O mais recente disco, “Pruridades”, assina-o como “Ângela Polícia”. O pseudónimo não tem explicações intelectualizadas ou interventivas, como se podia esperar. Roubou-o, apenas, ao próprio nome – Fernando Manuel da Ângela Polícia Fernandes. Para ele, o hip hop existe desde criança. “Foi dos primeiros estilos musicais que comecei a ouvir por mim mesmo.” Ao mesmo tempo que começava a ouvir hip hop, no sexto ano, começava a dar poesia na escola. “Está tudo ligado”.

Fernando Fernandes não é nenhum desconhecido na cena musical de Braga e de Portugal. Vocalista dos Bed Legs, conta que a banda começou em 2011 numa jam session em Coimbra. Cinco anos depois, o álbum Black Bottle levou-os a palcos como o do Paredes de Coura, valeu-lhes uma nomeação para o IPMA (International Portuguese Music Award) e presença no Canandian Music Week. Mas Ferna não ficou pelo rock e abriu-se a outros estilos e projetos.

Sempre foi um puto das ruas. Gostava de brincar, jogar com amigos, conhecer novas pessoas, novos bairros, novos sítios. O que fala nas letras de “Ângela Polícia” é mais interventivo e vem das realidades que vai vendo. “Ambientes negativos da nossa sociedade, famílias desequilibradas, a fome, as dificuldades económicas, as doenças. São coisas que não deixo que me passem ao lado porque é algo que desde criança me chocou e eu tenho necessidade de falar disso. A realidade até é mais violenta que as minhas próprias letras”.

Mas “Ferna”, como é conhecido, não vê “Ângela Polícia” só como hip hop. Trata-se antes de uma fusão urbana de vários estilos. Nunca foi “gajo de um estilo só”. Filho de pais angolanos, desde cedo estabeleceu uma relação com a música africana.  Na busca por um “sentido na música” andou de grupo em grupo. “Dava-me com rockeiros, pessoal do punk, do metal, drum ‘n’ bass, transe, reggae… Nunca fui preconceituoso”.

O projeto “Amante Negro” é outra das suas aventuras. O músico diz que se trata de uma fantasia, uma projeção e ainda não tem datas. “O ‘Amante Negro’ é o projeto que eu não falo, ele não me deixa”, brinca. Fernando faz ainda parte do coletivo do “Projéctil”. O atelier que aluga com amigos está na base de todos os projetos. “Já fiz algumas batidas e acabei algumas letras de ‘Ângela Polícia’ no ‘Projéctil’. “Bed Legs” já ensaiou lá e gravou todos os videoclipes lá”.

O que liga todos estes projetos diz ser a paixão pela música e a necessidade de se expressar sobre diversos temas. “Se não me expresso sobre um tema num projeto, expresso-me noutro.” Reconhece que todos os trabalhos têm um bocado dele, mas com uma máscara própria. “Alguns são mais próximos do que eu sou, outros que tento que não sejam tanto como eu, porque quero que seja outra coisa”.

“Pruridades” sai na próxima segunda-feira, 20 de março, editado pela “Crate Records”, e a apresentação será dia 8 de abril, no Sé la Vie. Considera 2017 como um ano prioritário para Ângela Polícia e para “O Amante Negro”. Mas avisa: “Ainda vou aparecer com muitas surpresas”.