para prender Luiz, mas é Fernando que acaba por ser preso.

No final da noite, aplausos fizeram-se ouvir. Mais do que uma vez, os atores foram a palco receber os aplausos, que foram retribuídos com vénias. “Obrigada”. O drama “Justiça” estará em cena até ao dia 30 de março, no Theatro Circo.